1.Conhecimento
Salomão
passou um bom tempo investigando a questão do conhecimento (Ec 1:12-18). Ele tentou
de todas as formas satisfazer o coração com o saber, mas viu que, em última
instância, isto não trazia o que ele buscava. Para piorar ele percebeu que aumentar
conhecimento aumentava a tristeza.
No
começo do seu reinado Salomão pede a Deus um “coração compreensivo para julgar
o povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal” e Deus responde
dizendo que ele receberia um “coração sábio e inteligente” (1Rs 3:5-13). Salomão
tinha um conhecimento enciclopédico de tudo que existe. Era um conhecimento
invejável, impressionante e admirável.
Porém,
embora a busca por conhecimento fosse excitante, é também enfadonha por causa
do pecado. Pensar dói (Ec 1:18). O aprendizado traz consigo muitas dores. Quem
não viveria mais tranquilo se não soubesse nada sobre a corrupção que acontece
em nosso país? Viveríamos muito mais tranquilos e em paz se não fizéssemos
ideia dos casos de pedofilia, tráfico de drogas, guerras e outras crueldades. Talvez
viveríamos mais felizes na ignorância.
Muitas
pessoas depositam sua esperança no seu desempenho acadêmico. Há muitas pessoas
com mestrado, com doutorado que não entendem nada. São pedantes que se acham
muito. Outros exaltam aqueles que não estudaram, mas que “conhecem a vida como
ninguém”.
Quem
conhece a vida, não são os livros. Tampouco aquele que zomba do conhecimento
acadêmico se orgulhando do seu conhecimento prático da vida real. Tanto este
como aquele, conhecimento acadêmico e conhecimento das “ruas” se tornam em ídolo
no coração.
“Não seja sábio aos próprios olhos” (Pv 3:7). O conhecimento não muda o mundo (Ec 1:15). Se mudasse já estaríamos vivendo um “novo céu” e uma “nova terra”. “Somos o sal que retarda o apodrecimento moral, não a medicina que cura a sociedade enferma” (Heber Campos Jr.). “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9:10). Conhecimento tem valor sim, desde que venha em seguida ao temor do Senhor.
Os
cristãos não deveriam rejeitar o conhecimento, pois é algo que Deus criou. Aliás,
a ciência faz parte do Mandato cultural de Deus e é uma vocação legítima e
honrada diante de Deus. Muitos cientistas estão fazendo o que Deus criou para
fazer, mas boa parte deles o fazem em rebelião a Deus.
Leia
Colossenses 1 e 2. Cristo é a sabedoria de Deus. Nele estão escondidos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento. Nele tudo subsiste. Ele é a imagem do
Deus invisível. Nele foram criadas todas as coisas, tudo foi criado por meio
dele e para ele.
Se Cristo é a sabedoria de Deus (Pv 8:35-36) então aquele que se recusa a se dobrar perante Cristo, peca contra a sabedoria. Somente Jesus pode endireitar o mundo (Ec 1:15), pois a humanidade é culpada de rebelião diante de Deus.
2.
Prazer, diversão e beleza (Música, sexo e vinho)
Salomão
decide então conduzir mais um experimento: investigar se, quem sabe, no prazer,
na diversão e na beleza ele conseguiria encontrar o que buscava. Ele
decide que irá preencher seu tempo com alegria, com riso, com entretenimento;
assim, quem sabe, encontra sentido na vida.
Ele chega
à conclusão de que o riso e alegria são vaidade (Ec 2:1-2). Esta risada estava
só mascarando o que está por detrás da alegria. Então ele começa algumas tentativas
de encher seu coração de algo que não seja Deus.
A primeira
tentativa é sobre o vinho (Ec 2:3). Muitos tentam achar no álcool a
solução para a inquietação do coração. O vinho em si não é o problema, até
porque a Bíblia não condena o vinho e sim a embriaguez. Fazer uso do vinho de
maneira correta é legítimo, proibido é se embebedar.
Salomão
degustou os melhores vinhos. Porém, ele percebeu que beber e comer as mais
finas iguarias não resolviam o problema. Talvez estejamos degustando café
gourmet, cervejas artesanais, hambúrgueres nos melhores restaurantes e isso
tudo não tem resolvido nosso problema.
Depois
da bebida, Salomão procurou no sexo esta satisfação que lhe faltava (Ec 2:8-10).
