
A Bíblia diz que somos embaixadores de
Deus aqui na terra (2Co 5:20), então isso significa que não só devemos falar de
forma a representar sua missão, mas também utilizar seus métodos conforme seu
caráter. A missão significa falar
segundo a vontade e os propósitos de Deus (2Co 5:15). Os métodos apontam para o
modelo da pessoa de Jesus, ou seja, agir e falar como ele agiu e falou aqui na
terra através dos relatos bíblicos. O caráter seria representar o Senhor com a
atitude correta. Os objetivos de nossas palavras devem ser consistentes com o
caráter e método de Deus porque falamos em nome do Rei, assim como o modo como
cumprimos nossa vocação deve ser consistente com o caráter e os propósitos do
Senhor.
Uma boa comunicação deve utilizar palavras
certas (Pv 15:28; 16:23), num tom de voz apropriado (Pv 15:1; 16:21), com
expressão facial, gestos, contato visual, postura, proximidade e toque (Ec
8:1), em conformidade com sua missão, método e caráter.
Nossas palavras devem atingir o coração
das pessoas, mas para isso precisamos aprender a utilizar o método correto.
Podemos gritar com nossos filhos por causa da bagunça do seu quarto, podemos
gritar com o nosso cônjuge quando ele demora para se arrumar. Podemos
“estourar” com alguém da família quando não encontramos nossas coisas. Nossos
filhos podem fazer escândalos quando dizemos não para aquilo que desejam
adquirir ou fazer. Muitos problemas são legítimos, e devem ser tratados e
confrontados, porém, a forma como agimos e falamos com as pessoas, pode não
trazer mudanças positivas, devido a forma ou método que estamos utilizando.
Um embaixador é chamado não apenas para
dizer o que o Rei falaria, mas para dizer isso do modo que ele o falaria. Três
métodos de mudança que encontramos em 2Co 5:11-21: autossacrifício, perdão e
reconciliação.
Primeiro, se Cristo tivesse se apegado aos
seus direitos e autoridade como Filho de Deus, estaríamos presos sem esperança
à escravidão do pecado, destinados a morte de maneira irrevogável. Ele morreu
voluntariamente pelos nossos pecados, e nos chama, como seus embaixadores, para
esse autossacrifício voluntário, para que nossas vidas possam encorajar e
transformar o coração das pessoas no seu poder e glória (Fl 2:5-11). O ídolo
mais poderoso de todos é o ídolo do “eu”, por isso desejamos ser Deus, e
dificilmente abrimos mão de nossos direitos, vivendo para nossa própria glória.
Segundo, Deus é santo, e está disposto a
nos perdoar se nos arrependermos. Então, como embaixadores, também devemos
oferecer perdão aqueles que nos ofendem. Não confundamos a palavra “perdão”
como sendo sinônimo de fechar os olhos para o pecado para simplesmente
varrermos a sujeira para debaixo do tapete através de reconciliações
superficiais. O perdão deve ser uma disposição incondicional em nosso coração
no tratamento com os outros (Mc 11:25; Lc 23:34), porém, o perdão decidido e
concedido aos nossos relacionamentos deve ser condicional a confissão e
arrependimento (At 2:38; Lc 17:3-4).
Terceiro, Deus nos coloca em lugares e
situações para vivermos e falarmos a partir do seu amor autossacrificial, do
perdão humilde, e de um compromisso com a reconciliação. Reconciliar significa resolver
conflitos a fim de restaurar um relacionamento quebrado. Esta é a obra que Deus
realiza em nós, através de Jesus, para restaurar nossa comunhão com Ele que foi
rompida pelo pecado (Gn 3).
Paul Tripp, em seu livro “Guerras de Palavras”,
conta que no início do seu ministério alugou uma casa que ficava ao lado de sua
proprietária que morava com sua filha. No início eles se relacionavam bem, a
proprietária chegou a emprestar sua geladeira para Paul, porque sua a sua havia
quebrado, porém, por motivos que eles desconhecem a filha da proprietária da
casa começou a tratar Paul e sua família muito mal. Ela gritava com seus
filhos, acusava-os de fazer e falar coisas que eles não haviam feito e falado,
reagia com raiva toda vez que os via, e em horas avançadas da noite ela ligava
o som bem alto para acordar seus filhos. Ele conta que a situação chegou a
ficar intolerável. Certo dia, Paul estava esperando a visita de seus sogros,
era verão, fazia calor de 32ºC, eles haviam abastecido a geladeira com muita
comida. Um dia depois que eles haviam chegado, a filha da proprietária da casa
ligou pedindo a geladeira de volta até as 5 horas daquele dia, Paul não sabia o
que fazer, mesmo explicando que estava com a geladeira cheia, ela exigiu que
ele entregasse até o horário determinado. Enquanto Paul esvaziava a geladeira,
ele pensava nas palavras duras que pretendia dizer para aquela mulher. Porém,
sua esposa Luella, enquanto fazia uns pãezinhos, perguntou se Paulo não queria
levar uns pãezinhos para sua vizinha com uma carta dizendo o quanto eles a amavam
e desejavam ter um bom relacionamento com ela. Paul ficou desconcertado, não
era isso que ele queria fazer, porém, ele levou os pãezinhos com a carta. Alguns
dias depois, sua vizinha foi até sua casa com as lágrimas escorrendo em seu
rosto, ela disse que reconhecia que tinha sido muito ruim com eles, que sua
atitude havia feito sua família e amigos se afastarem dela, e que ela tinha
certeza de que Paul e sua família a amavam e que precisava muito da ajuda
deles. Neste momento Paul apresentou Jesus para ela.
Quando agimos com palavras iradas e cheias
de justiça própria, nunca chegaremos ao coração das pessoas, e os resultados serão
diferentes deste lindo exemplo que acabamos de ler.
Como você está falando e agindo neste
momento? Como um embaixador de Deus? Você tem sido um agente de reconciliação? Deus
nos coloca em lugares e situações para vivermos e falarmos a partir do seu amor
autossacrificial, do perdão humilde, e de um compromisso com a reconciliação.
REFERENCIAL TEÓRICO
TRIPP, Paul D. Guerra de Palavras:
O que há de errado com a nossa comunicação. Uma compreensão do plano de Deus
para a nossa fala. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.99-114.
PRIOLO, Lou. Filhos Irados: Uma
abordagem Bíblica. 2. ed. São Paulo: NUTRA, 2018, p.68-73.
JONES, Robert. D. Em busca da paz:
Princípios Bíblicos para lidar com conflitos e restaurar relacionamentos
quebrados. São Paulo, NUTRA, 2014, p.193-199.
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