“Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada
de obras, está morta.
Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras
é inútil? Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras, quando
ofereceu seu filho Isaque sobre o altar?”
Este texto parece contradizer os ensinamentos de
Paulo quando ele escreve aos Romanos (3:21,21; 4:1-6; 5:1) e aos Gálatas (2:16;
3:11), sobre a justificação pela fé e não por obras da lei. Fica evidente que
Paulo se referia a lei moral (dez mandamentos) e a lei cerimonial (ritual dos sacrifícios
de animais e etc). Paulo está atacando o legalismo. O que Tiago tem em mente nesta
passagem é a evidência das obras provenientes da fé verdadeira. Ele está
atacando o antinomismo (crença de que não há leis morais que Deus espera que os cristãos obedeçam), e o nominalismo cristão, ou seja, aqueles que dizem ter fé em Cristo,
mas não comprovam com suas obras. Aquele que se vangloria da sua fé sem
qualquer evidência das obras (frutos do Espírito) é um incrédulo e hipócrita (Gl
5:19-23). A questão aqui não é a causa da justificação, mas a pública profissão
de fé sem obras. Tiago não está falando sobre a causa da justificação, ou da
maneira como os homens obtêm a justiça, pois seu objetivo é mostrar que as boas
obras estão conectadas com a fé. Por isso não faz sentido alguém servir as
pessoas (caridade) e estar distante de Deus, da sua Palavra e sem comunhão com
a igreja de Cristo. Quando Tiago diz que Abraão foi justificado por obras, ele
está falando da prova que deu de sua justificação pela fé.
Em Gênesis 15:6 vemos que Abraão creu em Deus, teve
fé na promessa de que dele sairia uma nação, e isso lhe foi imputado para
justiça (Hb 11:8). Anos mais tarde, em Gênesis 22, Deus lhe pede seu único
filho Isaque para ser sacrificado, o filho da promessa. Abraão obedeceu a Deus,
e quando estava prestes a sacrificar seu filho, Deus providenciou um
substituto, um cordeiro. A obediência de Abraão no capítulo 22 é prova de sua fé
genuína do capítulo 15. A obediência de Abraão a Deus comprovou sua fé.
Quando Paulo diz que somos justificados mediante a
fé sua intenção é dizer que somos considerados justos de diante de Deus. Porém,
Tiago tem a intenção de dizer que aquele que professa que tem fé deve provar a
realidade de sua fé por meio de suas obras. Tiago, diferente de Paulo, não
tinha a intenção de ensinar a base sobre a qual nossa esperança da salvação deve
repousar.
Paulo ensina que somos salvos mediante a fé, ou
seja, você não tem que acertar sua vida primeiro para então entregar-se a
Cristo, isto é legalismo, você precisa receber Jesus como Senhor e Salvador da sua vida e deixar que Ele acerte sua vida. Se você parou de beber ou de fumar para se tornar um cristão, você está automaticamente dizendo que foi justificado pelas
obras da lei. Porém, Tiago ensina que aquele que foi justificado pela fé (salvo) deve demonstrar
a justiça de Cristo mediante a sua conduta (santificação progressiva - Mt 22:37-40; Rm 6:1-2; 1 Jo 2:3-6; 1 Jo 5:3). A pessoa
quando recebe a Jesus em sua vida sente nojo do pecado, pois agora ela sentirá
o desejo de viver uma vida santa, sem vícios para se sujeitar a imagem daquele
que a criou (Rm 8:29).
A questão aqui não diz respeito a causa da
salvação, mas os efeitos dela, ou seja, as obras acompanham necessariamente a
fé genuína. O homem é justificado pela fé sozinha, mas, sua justiça é
conhecida e provada por suas obras.
“O fruto sempre provém de uma raiz viva de uma boa
árvore” (João Calvino)
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