Em 2013, uma
pesquisa da Associação Americana de Psicologia, apontou que a geração Y
(nascidos nos anos 1980 e 1990, conhecida como millennials), é a geração que mais sofre com o estresse nos EUA.
Segundo a pesquisa, as pressões quanto ao trabalho, dinheiro e relacionamentos
têm tirado o sono destas pessoas, sendo uma boa parte diagnosticada
clinicamente como deprimida, chegando a uma necessidade de medicação.
O “burnout” é uma
nova palavra que tem sido utilizada para um velho problema que diz respeito ao
esgotamento. Esta síndrome, envolve sentimentos de desinteresse, indiferença,
apatia, ódio, tédio, confusão, cansaço e perda de motivação. A pessoa chega ao
ponto de fatiga mental, emocional, física e espiritual (Wayne Mack)
Somos criaturas limitadas, assim como as luzes de
advertência do painel de um carro servem para indicar um defeito, precisamos
estar sensíveis aos sinais de alerta (esgotamento) quando estas luzes de
acenderem em nossas vidas como: mudanças físicas, mentais, emocionais,
espirituais e relacionais. Existem situações
de vida que temos pouca ou nenhuma escolha/controle como: enfermidade,
luto, perdas, conflitos, injustiça, responsabilidades, envelhecimento que podem
causar nosso esgotamento. Porém, nosso estilo
de vida pode desencadear sérios problemas de estresse, e neste caso temos
alguma escolha em situações que, em grande parte, podemos controlar, como:
avareza, dívidas, perfeccionismo, idolatria, orgulho, indisciplina, dieta
alimentar, dieta da mídia, preguiça etc.
Precisamos ser
humildes em admitir nossas fraquezas e honestos com nossos cônjuges, filhos, pastores,
chefes e amigos quanto ao ajuste que devemos fazer em nossas vidas devido ao
envelhecimento e outros fatores. Muitas pessoas se sentem culpadas quando
reduzem seus compromissos, e outras se sentem preguiçosas quando precisam andar
mais devagar. Não adianta correr demais e não conseguir chegar ao fim da
corrida, precisamos educar nossa consciência de que o descanso faz parte da
nossa natureza humana criada por Deus (Êx 20:8-11).
A palavra sabbath significa “descanso”. Desde a
criação do mundo em Gênesis 2:1-3, Deus estabeleceu um dia de descanso onde as
atenções deveriam ser direcionadas somente para Ele, e não somente isso, mas
para dar alívio aos trabalhadores e os animais. Se não dermos espaço para o
descanso em nossas vidas excessivamente ocupadas, uma doença, uma pneumonia, um
câncer, um ataque cardíaco, ou um acidente, criarão um tempo de descano para
nós.
O sono é um raio x
da nossa vida espiritual que afeta diretamente nossa vida física. Quem se
orgulha de dormir pouco para trabalhar mais, acaba revelando que não confia em
Deus com relação ao seu trabalho, igreja e família. O trabalho em excesso quase
sempre está enraizado no ego, seja por insegurança, seja por necessidade de
sentir-se necessário ali, seja por egolatria discreta, pois começo a dizer para
mim mesmo: “Deus não vai operar se eu não estiver lá”; “Sem eu, aquele lugar
não vai pra frente”.
O sono também
revela nossos ídolos, pois quando deixamos de dormir para trabalhar mais,
assistir futebol, filmes, seriados, ou navegar pela internet até tarde da
noite, estamos demonstrando aquilo que mais importa para nós. Um boa noite de
sono traz excelentes benefícios físicos, intelectuais, emocionais, financeiros,
morais e espirituais.
Certa vez, David
Murray, autor do livro “Reset”, perguntou para um psicólogo cristão como ele
tratava as pessoas com depressão e ansiedade, ele respondeu: “Eu lhes dou três
pílulas: bons exercícios, bom sono e boa dieta”.
Em outro momento,
um pastor aposentado disse para David Murray que muitos pastores jovens no seu
início de ministério ligavam para ele pedindo ajuda, pois não estavam
conseguindo orar, estudar e dormir devido ao seu esgotamento. Muitos já estavam
pensando em desistir do seu ministério. Então ele respondia calmamente aconselhando
os jovens pastores em três coisas: primeiro, faça exercícios vigorosos três
vezes por semana. Segundo, tire um dia de folga por semana. Terceiro, gaste
pelo menos uma noite por semana com a sua esposa.
