quinta-feira, 16 de maio de 2024

Quando chega a hora de se arriscar por quem de fato somos - Ester 4

No capítulo 4 de Ester uma notícia acaba alastrando uma onda de choro, luto e tristeza nos judeus espalhados nas províncias da Persa. Sob a influência de Hamã o Rei Assuero autoriza uma sentença de genocídio para o povo judeu.

Ester está tão assimilada e isolada da comunidade do pacto que provavelmente ela é a única judia em todo o império que não sabe o que se passa com seu povo. Mordecai relata o plano de Hamã pedindo que intervenha em favor dos judeus clamando ao rei por misericórdia.

Mesmo na posição de rainha, Ester explica que não é tão simples assim comparecer a presença do rei sem ser convidada, pois a pena é de morte caso ele não estenda seu cetro de ouro indicando que permite aproximação. E já havia trinta dias que ela não era chamada pelo rei.

Um eunuco chamado Hataque traz uma mensagem de Mordecai para Ester contendo palavras duras de serem ouvidas:

 

“Não imagines que, por estares na casa do rei, só tu escaparás entre todos os judeus. Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” (Ester 4:13-14)

Embora Mordecai não cite o nome de Deus, ele está implicitamente dizendo que Deus levantará auxílio de outro lugar caso Ester se recuse ajudar. É hora de Ester decidir o que ela é. Não há como ser um cristão secreto e um pagão público.

Muitas vezes Deus faz isso conosco também, colocando caminhos duros ou palavras duras que nos constrangem a parar de continuar camuflando nossa fé. Nosso posicionamento pode ser muito útil em algumas situações.

O problema é que nós cristãos deixamos de fazer o óbvio no lugar onde Deus nos colocou e ficamos pensando em fazer missões no outro lado do mundo. Muitos cristãos sofrem com o processo de decidir qual curso de ação seguir.

Queremos que Deus decida por nós questões que são nossa responsabilidade. Por exemplo, uma das razões de ficarmos travados e não tomarmos decisões é porque somos covardes. Queremos que Deus nos assegure que tudo ficará bem e queremos alguém para culpar, caso as coisas não saiam tão bem como esperamos.

Não assumimos riscos em nome de Deus porque estamos obcecados com a segurança e o futuro. Somos extremamente passivos e covardes. Oramos por saúde, viagens, empregos, e devemos orar por estas coisas, o problema é que muitas vezes nossas orações se reduzem a: “Deus, não permita que qualquer coisa desagradável aconteça. Faça com que tudo fique bem para todos”.

Ester não fica tentando descobrir se Deus quer que ela tente intervir ou não. É um risco, pois é perigoso entrar na presença do rei Assuero sem ser convidada. Mas ela considera a questão, pondera acerca da posição de rainha em que está e decidi agir.

Ela pede que jejuem por ela, mas ela já decidiu. Ela não pede que orem por ela para saber se deve ou não intervir. Ela não fica esperando um sinal do céu a fim de ver se é coisa certa a fazer. Ela simplesmente fez o que era certo e avançou sem uma revelação especial de Deus.

Ester foi mais corajosa do que a maioria dos homens atuais. Ela está decidida e pede que orem por ela. Ela e as servas vão jejuar também. Ela diz: “irei ter com o rei, ainda que é contra a lei; se perecer, pereci (Et 4:16).

Ester foi ao palácio sem saber se iria viver ou morrer. Jesus foi ao palácio de Pôncio Pilatos plenamente certo que iria morrer. Nosso Rei corajosamente seguiu em frente. Tenhamos coragem para enfrentar as incertezas e se arriscar por quem de fato somos.

Aquele que insiste em certezas ou em condições mais favoráveis antes de agir na vida nunca fará coisa alguma. A decisão de agir é nossa responsabilidade, mas os resultados pertencem a Deus.

Não podemos ficar de braços cruzados esperando circunstâncias ideias. O vento nunca é perfeito para o semeador e as nuvens nunca são perfeitas para o ceifador (Ec 11:1-6). Quem procura sempre encontra uma desculpa para não fazer nada.

 

REFERENCIAL TEÓRICO

GAROFALO NETO, Emílio. Ester na casa da Pérsia: e a vida cristã no exílio secular. São José dos Campos, Fiel: 2021.

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