Há
poucos dias escrevi um artigo sobre o neognosticismo presente em nossas igrejas,
e como sua influência tem afetado a preeminência de Cristo na igreja e a suficiência das Escrituras no processo de aconselhamento (Clique aqui para ler). Dentre
as três perspectivas citadas no artigo (psicologia, misticismo e pragmatismo) eu
destaco aqui a influência da psicologia secular no aconselhamento. A educação
em clínica pastoral iniciou-se na década de 20 no Estados Unidos. Muitos
pastores e líderes religiosos concluíram que a chave para desvendar os
mistérios da religião e da realidade estavam em “nós mesmos”. Após a segunda Guerra
Mundial, os expoentes da teologia pastoral começaram a adotar um novo estilo de
aconselhamento pastoral nas principais escolas de teologia dos Estados Unidos. Esse
estilo afastou-se do conselho, da exortação e da orientação bíblica e se moveu
rumo a um estilo de aconselhamento pastoral autocentrado e antiautoritário. Os teólogos
pós-guerra foram impulsionados pela teologia liberal. Na igreja aqueles que
defendiam viver de acordo com as Escrituras foram marcados como moralistas e
legalistas. A ideia rogeriana (Carl Rogers) de aceitação positiva incondicional
moldou a prática do aconselhamento pastoral.
Alguns nomes
influentes do aconselhamento clínico pastoral:
Anton
Boisen (identificado como o pai da educação em clínica pastoral), tinha uma
teologia que misturava moralismo, liberalismo, misticismo e empirismo. Suas ideias
“inovadoras” baseavam-se em moldar a teologia com forte ênfase na experiência. Ele
equiparou as experiências de uma pessoa, como equivalente à revelação bíblica.
Dr.
Richard C. Cabot trabalhou na criação daquilo que chamou de “teologia clínica”,
ele advertiu os ministros do evangelho a deixarem os problemas mentais para os
profissionais com formação médica, ou seja, para os psiquiatras. A teologia de
Cabot era liberal, ele acreditava que a natureza tinha as repostas para todas
as perguntas do homem. Cabot negava que os milagres registrados nas Escrituras
fossem sobrenaturais e acreditava que a realidade podia ser encontrada somente
no reino físico.
Seward
Hiltner foi um homem de grande influência no campo da psicologia pastoral. Considerava-se
teólogo liberal. Apreciava as descobertas de Freud. No que diz respeito ao uso
da Bíblia no aconselhamento ele dizia que o conselheiro não deveria usar a expressão
“a Bíblia”, nem citar as Escrituras nem contar histórias da Bíblia. Para ele
citar passagens bíblicas no aconselhamento é o mesmo que uma coerção. Ele aprendeu
com Boisen a concentrar-se na experiência pessoal, sem confrontar as pessoas
com a verdade clara da Palavra de Deus. Sua abordagem não era diretiva, e sim
rogeriana, ou seja, centrada na pessoa. Para Hiltner, a ênfase no
aconselhamento certamente não está nas Escrituras, mas na sabedoria do homem.
Wayne
E. Oates foi quem integrou a teologia com a psicologia e psiquiatria. Seguia a
psicologia social de Alfred Adler. Para ele o uso da Bíblia no aconselhamento
pode produzir uma tendência autoritária, ou seja, as Escritura não podem ser a
base de aconselhamento. Seu foco de aconselhamento é conduzido para fora das
Escrituras, cortejando as filosofias de Freud, Maslow e Rogers.
Carl
Rogers era filho de pais cristãos, mas aos vinte anos de idade ele rejeitou a
divindade de Cristo, ele parou de falar sobre as orientações de Deus para sua vida.
