Prestar
atenção é uma habilidade difícil para todas as crianças. Dar nossa atenção
corretamente é uma luta normal. Embora seja uma luta comum, cada criança
manifesta esse problema de uma maneira diferente.
A
palavra hebraica “ouvir” denota mais do que o simples ato de ouvir, implica
obediência. O símbolo chinês “ouvir” incluir os ouvidos, os olhos, o coração e
a atenção inteira. A escuta ativa é uma habilidade importante que devemos
aprender e ensinar.
Nas
Escrituras os olhos, ouvidos, coração/mente e comportamentos estão conectados
como um pensamento conforme enfatizado em Provérbios 4:20-27 e Deuteronômio
6:4-9.
Todas
as crianças nascem com a atenção voltada para si mesma e para a vaidade. Sua
atenção está quase sempre voltada para as coisas que lhe agradam e interessam
como videogames, esportes ou filmes. O problema está na sua atenção mal
colocada.
Os
pais devem ajudar a solucionar esse problema do deslocamento da atenção. Por
isso é importante ter diagnósticos clínicos de um médico sobre a possibilidade
de existir deficiências físicas válidas que podem estar limitando a capacidade
de ouvir, ver e pensar.
O
livro de Provérbios e toda a Bíblia apresentam três participantes na educação
moral da criança. A própria criança, o pai/instrutor e o Espírito Santo. No
antigo Oriente Médio o desmame acontecia após três anos de idade (ver 1Sm 1), e
era nesse período que o pai descrito em Provérbios iniciava seu ensino
consistente com o filho.
Cada
criança é diferente e aprende e compreende em um ritmo diferente, onde os pais
devem discernir as capacidades da criança e abordá-la de acordo. Por exemplo,
um bebê de dez meses não está pronto para arrumar a cama ou esvaziar o lixo.
Por isso, tome cuidado para não responsabilizar seu filho a realizar tarefas
impossíveis para o seu atual estágio de crescimento.
Ao
mesmo tempo não seja um pai que espera pouco do seu filho, pois isso o levará a
um crescimento imaturo. Os pais devem começar a esperar que seus filhos os respeitem
e obedeçam direcionando-os dessa maneira. Provérbios 22:6 não é uma promessa de
que tudo ficará bem (o contrário pode acontecer), mas uma responsabilidade que
os pais devem assumir com muita dedicação.
A
importância de treinar os órgãos receptivos
Para
uma criança mostrar sua atenção corretamente, ela deve primeiro ser ensinada
como controlar seus órgãos receptivos: olhos e ouvidos (Pv 4:20,21). Quando os
olhos são dados a olhar algo repetidamente, essa habituação molda a mente.
Videogames, pornografia, propagandas, imagens constantes de um corpo sarado
etc.
A
observação repetida afeta a mente da criança. Por isso a estimulação visual
pode ser usada para a reeducação da mente. Os pais podem treinar seus filhos a
honrá-los e ter sua atenção necessária simplesmente ajudando-os a ter contato
visual enquanto falam. O foco dos olhos reflete o coração (Mt 5:28; 6:22-23).
Aprender
a controlar os olhos físicos ajuda a proteger o coração. Por isso procure
eliminar todas as distrações que impendem a devida atenção em um momento de
diálogo ou de ensino, como desligar dispositivos eletrônicos ou ir para um
quarto silencioso.
Foque
no coração do seu filho
Os
pais devem se concentrar em alcançar o coração da criança. Isso implica
compreender suas emoções, seus desejos, seus motivos, sua inclinação natural,
seus objetivos e seu próprio senso de responsabilidade. É comum que as crianças
ouçam as instruções sem internalizá-las.
Para
que as instruções cheguem à mente/coração a criança deve primeiro entendê-las.
Os pais devem lutar pela compreensão de seus filhos de acordo com a idade e a
capacidade da criança de compreender as informações.
Uma
criança que não ouve e não tem controle dos olhos será hiperativa e descuidada
com os seus modos. Embora algumas crianças exijam mais reforço do que outras,
todas as crianças precisam exercitar suas mentes e formar hábitos corretos.
O
mapa sensorial do cérebro pode ser reorganizado com exercícios, através da
repetição. Os pais devem repetir instruções com frequência de várias maneiras.
Eles podem fazer perguntas sobre as instruções pedindo que os filhos repitam
verbalmente suas diretrizes com suas palavras.
Se
as crianças não podem verbalizar a comunicação dos pais para elas, então os
pais precisam repeti-las até que tenham certeza de que suas diretivas estejam
armazenadas no coração da criança (Sl 119:13). Os pais podem saber o que está
armazenado no coração da criança pelo que sai da sua boca (Lc 6:45). Repetição
é chave para a atenção correta.
Crie
um ambiente estruturado em casa, pois as rotinas domésticas ajudarão a criança
no exercício da repetição. A verdadeira educação deve alcançar o coração e a
repetição é um exercício fundamental para aprender a prestar atenção e progredir
em santidade e obediência a Deus (Sl 119:11).
Saiba
encorajar seu filho incentivando respostas certas
Pais
e professores podem incentivar seus filhos e alunos se alegrando em sua
obediência. Em Provérbios 4:13 o pai considera uma prioridade encorajar seu
filho a continuar se esforçando em sua disciplina.
“Um
filho sábio faz um pai feliz, mas um filho tolo é uma tristeza para a sua mãe”
(Pv 10:1). Um encorajamento amoroso dos pais envolve as emoções (coração) da
criança e motiva a criança a progredir em obediência.
