Fome, pobreza, agressão física, agressão
verbal, problemas sérios de saúde, conflitos interpessoais e aprisionamentos
são circunstâncias difíceis que pessoas em todo o mundo estão experimentando ou
já experimentaram. Quantos de nós poderiam fazer a declaração de Paulo em
Filipenses 4:10-13? Nesta declaração vamos um homem dizer que aprendeu estar
contente em qualquer circunstância.
Como você avalia seu nível de
contentamento? Há pessoas que ficam contentes de acordo com seu humor, outras
raramente ficam contentes, e há pessoas que nunca estão contentes com nada. Se
faz sol, reclamam do calor. Se chove, reclamam do calor. O carro que têm é
pequeno e não tem potência, mas se compram um grande reclamam que gastam muito
dinheiro com combustível. Reclamam que não tem dinheiro suficiente, que não têm
uma casa grande o bastante, nem o tipo certo de trabalho, e nem o tempo livre
que gostariam de ter.
Quando culpamos as pessoas e as
circunstâncias por nossos problemas, estamos acusando e responsabilizando Deus
de forma sutil (Gn 3). Em circunstâncias difíceis ficamos mais dispostos a
atribuir culpa do que a buscar soluções. Quando um marido diz: “Minha esposa me
deixa tão zangado!”, seu dedo aponta não apenas para sua esposa, mas para Deus,
que ordenou o casamento. Uma pessoa que diz: “Eu seria mais ativo nos
ministérios da igreja se não tivesse de trabalhar tão duro para pagar as contas”
está na verdade dizendo: “Deus, a culpa é sua. Se você fosse melhor em prover
minhas necessidades, eu poderia servi-lo do jeito que realmente desejo”. Um pai
que diz: “Eu era muito mais calmo e paciente antes de ter filhos” na verdade
está culpando Deus pelo fardo parental que ele condissera opressivo. O Deus que
deveria ser amado, obedecido e servido tem se tornado o bode expiatório para os
nossos pecados, aliás, isso aconteceu no jardim do Éden (Gn 3).
Quando Paulo escreveu esta carta ele provavelmente
estava em Roma no final de sua terceira viagem missionária, em uma prisão
domiciliar, aguardando seu julgamento. Seu contentamento não estava dependente
das circunstâncias. Receber louvor e honra não era algo muito comum para Paulo
durante seu ministério. Vemos em suas cartas que ele experimentou situações de
honra e desonra. Paulo era conhecido como um homem bem instruído e inteligente
(At 22:3). Quando ele curou um paralítico de nascença em Listra, as pessoas
ficavam maravilhadas ao ponto de chamá-lo de “deus” (At 14:11). Quando ele foi
picado por uma serpente e as pessoas perceberam que ele não havia sofrido com o
efeito da picada, foi novamente chamado de “deus” (At 28:6). Paulo sofreu com zombaria, prisão, açoites,
apedrejamento, naufrágio, fome, noites sem dormir, exposição a condições
climáticas extremas, assaltos e outros perigos incontáveis (2Co 11:23-27). Ainda
assim, depois de todas estas experiências, boas e ruins, fáceis e difíceis, ele
pôde dizer no fim da vida: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”
(Fl 4:11).
O verdadeiro contentamento precisa ser
aprendido (Wayne Mack). A palavra grega traduzida por
“contente” em Filipenses 4:11 é “autarkes”, é a mesma usada em 2 Coríntios 9:8
(autarkeia), e diz respeito à uma autossuficiência que provém da
autossuficiência de Deus. A palavra suficiência (hikanotes) em 2 Co 3:5
significa capacidade, habilidade, competência. Assim, o que realmente torna-nos
suficientes (“autárquicos”) é a derivação de poder do caráter divino mediante a
união e participação com o seu Filho (Wadislau Gomes). A palavra grega
traduzida por “contente” em 1 Tm 6:8 também significar ser autossuficiente em
Deus (arkeo).
Paulo, aprendeu a
não depender de suas circunstâncias. Ele aprendeu a não deixar que pessoas ou
acontecimentos o controlassem, que determinassem seu sofrimento ou sua alegria,
nem que impedissem seu ministério. Aquele que vive satisfeito em todo tempo,
“descobriu” (aprendeu) o que é o verdadeiro contentamento. Não devemos andar de
acordo com as circunstâncias, mas, como crentes, devemos andar “independente”
das circunstâncias, ou seja, devemos aprender a viver sem depender do que está
nos acontecendo, alegrando-nos no Senhor e contentando-nos com o que quer que
Deus julgue adequado para nossa vida (Wayne Mack).
Isso não significa
que não devemos buscar mudanças ou tentar melhorar nossas circunstâncias, pelo
contrário, devemos nos esforçar para tirar a melhor nota possível, trabalhar
com excelência em nosso trabalho ou em algum ministério na igreja, procurar um
médico quando estivermos doentes, porém,
a questão crucial a ser aprendida aqui é que depois de fazermos tudo o que for
necessário para melhorar nossas circunstâncias ou o mundo a nossa volta,
precisamos confiar os resultados nas mãos de Deus. Isto significa que depois de
todo nosso esforço para cuidar de nossa saúde, precisamos aprender nos
contentar se ela melhorar ou não. Significa que depois de todo nosso esforço em
nosso trabalho e ministério, e depois de darmos o nosso melhor em nossos
estudos, precisamos aprender a nos contentar com o resultados que Deus trouxer,
pois este é o “segredo” da verdadeira liberdade, o contentamento, que Paulo
está nos ensinando.
Embora sejamos
sempre gratos a Deus por sua provisão de saúde, educação, talentos, trabalho, e
de inúmeras outras bençãos, não podemos depender delas a ponto de perdermos
nosso contentamento caso sejam tiradas de nós. Se nossa segurança está em
Cristo, podemos dizer como Paulo: “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”
(Fl 4:11), ou como Pedro: “Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido
doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento
completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (1Pe 1:3).
Estar contente em
toda e qualquer situação significa dizer que seja o que for que eu tenha
recebido de Deus, para mim é o suficiente!
REFERENCIAL
TEÓRICO
MACK,
Wayne A. Caído, mas não Derrotado:
Lidando Biblicamente com o Desânimo, o Abatimento e o Esgotamento. São Paulo:
NUTRA, 2016, p.167-186.
TRIPP, Paul
D. Guerra de Palavras: O que há de errado com a nossa comunicação. Uma compreensão
do plano de Deus para a nossa fala. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.31.
Nenhum comentário:
Postar um comentário