Em países desenvolvidos, o trabalho fabril está sendo realizado cada vez mais por robôs e sendo transferido para países menos desenvolvidos. Essas mudanças estruturais e econômicas desvalorizaram a força física, o que afeta diretamente os homens.
O que a economia exige agora é um conjunto completamente diferente de habilidades: capacidade de parar e de se concentrar, comunicação aberta, saber ouvir e operar em um ambiente mais fluido. Nesse quesito as mulheres se saem extremamente bem.
Outros dois fatores psicológicos que também impactaram mais os meninos foram:
- A superproteção dos pais, iniciada nos anos 1980 e 1990 quando o brincar livre com brincadeiras arriscadas começou a ser encurtado, muito supervisionado e levado para dentro de casa.
- A adoção dos jogos on-line no fim dos anos 2000 e a chegada do smartphone no início dos anos 2010 afastaram os meninos da interação presencial.
Os americanos costumam utilizar um termo chamado: síndrome de Peter Pan para descrever uma pessoa que não atende às expectativas, não encontra emprego e que acaba voltando para a casa dos pais.
Estes são conhecidos como “nem-nem”, ou seja, nem trabalham nem estudam. Trata-se de jovens economicamente inativos.
Como vimos no artigo anterior, passamos por uma transição de uma “infância baseada no brincar” (até anos 1980) para uma “infância baseada no celular” (início dos anos 2010). Com isso houve uma ascensão do medo e da superproteção dos pais.
Crianças precisam brincar com brincadeiras físicas arriscadas. Essa infância envolve mais hematomas e ossos quebrados. Mas, em um mundo com muita supervisão adulta e poucos riscos o impacto negativo é maior sobre os meninos.
Os meninos sempre apresentavam índices maiores de transtornos externalizantes que são problemas comportamentais de alto risco, como dirigir embriagado etc. Mas, por volta dos anos 2010, os meninos começaram apresentar o mesmo padrão de transtornos internalizantes como depressão e ansiedade tradicionalmente associados às mulheres.
Uma das características marcantes da geração Z é que ela consome menos álcool, envolve-se em menos acidentes de carro, leva menos multas por excesso de velocidade. Há menos ocorrência de brigas física ou gravidez indesejada.
Mesmo que tudo isso seja positivo, essas mudanças não ocorreram porque a geração Z é mais sábia que as outras, mas porque está correndo menos riscos em geral por ser impactada pelo mundo virtual e a superproteção dos pais do mundo real.
O mundo virtual faz com que estes jovens tenham cada vez menos oportunidades de exercer sua agência, de aprofundar amizades por meio do brincar com risco e de buscar aventuras sem supervisão em um mundo real cada vez mais superprotetor.
As duas principais áreas onde os meninos encontraram satisfação de agência e comunhão sem os riscos do mundo real para o mundo virtual foram: pornografia e jogos on-line.
A internet é perfeita para a distribuição de imagens pornográficas. O consumo de pornografia pesada pode levar os meninos a escolherem a satisfação sexual mais fácil em vez de se arriscar no mundo real.
Homens viciados em pornografia podem considerar mulheres reais menos atraentes, incluindo seus cônjuges. Estes têm maiores chances de evitar relações sexuais com as próprias parceiras.
Este estilo de vida virtual faz com que os homens tenham medo de se arriscar e se aproximar de uma mulher no mundo real ou chamá-la para sair. Este seria o tipo de risco saudável que os jovens deveriam correr.
Com relação aos jogos on-line, muitos jovens colocam o jogo em primeiro lugar, afastam-se da família e dos amigos e usam o jogo como uma fuga psicológica. Um em cada treze meninos sofre um prejuízo substancial no mundo real (escola, trabalho, relacionamentos) em decorrência de seu envolvimento assíduo com jogos on-line.
Outro prejuízo associado aos jogos on-line é a imposição de um alto custo de oportunidade por causa da quantidade de tempo envolvida. Esses jogadores assíduos perdem muito tempo no que se refere ao sono, atividade física e interações sociais presenciais com amigos e familiares.
O sociólogo francês Émile Durkeheim, em 1897 escreveu um livro sobre as causas sociais do suicídio. Com base nos dados disponibilizados da época, ele notou que quanto maior a ligação de uma pessoa com uma comunidade com autoridade moral para restringir seus desejos, menores suas chances de se matar.
O concento de anomia social significa a ausência de normas e regras estável e amplamente compartilhadas. Quando a ordem social se enfraquece, as pessoas não se sentem livres, mas perdidas e ociosas. A vida muitas vezes parece sem sentido.
A geração Z é a geração menos capaz que qualquer outra de fincar raízes em comunidades do mundo real. Possuem acesso ilimitado a tudo e em múltiplas redes de contatos com conhecidos e desconhecidos, alguns usando codinomes ou avatares, alguns desaparecem dentro de um ano ou mesmo em um dia etc.
Essa
geração não possui um conjunto claro de normas que os restrinjam e guiem no
caminho para a vida adulta. E é muito mais difícil construir uma vida com
propósito vivendo isolado e perdido em meio as inúmeras redes de contados descorporificados.
CONCLUSÃO
O isolamento social é uma falha em nossa coragem de agir e amar (comunhão). Quando preferimos o isolamento a comunhão com as pessoas nossa tendência é a satisfação dos desejos desenfreados (pornografia). Cuidado, a pornografia ensina que o sexo não se trata de amor mútuo, de cuidado e de comprometimento, pois vive além das regras da ética e da moral.
Os jogos e a diversão funcionam como pequenas pausas na vida habitual onde a tensão é quebrada e o clima se alivia. Jogos e brincadeiras são saudáveis, desde que utilizadas de forma equilibrada e tempo limitado, com estruturas e regras visando a comunhão.
REFERENCIAL TEÓRICO
HAIDT,
Jonathan. A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está
causando uma epidemia de transtornos mentais. São Paulo: Companhia das Letras,
2024.