Pais
compassivos usam reforço positivo para construir confiança e sucesso no
aprendizado. Embora a felicidade não seja a principal motivação para que um pai
ensine uma boa educação (Pv 4:1-2), a felicidade é uma consequência maravilhosa
de se receber a sabedoria de Deus (Pv 3:13,17,18).
Pais
que não acham sua própria vida agradável e alegre no Senhor, não devem esperar
que seus filhos busquem os mesmos valores.
A
criança deve aprender que a vida não é conseguir o que quer ou confiar em seu
próprio coração. A criança deve aprender que os ensinamentos dos pais são mais
valiosos que seus desejos enganosos e que seus valores beneficiam a criança.
Provérbios
4:22 dá a motivação para o filho prestar atenção em seu pai. Se o ensino chegar
ao seu coração, isso o levará à vida e integridade. O motivo mais elevado de
atenção e obediência deve ser o desejo da criança em agradar e glorificar a Deus.
A
criança precisa ser ensinada e estimulada quanto aos desejos/tesouros corretos e
motivação (Mt 6:21). Se uma criança é ensinada apenas a se ajustar externamente
aos mandamentos de seus pais sem levar em conta o coração, quando ela estiver
crescida e longe da autoridade dos pais é bem provável que aquilo que o seu coração irrestrito
valoriza venha ser revelado.
A
obediência deve vir de um coração que valoriza agradar a Deus acima de tudo.
Por isso é um privilégio e responsabilidade dos pais estabelecer o principal
valor na vida da criança.
A
criança que aprende a valorizar a Cristo e a agradá-lo, encontrará valor em dar
seu melhor na vida acadêmica, nos esportes, relacionamentos e tarefas domésticas
(Cl 3:23-24). Por exemplo, os pais podem proibir o videogame até que o dever de
casa seja feito de maneira aceitável.
Apresente
as recompensas e consequências aos filhos e suas responsabilidades pessoais nas
escolhas
A
criança deve aprender que suas escolhas poderão afetá-la e trazer a ela e a seus
pais alegria ou tristeza (Pv 10:1). Os pais devem apresentar as consequências e
recompensas ao escolher entre o certo e o errado.
Embora
as recompensas temporais não devam ser o principal motivo de obediência para
uma criança crente, um coração obediente traz recompensas temporais. As
Escrituras falam sobre a realidade do castigo eterno e da vida eterna como
motivadores válidos para a obediência.
Os
pais devem dar recompensas e elogios por decisões sábias e consequências por
escolhas erradas, mas nunca devem se esquecer de avaliar os motivos e tesouros
do coração da criança, pois essa é a diferença da disciplina bíblica com a do
mundo.
O
mundo nem sempre recompensa as pessoas por sua bondade, nem a maldade as vezes
é punida, por isso a criança quando crescer pode ser tornar uma pessoa que só
pensa em como se dar bem no mundo, e agir de modo certo ou errado conforme acha
vantagem para si mesma.
Em
Pv 23:19 o pai chama a atenção do filho sobre sua responsabilidade e direção de
seu coração. Pais responsáveis se concentram no coração e não apenas no
comportamento. A criança é responsável pela direção e resultado de sua vida (Pv
4:23).
Os
pais devem enfatizar a responsabilidade pessoal da criança no ouvir, aceitar e executar
suas instruções. A criança é pessoalmente responsável por manter e guardar seu
próprio coração, que inclui comportamentos.
A
autodisciplina é o propósito da piedade (1Tm 4:7-8) e os pais sábios devem disciplinar
seus filhos até que a autodisciplina se torne parte da criança.
Confrontando
o coração da criança
“Desvia
de ti a falsidade da boca e afasta de ti a perversidade dos lábios” (Pv 4:24).
Obedecer este comando implica controlar a boca, mas, como a boca revela o
coração, refrear a língua exigirá cultivar um coração que abraça a verdade e
rejeita a falsidade.
O
comportamento da criança revela seu coração e propósito, mas sua boca é muitas
vezes a mais reveladora. O coração é enganoso (Jr 17:9) e os pais precisam
confrontar este coração enganador e doente da criança.
O
“sábio ouve conselho” (Pv 12:15) e isso envolve humildade e falta de orgulho,
mas o tolo ignora o conselho dos outros, e este é o caminho natural da criança,
confiar em seu próprio caminho (Pv 14:12).
Os
pais além de instruir seus filhos em retidão, devem repreender e corrigir sua
natureza insensata (2Tm 3:15-17). As crianças às vezes dão as seguintes
desculpas por sua desobediência: “Eu não entendi”, “eu não lembrei”, “eu não
queria, “eu não sabia como”, “eu estava distraído”.
O
pai é capaz de extrair o que está no coração do filho pelo que sai da sua boca.
Se a criança disser que esqueceu as instruções de seus pais, eles devem
redobrar seus esforços para repetir as ordens e estabelecer expectativas na mente
da criança.
Elimine
as distrações como videogames (não é errado jogar desde que não esteja passando por cima das prioridades e responsabilidades), tenha contato visual com seu filho e verifique possíveis
deficiências físicas que podem contribuir com sua luta para prestar atenção.
Lembre-se,
oferecer recompensas e encorajamento pelo comportamento correto sem confrontar
o coração da criança somente a levará a prestar atenção aos seus próprios desejos
enganosos e se comportar de acordo com as expectativas que a levam ao seu
próprio caminho.
REFERENCIAL TEÓRICO
BERGER
II, Daniel R. Como ensinar uma criança a prestar atenção segundo a Bíblia:
Uma resposta interdisciplinar ao TDAH. Brasília: SEBI, 2019.