Segundo
Stuart Olyott, um pregador precisa ter 1) exatidão
exegética, 2) conteúdo doutrinário,
3) estrutura clara no seu sermão, 4) ilustrações vívidas, 5) aplicação penetrante, 6) pregação eficiente e 7) autoridade sobrenatural (ação do
Espírito Santo) para se tornar excelente! Neste artigo, focarei apenas na característica
da aplicação penetrante.
Para os
puritanos o propósito da pregação, era julgado não pelo que acontecia na
igreja, mas pelo efeito do sermão fora dela. Pregadores puritanos preparavam
seus sermões cuidadosamente. Seus sermões eram expositivos, com ensinamentos de
uma passagem específica da Bíblia, e uma das características mais atraentes da
pregação puritana era sua ênfase na aplicação prática da doutrina à vida.
O
objetivo da aplicação era conduzir o indivíduo cristão a uma mudança de
comportamento onde fosse necessária pelo despertamento da consciência. A
aplicação era a vida da pregação. Para eles, se os santos não fossem edificados
pelo sermão, então a Palavra não havia sido pregada. O sermão puritano era
dividido em duas partes: doutrina e prática, ou seja, o sermão era tanto
profundo teologicamente quanto intensamente prático. Cada sermão deveria conter
doutrinas explicadas com aplicação imediata na vida das pessoas. As formas de
aplicação eram divididas em sete categorias de ouvintes:
1. Incrédulos que são tanto
ignorantes quanto ineptos...
2. Alguns são educáveis, embora
ignorantes...
3. Alguns têm conhecimento, mas
ainda não estão humildes...
4. Alguns estão humildes...
5. Alguns creem...
6. Alguns decaíram...
7. Há um povo misturado...
Eles eram
unânimes em dizer que a tarefa principal de um pastor era pregar. Eram homens
verdadeiramente convertidos, conhecedores de idiomas, cultos, zelosos, santos,
e aptos para o ministério. Eles respeitavam mais a vida de um pregador santo do
que sua erudição. Um pregador tinha que ser capaz de falar com autoridade
moral. Um pastor é acima de tudo alguém que alimenta e cuida de um rebanho.
A
universidade de Harvard nos Estados Unidos foi fundada por pastores puritanos
que se preocupavam com o ministério inculto às igrejas. O poder penetrante da
pregação residia não na manipulação da audiência pelo pregador, mas na ação do
Espírito Santo. As famílias faziam anotações do sermão para depois falarem
sobre ele reunidos em suas casas. Mesmo sendo homens doutos, eles preparavam sermões simples pois visavam atingir
toda a sociedade. O propósito do sermão não era excelência estética, mas
edificação espiritual. O conteúdo de um sermão era mais importante do que sua
forma. A finalidade de um sermão era servir como um meio de graça.
“A
Palavra de Deus é o centro da vida da igreja”, disse Mike McKinley. Sem a
Palavra de Deus, uma igreja não tem qualquer esperança, enquanto se prepara
para se encontrar com este Deus que julgará vivos e mortos. Quando você prega a
Palavra de Deus com fidelidade, poucas pessoas são tentadas a pensar que você é
grande. Deus não está interessado na glória de pregadores (1Co 1:18-21). A
Palavra de Deus é o meio que ele usará para edificar sua igreja. Se você é um
pastor ou um plantador de igrejas, dedique seu tempo e energia para pregar e
ensinar a Palavra de Deus com excelência!
Conheça
as pessoas com quem precisa lidar, como suas necessidades. Uma igreja que
possui um púlpito distante das pessoas (mensagens difíceis sem aplicação na
vida das pessoas) não se torna uma comunidade, mas um palco com uma plateia
para seus pregadores. Os pastores precisam não somente focar no conteúdo
pretendido, mas no efeito real percebido. Isso não é pragmatismo, pois se você
é um pai, você sabe muito bem que precisa utilizar uma linguagem mais fácil
para ensinar seus filhos, e confiar no poder do Espírito Santo para
convencê-los. Conta-se que Lutero sempre pregava na igreja imaginando estar ensinando uma criança ou adolescente de 12 anos para que todos fossem capaz de entender seu sermão.
Um
pastor, um diretor, um governante, um pai, precisam conhecer seus receptores
para que sua comunicação não seja um desastre. Tenha interesse em saber os
dados sobre sexo, idade, nível de escolaridade, profissão, estilo de vida,
passatempo pretendido, opinião sobre questões sociais, culturais, políticas
etc. Na esfera da igreja por exemplo, o trabalho de exegese e hermenêutica são
importantes e de real vitalidade na saúde da igreja, porém, também tem sido um
esconderijo para muitos pastores fugirem das pessoas e de suas perguntas,
escondendo-se atrás de sua erudição, esquecendo-se que seu ministério é público
(pregação) e pessoal (aconselhamento).
