Em Juízes 19 vemos um texto bíblico que se parece com um filme de terror. É um período difícil, não há liderança, não há nas pessoas o temor do Senhor e cada um faz o que é reto aos seus próprios olhos.
A
história começa falando de um levita peregrinando pela terra de Efraim que
passa por Belém e toma uma concubina para si. Há uma crise, ela se aborrece
dele e volta para sua casa em Belém de Judá. A crise durou uns 4 meses.
Não
sabemos se ela foi infiel ou se aborreceu por algum outro motivo. O fato é que
ela se foi por um tempo e o levita foi atrás dela para retomar o
relacionamento. Não parece que ele quer reatar um relacionamento amoroso, mas ter
de volta um corpo para se alegrar, uma posse.
Ele
vai até a casa do pai da moça para lhe falar ao coração, e fica ali quatro dias
com uma hospitalidade exagerada, e no quinto dia ele vai embora com a concubina,
seu servo e dois jumentos.
Quando
passam por Jebus (nome antigo de Jerusalém), seu servo sugere que eles passem a
noite ali, mas o levita não achou seguro passarem à noite em lugar pagão, pois esta
região ainda estava nas mãos dos cananeus devido Israel não ter terminado a
conquista desta terra como deveria.
Sabe-se
lá o que os pagãos são capazes de fazer, ele deve ter pensado! Por isso preferiu ir
para uma cidade israelita em Gibeá, na tribo de Benjamim, terra do povo do
Senhor. Mas algo estranho está para acontecer. Como num filme de terror.
Eles
não conseguem hospedagem ali. Parece uma cidade fantasma. Que estranho, foram
para uma cidade de Israel justamente para se sentirem mais seguros, mas tiveram
que ficar na praça. Então aparece um homem velho que os convida para pousarem
em sua casa.
Quando
estavam na casa do senhorzinho, homens da cidade vieram bater na porta. Homens depravados,
gente má que não vale nada. Eles queriam abusar do levita. Então o senhorzinho da
casa vai negociar com eles, e sua oferta é bizarra.
Ele
sugere entregar a mulher do levita e a filha virgem dele para eles se
divertirem, em vez de entregar o homem. Estranho isso não? Para esses dois
talvez as mulheres valessem menos do que eles, vai saber.
O
homem velho e o levita tinham a opção de lutar e de se sacrificar pela vida de
sua filha e de sua concubina. No entanto, vemos homens covardes desejando sacrificarem suas
mulheres pelo seu próprio bem-estar.
Isso
é o oposto de cuidar da mulher como parte mais frágil (1Pe 3:7). É o contrário de
amar a mulher como a si mesmo e estar pronto a se entregar por ela, como Cristo
fez pela igreja (Ef 5:25). O levita está prontinho para entregar sua mulher
para os estupradores.
Uma
cena muito parecida com a de Gênesis 19:8 quando Ló ofereceu suas filhas aos
homens de Sodoma que queriam abusar dos anjos que Deus havia enviado para
avisá-los sobre a destruição da cidade. Felizmente isso não aconteceu!
Agora
estamos em Gibeá. Essa cidade israelita se tornou em uma “Nova Sodoma”. Nessa cidade
os benjamitas agem como pagãos. Nem o velho efraemita e nem o levita agem como homens
de Deus.
Infelizmente
eles entregam a concubina aos estupradores que abusam dela a noite inteira,
enquanto o levita, seu marido fica na casa, quentinho e protegido. Homem covarde
e sem valor, não fez o que deveria fazer para proteger sua esposa: lutar até o
último sopro de vida.
De
manhã a mulher cai desfalecida a porta da casa de onde estava seu marido. Ele simplesmente
diz para ela se levantar e ir. Que coração morto, que desumanidade! Para piorar,
ele sequer faz um funeral apropriado para ela. Com um cutelo ele corta a mulher
em pedaços e envia um pedaço dela para cada parte de Israel.
Este
filme de terror se deu em Benjamim, não foi em Sodoma. Isso aconteceu em
Israel, não na Babilônia. Não foi em um bairro da pesada ou em um baile de carnaval,
mas no acampamento da igreja.
Muitas
vezes os abusos acontecem no próprio lar. O pior é que muitas vezes isso
acontece dentro das igrejas. O risco é real para a igreja que abandona o
caminho do Senhor. Muitas igrejas protagonizaram inúmeros escândalos desse
tipo.
Mas
Deus é o justo juiz que pune o mal. Muitos acham que podem se safar dos abusos cometidos.
Mesmo que as autoridades da terra não percebam, e ainda acobertem esse tipo de
gente, aos olhos puros e justos do Senhor, o mal não vai prevalecer.
A
condescendência com o pecado dos nossos é um problema sério. Há uma tendência
de fechar os olhos para o mal quando estes são dos nossos. Essa conivência com
o erro dos que são de casa, com os que estão ao nosso lado é perversa aos olhos
do Senhor. Quando fazemos isso estamos sendo leias ao mal, não ao bem.
É
preciso vigiar e orar. Ensinar os filhos. Treinar líderes que apreciam e
exaltam o evangelho. Existem muitos crentes nominais dentro da igreja. Têm conversa
de crente, batismo de crente, mas não tem coração de crente. Não nasceram de
novo. São lobos em pele de cordeiro.
Jesus
prometeu atrair sua amada igreja para si, para falar ao seu coração (Os 2:14) e
limpá-la da sua sujeira e idolatria (Ef 5:25-27). Ele não entrega sua amada
para ser destruída e se esconde, ao contrário, ele se entrega em lugar de sua
amada, para morte de cruz.
Nossa esperança está nele. Oremos para que as mulheres e crianças sejam protegidas e os homens não venham a se acovardar.
REFERENCIAL TEÓRICO
NETO, Emílio Garofalo. Vale da sombra da morte: Cristo nas piores histórias bíblicas. Brasília: Monergismo, 2024.
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