Nosso corpo é de
Deus e para Deus (1Co 6:13-15), por isso precisamos cuidar bem dele. Praticar
exercícios físicos três a cinco vezes por semana é quase tão efetivo quanto
tomar antidepressivos (MURRAY, 2018, p.92). O exercício diário com padrões
adequados de descanso pode aumentar a energia em cerca de vinte por cento ao
dia (MURRAY, 2018, p.100). Pessoas que não fazem trabalho manual como os de pintores, bombeiros, paisagistas, carpinteiros
etc., mas que trabalham “produzindo conhecimento” através do computador,
documentos, relatórios, planilhas etc., precisam estar sensíveis as questões
físicas do corpo.
Os alimentos
também influenciam nossa disposição. Toda escolha que fazemos sobre o que comer
ou beber magnifica ou diminui a Deus em nossa vida (1Co 10:31). Não podemos
esperar que nossa mente funcione bem, se estivermos nos empanturrando de
comidas nocivas. Pesquise ou visite um nutricionista para saber quais alimentos
ajudam a estimular a memória, o foco e a coordenação, e que ajudam a diminuir a
pressão sanguínea etc. O mau condicionamento, a privação do sono e a obesidade roubam
a energia física impedindo a possibilidade de crescimento e desenvolvimento
saudável de nossas vidas.
Precisamos
aprender a viver uma vida bem planejada, e não nos comprometermos em assumir
compromissos que estão acima do possível. Se for preciso, teremos que dizer
não. Se nós não priorizarmos aquilo que é importante em nossas vidas (família,
exercícios físicos, oração, devocional, descanso, trabalho, ministério etc.),
outra pessoa irá fazê-lo por nós. Devemos aprender a trabalhar com a capacidade
de oitenta por cento de nossa nossas forças, para que tenhamos espaço para
atender as pessoas, problemas e oportunidades não esperadas. Esta é uma margem
de segurança, para não chegarmos ao limite de nossas forças. Por exemplo, na
área de finanças, quem vive com oitenta por cento de sua renda, além de um
enorme alívio de estar com o orçamento em dia, ainda consegue poupar.
Sentir-se fraco e
incapaz é “algo bom”, pois o que impede o crescimento de uma pessoa não é o
conhecimento da sua fraqueza, não, o que impede o seu crescimento é a ilusão de
ser forte (2Co 12:9). Quando uma pessoa se julga justa e forte por confiar em
si mesma, ela deixa de procurar a ajuda que Deus oferece com tanto carinho e
com tanta fidelidade. A vida, o casamento, o trabalho e o chamado ministerial
não são danificados por gritos de fraqueza, mas por afirmações de força. “Deus
usa situações problemáticas para aprofundar a confiança que temos nele e a
nossa disposição de fazer o que ele manda, independente de quanto isso for
contra os nossos instintos naturais” (Paul Tripp)
O cristão precisa
compreender que ele nunca estará em uma situação, localização ou relacionamento
no qual Deus não esteja governando. O cristão deve confiar na soberania de Deus
sobre as circunstâncias e relacionamentos, pois Deus tem um propósito em todos
os problemas e pressões que o cristão vive, que é a sua santificação. Nossas
falhas e fraquezas e as situações humilhantes nos ensinam a humildade e ter empatia
pelo próximo. Quando fracassamos como pais, pastores, professores e em nossas decisões
financeiras, aprendemos a ter paciência, compaixão e sabedoria para ajudar outros
que falharam.
Não sacrifique as
graças do sono, exercícios, paz, relaxamento, boa dieta, amizades e comunhão
com Deus em favor de atividades mais “produtivas”. Aquiete seu coração e descanse
em Deus (Sl 46:10; Pv 23:26).
“Vinde a mim,
todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre
vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e
achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é
leve” (Mt 11:28-30)
REFERENCIAL
TEÓRICO
MURRAY, David P. Reset:
Vivendo no ritmo da graça em uma cultura estressada. São José dos Campos: Fiel,
2018.
MACK, Wayne A. Caído, mas não
derrotado: Lidando Biblicamente com o Desânimo, o Abatimento e o
Esgotamento. São Paulo: NUTRA, 2016.
TRIPP, Paul D. O que você
esperava?: Expectativas fictícias e a realidade do casamento. São Paulo:
Cultura Cristã, 2011.