Enquanto estivermos andando neste mundo caído não devemos baixar a guarda. Não devemos achar que acabou. Nunca chegará um ponto em que poderemos dizer: “pronto, a época de dificuldades acabou”. Quem cria filhos sabe disso.
Primeiro
vem a fase da mamadeira, cólicas, dores do nascer os dentes, vacinas. A criança
começa a engatinhar e os pais começam a colocar proteções nas janelas, quinas,
tomadas. Em seguida a criança vira adolescente e os problemas mudam. Mais tarde
enfrentam o mundo, trabalho, estudos, casamento etc.
Quando
chegamos a aparente estabilidade financeira o corpo começa a falhar. Você vai
ser tentado achar que a jornada está quase no fim e que poderá relaxar. Mas não
faça isso, não baixe sua guarda mesmo quando chegar a “terra prometida”.
Nossa
ausência e passividade afetam nossos filhos e podem trazer amargas consequências
e sofrimentos. Em Gênesis 34 vemos a história do patriarca Jacó. Neste momento
ele já é um homem transformado por Deus em Israel (Gn 32:22-32). Tudo indica um
final feliz da Disney.
Mas
esta história toma rumos sombrios como também pode acontecer em nossas vidas. No
final de Gênesis 33:18-20 ele se estabelece em Siquém e levanta um altar ali. Cerca
de vinte anos antes, ele havia feito um voto em Betel de voltar para a terra de
seus parentes (Gn 28:18-22). Em Gênesis 31:13, Deus o lembrou de seu voto e o
chamou para voltar à terra prometida.
Onde
você vai morar? Ao analisar uma proposta de emprego você considera a
proximidade de igrejas sadias para seus filhos? A possibilidade de amizade e casamento
de seus filhos? Nesta cidade, sua filha Diná é abusada por um príncipe chamado
Siquém (Gn 34:2).
Sua
família não cuidou dela adequadamente. Como pais, temos a responsabilidade de
proteger nossos filhos. E nossas escolhas muitas vezes os colocam em risco. A cidade
que escolhemos, o lazer que escolhemos, a igreja que escolhemos, o que fazemos
como o nosso tempo e dinheiro.
Tudo
isso colocará nossos filhos em certos caminhos. Jacó não se saiu muito bem como
pai orientador e protetor. Ele foi ausente e passivo nessa situação. Seu silêncio
também foi um problema, pois quando fica sabendo do abuso, ele espera seus
filhos voltarem (Gn 34:5).
Às
vezes é mais fácil ficar paralisado e ver o circo pegar fogo, esperando que
outros apaguem o incêndio. Diná era provavelmente uma adolescente entre 13-15
anos que resolveu ir à cidade para ver como as meninas viviam ali apenas por curiosidade.
Ela
está sozinha, numa situação de risco. Lá ela é atacada por um príncipe da
cidade. Não se engane, nascimento nobre não significa retidão moral. Aliás,
foram precisamente os sofisticados e eruditos de Israel que crucificaram Jesus.
Ele
ataca e violenta sexualmente esta jovem. Siquém e seu pai Hamor buscam algum
tipo de acordo para aliviar a situação. Hamor não parece ter repreendido seu
filho, pois busca usar desse acontecimento para conquistar a amizade de Jacó.
O
rapaz se apaixonou pela mocinha que ele estuprou e ainda quer se casar com ela.
É mais uma situação de homens poderosos fazendo o que querem e tratando pessoas
como mercadorias e peças de barganha. É um acordo de paz onde houve ruptura
pelo pecado.
Jacó
fica quieto. Ele não deveria aceitar tal coisa. Os irmãos dela quando souberam do
caso ficaram indignados e irados corretamente, pois esta é a resposta
apropriada contra o mal.
Ai
daquele que perde a capacidade de se indignar com a perversidade do mundo
quebrado. Quando passamos a achar massacres, estupros e violações da lei de Deus
algo corriqueiro e normal nosso coração já está muito danificado pelo mal.
Jacó
poderia ter agido com verdade e amor. A verdade contra a injustiça, exigindo
punição ao estuprador e reparação a Diná. Mesmo que autoridades se calem,
devemos ficar do lado da verdade, jamais do erro. Com amor, falando sobre o
Deus que perdoa pecados e muda corações.
Os
irmãos de Diná respondem com indignação ao problema, contudo, eles disfarçam
sua ira pecaminosa em busca de justiça. Armam uma cilada com uma suposta
solução como instrumento de vingança sangrenta.
Infelizmente
Jacó parece estar mais preocupado com o que isso possa trazer para ele do que com
o problema em si, pois sua preocupação é como as pessoas ficarão bravas com ele
(Gn 34:30).
Muitas
experiências e desilusões com pessoas nas quais esperávamos que viessem nos
amar e proteger podem nos ansiar por conhecer o verdadeiro amor e cuidado de
Deus.
REFERENCIAL
TEÓRICO
NETO, Emílio Garofalo. Vale da sombra da morte: Cristo nas piores histórias bíblicas. Brasília: Monergismo, 2024.
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