Em Ester capítulo 2 vemos dois personagens que viviam na cidade de Susã na Pérsia. O judeu Mordecai e sua sobrinha órfã Ester. O nome hebraico de Ester é Hadassa que significa murta, uma plantinha. O nome persa Ester significa “estrela” e provavelmente está ligado à divindade Ishtar, uma deusa pagã do amor e da guerra.
Talvez
Hadassa seja o nome que seus pais lhe deram e Mordecai tenha lhe dado um nome
mais persa para se viver com mais tranquilidade ali. Mordecai está bem
assimilado na casa da Pérsia e orienta Ester esconder sua identidade judia.
Assimilação
é uma adaptação a uma cultura a ponto de se deixar de lado a identidade em
Cristo para se viver uma suposta paz. O medo e assombro com os poderosos deste
mundo nos levam a assimilação.
Ester
também está bem assimilada na casa da Pérsia. Depois que a rainha Vasti
desonrou publicamente o Rei Assuero ele decidiu arrumar uma substituta. Nesta
busca por uma nova rainha por todo o império ele impõe algumas qualificações
para a pretendente: virgem e bonita, e ainda passará por um processo de
embelezamento por 12 meses.
Não
é um concurso de beleza, jovens serão arrancadas de suas famílias e levadas
para fazer parte do harém do rei Assuero para sempre. Ele vai dormir com todas
elas, queiram elas ou não. Pouco mais do que uma escrava sexual.
Mordecai
age de um jeito estranho para o que a gente espera do povo de Deus. Ele não
parece tentar impedir que Ester seja levada. Como pai talvez fosse a atitude
esperada. Ester age rápido e alcança o favor de todos, inclusive do eunuco
Hegai.
Hegai
é o responsável pelo harém do rei Assuero e Ester sabe disso. Ela se esforça
para se fazer queridinha dele, e consegue. Ela boa no jogo do poder, da sedução
e da beleza. Ela passa uma noite com o rei e ganha seu coração. Será a nova
rainha.
Diferentemente de Daniel e seus amigos na Babilônia que decidiram não se contaminar recusando fazer o que o rei havia mandado para não perderem sua identidade a ponto de serem lançados na cova dos leões ou para a fornalha ardente, Ester parece não resistir, nem sequer pensa em escapar de um casamento com um rei pagão.
Infelizmente nós sacrificamos nossa liberdade e alegria facilmente em troca daquilo que parece ser seguro. O pior é que fazemos isso voluntariamente, não é preciso que alguém nos obrigue.
Muitas
vezes vivemos assim para avançarmos na vida. Escondemos nossa identidade para
sobreviver na Pérsia. Deixamos Hadassa na igreja e vivemos como Ester os outros
dias. Se ela não fosse lindíssima ela não seria escolhida. A beleza física abre
portas. A assimilação é mais fácil quando se tem as características que este
mundo gosta.
Que
aspectos da nossa identidade cristã estamos dispostos a esconder para
avançarmos nesta vida? Talvez nossa carreira, nosso círculo de amizades esteja
avançando com um volume bem baixinho da nossa fé de Hadassa pelo grande
embelezando de Ester.
Vivendo
neste mundo somos tentados em duas direções: conformidade e isolamento.
Na conformidade a assimilação ocorre. É neste momento que adotamos a
cosmovisão, a ética e forma de vida da cultura. No isolamento nós nos fechamos
e nos protegemos. São dois caminhos fáceis.
É
fácil se conformar e ser recompensado por isso. O problema é que esses dois
caminhos levam ao fracasso. A assimilação é uma falha em nossa ousadia e
resistência, e o isolamento é uma falha em nossa coragem de agir e amar.
Precisamos
de coragem para resistir mesmo que isso resulte em cova dos leões. Tem dias que
é mais simples não resistir, simplesmente viver como um persa e esconder nossas
crenças.
Somos
mais parecidos com Mordecai e Ester do que com Daniel. Ficamos impressionados
com os poderosos deste mundo. O poder destes homens é temporário e eles são
generosos com os seus súditos até serem contrariados.
Não
tenhamos vergonha de nos identificarmos com Cristo e com os que são dele. Pare
se esconder e tenha coragem de dizer: “não me curvarei mais diante dos poderes
deste mundo”. Não mais, pelo Senhor e pelo meu povo, a igreja.
A
boa notícia é que mesmo que tentem controlar nossas ações eles não podem, em
última instância, controlar nossos corações. Os grandes reis deste mundo gostam
de mostrar sua falsa glória através de riquezas, ostentação, crueldade, festas
etc.
Ao
contrário destes, temos um grande Rei que é pelos seus. Ele é bom e manso.
Espere para ver o que ele está para fazer, pois este mundo é seu, e todo joelho
se dobrará diante dele e confessará seu nome.
REFERENCIAL TEÓRICO
GAROFALO
NETO, Emílio. Ester na casa da Pérsia:
e a vida cristã no exílio secular. São José dos Campos, Fiel: 2021.
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