Teve uma multidão de mulheres: 700 esposas, princesas e 300 concubinas (1Rs
11:3). Talvez você esteja fazendo uso da pornografia todos os dias para
satisfazer seu coração, ou tendo relações sexuais com várias pessoas.
Salomão
também buscou beleza e satisfação na música. Ele trouxe para o palácio
diversos músicos (Ec 2:8). Algo caríssimo naquele tempo, em que não havia
aparelhos para gravar e reproduzir música. Ele tinha música no palácio
frequentemente.
A música,
o sexo e o vinho não são coisas perversas em si mesma. São coisas boas que Deus
criou e nos deu. Deus criou diversão neste mundo. “O problema não é a diversão
nem as coisas boas da vida, mas como buscamos encontrar nelas o sentido da vida”
(Emílio Garofalo).
E como Salomão, podemos ficar tentando variar a fonte de diversão ou aumentar a dosagem, seja do álcool, seja a dosagem e a variedade do sexo, da comida, do videogame, dos esportes, do sono etc. Isto é perigoso e um risco porque deixamos de perceber o fato de que há um grande vazio que precisa ser preenchido tentando ocupar a mente para fingir que o buraco não existe.
3.
Criar algo grande
Salomão
buscou satisfação no conhecimento, na diversão e agora ele busca satisfazer seu
coração com grandes obras e grandes projetos (Ec 2:4-11). Tudo se concentra
nele, pois a expressão “para mim” aparece várias vezes neste texto.
Ele realizou
grandes obras, construiu grandes casas, plantou vinhas, fez açudes, bosques,
encheu sua casa de servos. Seu nome se tornou grande, adquiriu ouro, servos
etc. Salomão criou para si um paraíso na terra, e tentamos fazer isso também.
Em nossos
dias muitos querem ter a casa dos sonhos, um corpo espetacular, barriga de
tanquinho, pernas esculpidas, uma carreira monumental, um nome admirado e
temido, uma família exemplar etc. Para outros pode ser uma casinha simples na
roça com um quintal, varanda e uma janela para ver o sol nascer. Muitos são os
projetos.
Para
muitos o grande projeto é fazer algo que mude o mundo inteiro, marcar a
história, fazer manifestações etc. Até mesmo na igreja muitos projetos são
idólatras, como plantar uma igreja com o objetivo de marcar a história da
cidade simplesmente para encontrar satisfação pessoal. Muitos lutam pelo avanço
do reino de Deus com o coração torto.
Salomão chegou à conclusão de que suas construções, e seu envolvimento com a agricultura e pecuária era tudo vaidade e correr atrás do vento (Ec 2:11). Assim como ele, somos facilmente enganados. Achamos que, se encontrarmos coisas belas e cheias de vida, tapearemos o vazio que insiste em aparecer.
4.
Encontrando sentido na vida
Jesus
conta uma história em Lucas 15:11-32 que um pai tinha dois filhos, e um deles pediu
herança mais cedo e foi viver prodigamente. Com muito dinheiro, ele buscou
encontrar satisfação experimentando o prazer que a vida supostamente lhe apresentaria
para preencher seu coração. Depois de um tempo ele caiu em si, e no lamaçal,
ele percebeu que não havia vida onde ele estava.
Decidido
voltar para casa do Pai ele é graciosamente recebido com uma festa, com
verdadeira alegria, com verdadeira vida. Na casa do pai estava o que ele
procurava. É assim conosco. Em Deus começamos a encontrar a real satisfação da
qual as coisas boas da vida são apenas indícios, pois toda beleza foi criada
por Deus para conduzir nossos afetos a ele.
Temos
um grande vazio no coração, e procuramos preenchê-lo porque somos rebeldes e
caídos. Rejeitamos a Deus por causa do nosso pecado. O vazio vai continuar enquanto
continuarmos fingindo que este vazio não existe ou criando algo grande para o
seu lugar.
Jesus,
o nosso irmão mais velho, não é como o irmão da história do filho pródigo, ele não
se ressente de nossa tolice, ao contrário, ele faz o que é necessário para resolver
o nosso problema na horrível cruz. Nele não havia beleza alguma como nos diz
Isaías 53:2. Ele pagou o preço do nosso pecado e assim nos libertou para encontrarmos
sentido onde realmente há. Nele há felicidade e satisfação.
REFERENCIAL
TEÓRICO
NETO, Emílio Garofalo. Isto é filtro solar: Eclesiastes e a vida debaixo do sol. Brasília: Monergismo, 2020.
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