Para
romper a barreira do alheamento, o pregador precisa despertar a atenção, e
estimular o interesse dos ouvintes, pois ele encontrará vários tipos de pessoas
e obstáculos para vencer. Os três principais obstáculos são: 1) apatia: o ouvinte não está interessado
nas coisas que serão ditas; 2) antipatia:
o ouvinte está contra nós e contra o conteúdo que falaremos; 3) incredulidade: o ouvinte não crê no
Livro que pregaremos. Como podemos chamar a atenção do ouvinte? Dando algo para
que possam ficar atentos. Como fazer isso? Vejamos alguns exemplos:
1. Em um
aconselhamento:
Certa vez, Lou Priolo foi a um jantar de uma universidade e ele se sentou ao
lado de um meteorologista. Por duas horas ele ficou perguntando sobre a
previsão do tempo. Quando a noite acabou, o meteorologista apertou sua mão e
disse que não se lembrava da última vez em que havia conversado com alguém tão
interessante. Qual o segredo disso? Ele disse que gastou 5% da conversa falando
sobre ele, e 95% conversando sobre o tempo. A melhor maneira para se fazer
amigos e influenciar pessoas é exatamente isso, falar sobre assuntos de
interesse delas. Considere Fp 2:4: “Não tenha cada um em vista o que é
propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros”. Mesmo que a
motivação deste versículo não seja o de ganhar amigos ou influenciá-los, pois o
propósito dele é glorificar a Deus e ministrar aos outros, as pessoas podem ser
atraídas para sua comunicação conversando sobre assuntos que lhe interessam
quando você investe tempo e esforço para isso. Este ato, demonstra um amor
sacrificial, semelhante ao de Cristo.
“Entrar
no mundo de uma pessoa capacita-nos a aplicar as verdades do evangelho de
maneira específica para a pessoa e para a situação” (Paul Tripp). Durante os
trinta e três anos que Jesus viveu entre nós, ele não somente foi aprovado no
teste que Adão foi reprovado, mas ele também coletou dados a respeito de tudo
que sofremos ao suportarmos a vida à espera de sua volta (Hb 4:15). Jesus entende
a dor da traição, rejeição, dor física e solidão, ele nos conhece.
2. Em uma
palestra:
John Haggai conta em seu livro “Seja um Líder de Verdade” que 1975 ele tinha
que fazer uma palestra muito importante nos EUA, para o qual ele orou vários
dias para poder pensar em uma maneira de romper a barreira do alheamento
(desinteresse das pessoas) do seu auditório. Naquela época eles estavam vivendo
uma crise financeira provocada pela elevação dos preços do petróleo. Ele
começou sua palestra com estas palavras: “Vou dar a vocês dez mandamentos para
sobreviver em meio à crise financeira”. Ele disse que em questão de segundos
podia-se ouvir uma casca de cebola caindo no tapete, de tão silencioso ficou o
auditório de 2.500 pessoas. Este exemplo nos ajuda a entender que podemos
romper o alheamento das pessoas ao nosso redor conversando assuntos que são do
interesse deles.
3. Em um sermão: a introdução não
deve ser muito longa, e nem deve prometer mais do que o sermão pode dar. Deve
conter um único pensamento para poder despertar e preparar as pessoas para
quilo que vem depois. Uma introdução longa, é semelhante aquele que convida
amigos para um jantar, mas gasta muito tempo arrumando a mesa, a ponto de os
convidados chegarem a duvidar se irão ou não jantar alguma coisa.
Muitos
pregadores pensam que o sermão eficiente é somente aquele que deixa a
congregação se sentindo culpada, ou seja, eles não possuem uma mensagem bíblica
equilibrada sobre culpa e pecado com a mensagem bíblica de perdão e renovação.
Alguns enxergam a doutrina da “depravação total” em letras garrafais e a
novidade de vida em Cristo com letras minúsculas.
O
desequilíbrio mais comum é a ênfase demasiada na queda. Deve haver um
equilíbrio entre os elementos CRIAÇÃO/QUEDA/REDENÇÃO. A Bíblia não começa na
queda, e sim na criação. Em uma cultura secularizada, onde as pessoas
desconhecem conceitos básicos de teologia, é mais prudente começar pela criação
e não pela queda, caso contrário seria adequado começar com a queda.
