No capítulo 4 de Ester uma notícia acaba alastrando uma onda de choro, luto e tristeza nos judeus espalhados nas províncias da Persa. Sob a influência de Hamã o Rei Assuero autoriza uma sentença de genocídio para o povo judeu.
Ester está tão assimilada e isolada
da comunidade do pacto que provavelmente ela é a única judia em todo o império
que não sabe o que se passa com seu povo. Mordecai relata o plano de Hamã
pedindo que intervenha em favor dos judeus clamando ao rei por misericórdia.
Mesmo na posição de rainha, Ester
explica que não é tão simples assim comparecer a presença do rei sem ser
convidada, pois a pena é de morte caso ele não estenda seu cetro de ouro
indicando que permite aproximação. E já havia trinta dias que ela não era
chamada pelo rei.
Um eunuco chamado Hataque traz uma mensagem de Mordecai para Ester contendo palavras duras de serem ouvidas:
“Não imagines que, por estares na casa do rei, só tu escaparás entre todos os judeus. Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” (Ester 4:13-14)
Embora Mordecai não cite o nome de
Deus, ele está implicitamente dizendo que Deus levantará auxílio de outro lugar
caso Ester se recuse ajudar. É hora de Ester decidir o que ela é. Não há como
ser um cristão secreto e um pagão público.
Muitas vezes Deus faz isso conosco
também, colocando caminhos duros ou palavras duras que nos constrangem a parar
de continuar camuflando nossa fé. Nosso posicionamento pode ser muito útil em
algumas situações.
O problema é que nós cristãos
deixamos de fazer o óbvio no lugar onde Deus nos colocou e ficamos pensando em
fazer missões no outro lado do mundo. Muitos cristãos sofrem com o processo de
decidir qual curso de ação seguir.
Queremos que Deus decida por nós
questões que são nossa responsabilidade. Por exemplo, uma das razões de
ficarmos travados e não tomarmos decisões é porque somos covardes. Queremos que
Deus nos assegure que tudo ficará bem e queremos alguém para culpar, caso as
coisas não saiam tão bem como esperamos.
Não assumimos riscos em nome de
Deus porque estamos obcecados com a segurança e o futuro. Somos extremamente
passivos e covardes. Oramos por saúde, viagens, empregos, e devemos orar por
estas coisas, o problema é que muitas vezes nossas orações se reduzem a: “Deus,
não permita que qualquer coisa desagradável aconteça. Faça com que tudo fique
bem para todos”.
Ester não fica tentando descobrir
se Deus quer que ela tente intervir ou não. É um risco, pois é perigoso entrar
na presença do rei Assuero sem ser convidada. Mas ela considera a questão,
pondera acerca da posição de rainha em que está e decidi agir.
Ela pede que jejuem por ela, mas
ela já decidiu. Ela não pede que orem por ela para saber se deve ou não
intervir. Ela não fica esperando um sinal do céu a fim de ver se é coisa certa
a fazer. Ela simplesmente fez o que era certo e avançou sem uma revelação
especial de Deus.
Ester foi mais corajosa do que a
maioria dos homens atuais. Ela está decidida e pede que orem por ela. Ela e as
servas vão jejuar também. Ela diz: “irei ter com o rei, ainda que é contra a
lei; se perecer, pereci (Et 4:16).
Ester foi ao palácio sem saber se
iria viver ou morrer. Jesus foi ao palácio de Pôncio Pilatos plenamente certo
que iria morrer. Nosso Rei corajosamente seguiu em frente. Tenhamos coragem
para enfrentar as incertezas e se arriscar por quem de fato somos.
Aquele
que insiste em certezas ou em condições mais favoráveis antes de agir na vida
nunca fará coisa alguma. A decisão de agir é nossa responsabilidade, mas os
resultados pertencem a Deus.
Não
podemos ficar de braços cruzados esperando circunstâncias ideias. O vento nunca
é perfeito para o semeador e as nuvens nunca são perfeitas para o ceifador (Ec
11:1-6). Quem procura sempre encontra uma desculpa para não fazer nada.
REFERENCIAL
TEÓRICO
GAROFALO NETO, Emílio. Ester na casa da Pérsia: e a vida cristã no exílio secular. São José dos Campos, Fiel: 2021.
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