Rogers chegou a pastorear uma igreja e pregava sermões cheias de frase do tipo:
“Os psicólogos nos dizem” ao invés de “assim diz o Senhor”. Para ele o homem é bom e saudável, as pessoas são levadas
pela “força da vida” que ele chama de tendência atualizadora, essa consideração
positiva era chamada de autoestima, valor pessoal e autoimagem positiva. Rogers
insiste que a autoestima positiva é alcançada pelo recebimento por parte de
outros de consideração positiva. Para Rogers o pecado na terapia, ou no ensino
na vida familiar, é a imposição de autoridade. Para ele o papel do conselheiro
não é diretivo nem avaliativo, o conselheiro deve tratar as pessoas como alguém
de valor, e respeitar a capacidade e o direito do aconselhado de dirigir a si
mesmo (consideração positiva incondicional). O objetivo do aconselhamento
rogeriano é “vida boa”. Ele disse: “a experiência é, para mim, a mais alta
autoridade” (ROGERS 1951, apud, BABLER;
ELLEN, 2017, p. 56). O “eu” é exaltado acima de Deus e a experiência é colocada acima
das Escrituras, ou seja, cada pessoa é seu deus.
A redescoberta do
aconselhamento bíblico
A
redescoberta do aconselhamento bíblico é atribuída a Jay Adams. Em seu livro
Conselheiro Capaz, publicado originalmente em 1970, Adams utilizou o termo “noutético”
(transliterado de uma palavra do Novo Testamento grego que é mais
frequentemente traduzido por “admoestar”) para escrever o aconselhamento que
tem como foco ministrar as Escrituras, falando a verdade em amor àqueles que precisam
de conselhos. Adams realizou um estudo bíblico intensivo acerca de consciência,
culpa, antropologia e mudança. O aconselhamento noutético é a confrontação que
é feita, brotando da preocupação visando aos propósitos de mudança de algo que
Deus quer que mude. Esse algo pode envolver atitudes, crenças, comportamentos,
motivações, decisões e assim por diante. O aconselhamento bíblico consiste em
ministrar as Escrituras àqueles que enfrentam problemas ou que desejam a
sabedoria e orientação de Deus. Adams (MACARTHUR; MACK, 2004, p. 79-81) estabeleceu sete elementos-chave
no aconselhamento bíblico:
- Deus está no centro do aconselhamento
- O compromisso com Deus traz consigo consequências epistemológicas
- O pecado, em todas as suas dimensões
- O evangelho de Jesus Cristo é a resposta
- O processo de mudança que o aconselhamento deve visar é a santificação progressiva
- As dificuldades situacionistas que as pessoas enfrentam não são a causa aleatória dos problemas do viver
- O aconselhamento é uma atividade eminentemente pastoral e deve ser ministrado pela Igreja
O
aconselhamento bíblico consiste em ministrar as Escrituras àqueles que
enfrentam problemas ou que desejam a sabedoria e a orientação de Deus. As
Escrituras são suficientes para a tarefa do aconselhamento e são superiores a tudo
que o mundo tem a oferecer. Os crentes devem procurar conhecer a Deus, através
das Escrituras, ao invés de buscarem experiências sobrenaturais ou de êxtase. O
apóstolo Pedro refletiu sobre sua experiência pessoal na transfiguração de
Cristo no monte. Pedro voltou-se para as Escrituras como autoridade mais
elevada e mais confiável até mesmo do que sua marcante experiência (2 Pe
1:16-21). Ele disse: “Temos ainda mais firme as palavras dos profetas” (v.19 –
NVI).
O
aconselhamento bíblico está baseado na convicção de que as Escrituras são
suficientes para a tarefa de aconselhar e superiores a qualquer outro material
que o mundo tenha para oferecer (2 Tm 3:16,17; Hb 4:12; 2 Pe 1:3,4; Sl 119; Tg
4:4). O aconselhamento bíblico é um ministério da igreja local no qual os
crentes em Cristo, habilitados, capacitados e guiados pelo Espírito Santo (Jo
14:26), ministram a outros a Palavra viva e ativa de Deus buscando evangelizar
os perdidos e ensinar os salvos (BABLER; ELLEN, 2017, p. 89).
REFERENCIAL
TEÓRICO
MACARTHUR,
John; MACK, Wayne. Introdução ao
aconselhamento bíblico: Um guia básico de princípios e práticas de
aconselhamento. São Paulo: Hagnos, 2004.
BABLER,
John; ELLEN, Nicolas. Fundamentos teológicos
do aconselhamento bíblico e suas aplicações práticas. São Paulo: Nutra,
2017.
MACARTHUR, John F. Nossa Suficiência em Cristo: Três influências letais que minam a sua vida espiritual. 2. ed. São José dos Campos: Fiel, 2007.
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