O
apóstolo Paulo tinha uma abordagem baseada nas Escrituras de acordo com o seu
público. Em Atos 13:14-16 ele vai pregar o evangelho em uma sinagoga num
sábado. Neste texto, o grupo era formado por judeus. Também havia presença
gentílica ali. Paulo inicia com um dos principais fatos da história judaica, o
êxodo. Ele relembra a história de Israel até Davi, e intencionalmente, lhes
introduz a promessa do Messias (At 13:23). Neste contexto ele prega a Cristo a
partir do Deus de Israel, se fundamentando no Antigo Testamento para lhes
apresentar o Messias. Já em Atos 17:16-31, Paulo proclama Cristo para os
gentios que não conheciam as Escrituras. Ele está em Atenas, o centro
filosófico do mundo da época. O sermão de Paulo neste contexto não se iniciou
nas Escrituras do Antigo Testamento, ele pregou Deus a partir das evidências da
criação e do deus desconhecido (At 17:23).
Em
Atenas, somente depois que Paulo formou seu argumento baseado na criação (quem
é Deus; quem somos; e o que lhe devemos) é que ele apresentou os conceitos de
pecado e arrependimento. Ao falarmos com as pessoas do século XXI que não tem
conhecimento da Bíblia, é preciso seguir o modelo de Paulo, baseando argumentos
na criação antes de apresentar a mensagem de pecado e salvação.
Para
isso é preciso aprender a se relacionar, pois vivemos em uma sociedade moderna
cada vez mais privatizada, as “vizinhanças” desaparecem e as pessoas se fecham
cada vez mais em seus mundos particulares. As pessoas não estão abertas a ouvir
um estranho. O evangelismo por meio de rádio, TV, jornais, folhetos, transmissões
de cultos pela internet, podem ser importantes, porém, em uma cultura
privatizada, podem criar pessoas resistentes ao compromisso e ao discipulado.
Em
uma sociedade cada vez mais privatizada, as pessoas raramente ouvem o evangelho
a partir de estranhos. Uma igreja que é caracterizada pelo evangelismo por
amizade, é desenvolvida primariamente pelos relacionamentos, e secundariamente
pela determinação de programações.
Quando
começamos igrejas planejadas intencionalmente para apelar a certo tipo de
pessoa, falhamos em atender ao mandado bíblico de ser tudo para com todos (1Co
9:22). Muitas igrejas preferem adotar somente a primeira expressão sem a
segunda. Querem ser tudo somente para um determinado grupo de pessoas e aqui
está o problema. Se o público alvo da igreja são os jovens, significa que
pessoas mais velhas serão alienadas. Se passamos tempo com pessoas que são da
mesma idade, que gostam do mesmo tipo de música e que compartilham de nosso
gosto, opinião política e preferências, em que somos diferentes do mundo (Mt
5:47)?
Quando
Cristo envia um homem a pregar, Ele não comissiona apenas para expor a verdade,
mas também para dizer aos seus ouvintes como praticá-la. Existem vários tipos
de pessoas a nossa frente, e o que faremos com todas elas? Assim como um
farmacêutico responsável entrega o medicamento com a prescrição certa para cada
tipo de pessoa, e o alfaiate que entrega a roupa sob medida de modo a adequar
aos vários tipos de clientes, o sermão não pode ser de “molde padrão”, pois
fazendo assim o pregador não atingirá a consciência das pessoas (estudantes,
pais, filhos, solteiros, casados, viúvas, desempregados, solitários, enfermos,
atribulados etc.). O pregador não cumpre seu dever, se apenas diz às pessoas o
que fazer, ele tem de mostrar-lhes como e porque tal coisa é digna de ser feita.
Sabemos
que o resultado pertence a Deus, e que aquele que convence e transforma o
coração é o Espírito Santo, porém, Deus pode transformar corações a despeito do pregador, pois sendo um Deus
misericordioso, Ele ainda opera com sua Palavra que não pode voltar vazia.
Esteja sempre de joelhos orando a Deus antes de pregar, pedindo que ele traga o
não convertido a Cristo e faça o convertido crescer na graça e no conhecimento
do Senhor.
OBS: Este
artigo é apenas um guia, não é uma regra (mandamento) a ser obedecida, você
pode rejeitá-lo, como também pode utilizá-lo de maneira parcial ou completa se
assim quiser, Deus o abençoe!
REFERENCIAL TEÓRICO
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Liderança que permanece para um mundo em transformação. Belo Horizonte:
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