Na
história do aconselhamento bíblico, os puritanos eram conhecidos como “médicos
da alma”. Na crença popular, o termo puritano traz consigo uma imagem de um
legalista, estraga-prazeres, farisaico, fundamentalista e um caçador de bruxas (aquele
que vive procurando erros teológicos). O termo puritano denotava aquele que
queria purificar a adoração da Igreja e a vida dos santos. O puritanismo inglês
surgiu por volta de 1560.
O
que me chama atenção do movimento dos puritanos é o seu compromisso radical de
viver para glória de Deus. Foram pessoas
de esperança, valorosos obreiros e grande sofredores do evangelho.
As
Escrituras constituíam a peça central do pensamento e da vida puritana. Para o
puritano, a Bíblia era, na verdade, o bem mais precioso que há neste mundo.
Para eles não haveria maior insulto ao Criador que negligenciar Sua Palavra
escrita. Para os Puritanos, a Bíblia era suprema em tudo, inclusive na prática
do aconselhamento. O método de aconselhamento era centrado nas Escrituras. Eles
recusavam introduzir teorias psicológicas estranhas no aconselhamento.
O
sermão do puritano servia como meio de aconselhar de forma coletiva. Para eles,
se os santos não fossem edificados pelo sermão, então a Palavra não havia sido
pregada.
O
sermão puritano era dividido em duas partes: doutrina e prática, ou seja, o
sermão era tanto profundo teologicamente quanto intensamente prático. Cada
sermão deveria conter doutrinas explicadas com aplicação imediata na vida das
pessoas.
Os
puritanos ficariam assustados em ver a igreja de hoje, pois eles tinham um
anseio consumidor por Cristo, não tinham tempo para a busca da auto-satisfação.
Eles amavam a Deus, não viviam ocupados com suas próprias necessidades,
diferente de nós que vivemos na “geração do eu”.
O
crente puritano procurava sensibilizar sua consciência para com o pecado. Eles
viam a consciência como nosso sistema nervoso espiritual – a dor da culpa
informa a compreensão de que algo está errado e carece de correção. Para os
puritanos, a culpa negligenciada significava destruição certa. Mas veja o que
um pastor contemporâneo chamado Joseph Prince, em seu livro Destinados a Reinar, de autoajuda “cristão”,
diz sobre a consciência:
Pare de examinar a
si mesmo e de procurar pecados em seu coração...a existência da culpa e da
condenação em sua vida mostra que você não acredita que todos os seus pecados
foram perdoados...hoje os cristãos não têm motivos para viver com uma
consciência de pecado, porque Jesus, sua oferta definitiva pelos pecados, já os
tirou deles...o caminho para sair da consciência do pecado é ouvir mais
ensinamentos sobre a obra consumada de Jesus (PRINCE; 2012, p.176,181,182)
Resumindo
o pensamento de Prince: “pare de ser tão consciente de seus pecados, Jesus já
perdoou todo eles”. Livro recomendado por Brian Houston, Pastor Sênior da
Igreja Hillsong, outra igreja em decadência.
Muitos
evangélicos de hoje têm substituído o realismo bíblico dos puritanos por uma
concepção rasa e superficial do pecado. O pecador tem sido reclassificado como
vítima, não sendo, portanto, pessoalmente responsável por suas ações. O pecado
é o transferir da adoração a Deus para a adoração ao eu.
Grande
parte do aconselhamento puritano concentrava-se no problema do pecado. Os
conselheiros puritanos sabiam que aquilo que as pessoas menos queriam ouvir era
o que elas mais precisavam ouvir.
Já
tive o desprazer de ir em um consultório de um pastor formado em psicologia,
lembro que nas sessões ao expor meus problemas, eu não fui responsabilizado em
nenhum momento pelos meus pecados, aliás, ele nunca citou a palavra pecado nas sessões,
não houve sequer aconselhamento bíblico, mas sua abordagem era tentar tranquilizar
minha consciência com relação ao meu pecado. Seus conselhos na verdade eram
conselhos dos ímpios (Sl 1), oriundos da psicologia secular. Se eu tivesse
seguido tais conselhos, eu teria manchado meu coração, meu casamento e minha
família com tanto lixo recebido ali. São
pessoas que não tem condições nenhuma de aconselhar outros.
Os
puritanos não lutavam contra demônios, mas contra si mesmos. A mortificação
significava as obras do corpo (Rm 8:13). Mortificar significa tirar toda a
força, o vigor e o poder do pecado, de modo que ele não possa agir por conta
própria ou se impor na vida do crente (MACHARTHUR, MACK; 2004, p. 57).
Sem
convicção/consciência do pecado não há arrependimento genuíno. O arrependimento
verdadeiro é “um operar em nossos corações que produza tal pesar que torne o
pecado mais odioso a nós do que a punição, até que dirijamos contra ele uma
santa violência” (Richard Sibbes).
Precisamos
ter o compromisso de pregar o verdadeiro evangelho de Cristo. Nosso sermão deve
ser semelhante ao sermão puritano, exortando a pessoa a mortificar o pecado por
meio da contrição, confissão e arrependimento. O aconselhamento deve ser
bíblico, pois se ensinamos autoestima e necessidades não satisfeitas, o foco do
aconselhamento é sujeitar a vontade do homem e não a imagem de Cristo. Precisamos
pregar o que as pessoas precisam ouvir e não o que elas querem ouvir. Precisamos
praticar a santificação por meio da teologia (reformada), e não via psicologia.
Precisamos
tomar cuidado com sermões que focam somente nas histórias de Jesus, dizendo-se
“cristocêntricos”, quando na verdade não passam de registros históricos sem
profundo conhecimento teológico e sem aplicação imediata na vida da igreja. Isso
só é possível para aqueles que andam em comunhão com Cristo, em santidade.
MACARTHUR,
John; MACK, Wayne. Introdução ao aconselhamento bíblico: Um guia básico de princípios e práticas de
aconselhamento. São Paulo: Hagnos, 2004, p. 41-63.
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