sexta-feira, 29 de março de 2019

O que é aconselhamento bíblico, qual sua finalidade e qual sua relação com a psicologia?


Aconselhamento bíblico é um sistema de aconselhamento cristão fundamentado nas Escrituras, ou seja, ele não ignora o poder das Escrituras de “trazer uma pessoa a fé em Cristo e moldá-la na pessoa que Deus quer que ela se torne” (ADAMS, 2016, p.57)

O aconselhamento cristão visa confrontar as pessoas visando “mudanças de atitudes, crenças, comportamentos, motivações, decisões, e assim por diante” (MACARTHUR; MACK, 2004, p.73).

Existem vários modelos de aconselhamento baseados em teorias da psicologia secular que diferem da Bíblia no modo como tentam explicar as pessoas e as soluções que tentam oferecer. “A verdade da Bíblia compete frontalmente como os demais modelos” (POWLISON, 2010, p.6).

O aconselhamento bíblico ou cristão, em particular, é a arte de transmitir graça por meio da palavra da fé, sob a orientação do Espírito. Seu propósito é o de crescimento mútuo na verdade em amor, segundo o caráter de Cristo, com a finalidade de glorificar a Deus gozá-lo para sempre” (GOMES, 2012, p.81)

O aconselhamento bíblico está baseado na convicção de que as Escrituras são suficientes para a tarefa de aconselhar e superiores a qualquer outro material que o mundo tenha para oferecer. O aconselhamento bíblico é um ministério da igreja local no qual os crentes em Cristo, habilitados, capacitados e guiados pelo Espírito Santo, ministram a outros a Palavra viva e ativa de Deus buscando evangelizar os perdidos e ensinar os salvos (BABLER; ELLEN, 2017, p.89)

Enquanto diversos modelos de ajuda psicológica tratam do aspecto sensível da vida, tais como funções psíquicas e psicossomáticas, questões sociais e relacionais, etc., o aconselhamento cristão lida com os sentimentos mais profundos do trinômio fé, esperança e amor; trata dos afetos derivativos das crenças básicas, dos processos e dos atos mentais; mexe com os desejos do coração, com os objetivos e as estratégias de vida – cuida da totalidade da pessoa à luz da finalidade e do propósito de Deus, seu Criador.

Deus é soberano em sua Palavra, pois ela é única autoridade de fé e prática, e tudo que existe e é pensado está diante da sua presença e sob o seu controle e autoridade. A soberania de Deus foi desafiada (Gn 3), por isso, a natureza humana é rebelde contra Deus, pois ela estrutura pensamentos contrários aos pensamentos de Deus e estabelece uma inversão de valores, colocando-se no lugar de Deus. O pensamento secular não é soberano nem independente, aliás, ele toma emprestado de Deus tanto as coisas que observa e não pode entender, quanto o próprio engenho humano, o qual é a dádiva da graça divina comum a todos os homens. Somente o pensamento redimido por Jesus, instruído na Palavra da verdade, pode analisar todas as coisas, descobrir onde a rebeldia humana as corrompeu. Somente o pensamento cativo ao Senhor poderá reestruturar as observações seculares e refazer todo o exame e o processo de construção, a fim de comparar com a teoria do aconselhamento bíblico.

É importante ressaltar que o aconselhamento bíblico não confunde, não mistura e não aceita o pensamento secular assim como ele é; antes, descontrói filosofias e sutilezas de homens que somente podem se acusar ou defender na própria consciência (2 Co 10:4-5). Essa desconstrução e sequente reconstrução não pretendem integrar psicologia e aconselhamento bíblico nem separar dois conhecimentos diferentes. O objetivo dessa análise é examinar o que o pecador fala sobre o pecado de pecadores, para comparar os resultados com os resultados da hermenêutica bíblica e da teologia, a fim de confessar os pecados e deixá-los mediante o arrependimento e a fé no perdão de Deus.

Deus quer que sejamos sábios da sabedoria divina e humildes conhecedores de nossa própria estultícia. O aconselhamento bíblico estuda a totalidade do homem à luz da totalidade da revelação específica de Deus. Para isso é necessária dependência de Deus para se fazer um estudo mais profundo do que fizeram aqueles que se declararam independentes do Criador; mais brilhantes sob a luz da Palavra de Deus do que foram brilhantes os que refletiram as trevas; e mais destemidos em relação ao compromisso ministerial do aconselhamento do que aqueles que temendo aos homens, tentam apontar um caminho de redenção, mas o que só prevalece nessas estruturas de aconselhamento é um vazio enorme entre o conselheiro e o aconselhado (GOMES, 2012, p.82).


REFERENCIAL TEÓRICO

MACARTHUR, John; MACK, Wayne. Introdução ao aconselhamento bíblico: Um guia básico de princípios e práticas de aconselhamento. São Paulo: Hagnos, 2004.

BABLER, John; ELLEN, Nicolas. Fundamentos teológicos do aconselhamento bíblico e suas aplicações práticas. São Paulo: Nutra, 2017.

GOMES, Wadislau. Quem cuida de quem cuida? São Paulo: Cultura Cristã, 2012.

ADAMS Jay. Teologia do Aconselhamento Cristão: Mais que redenção. Fortaleza: Peregrino, 2016.

POWLISON, David. Uma nova visão: O aconselhamento e a condição humana através das lentes da Escritura. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.

sábado, 2 de março de 2019

Confrontação Bíblica: Falando a verdade em amor


Falar a verdade em amor é bíblico. O texto de Levítico 19:15-18 nos ensina uma compreensão bíblica sobre confrontação. Devemos confrontar porque amamos ao Senhor e queremos obedecer a Ele (Mt 22:37). O problema é que amamos tanto nosso relacionamento com a pessoa que não queremos correr riscos, preferimos evitar o sacrifício pessoal e as complicações que a confrontação pode envolver. Talvez, amemos a paz, o respeito e a apreciação mais do que deveríamos. Quanto mais amamos a Deus acima de tudo, a confrontação se torna uma extensão e uma expressão de amor (1 Jo 3:11-20; 4:7-21), porém, quando amamos alguém conforme nosso coração, perdemos os motivos básicos para confrontação.

Nossa cultura dá uma grande recompensa por sermos tolerantes e educados, porém, ser amável e agir por amor não são a mesma coisa. Quando nos conservamos calados quando a iniquidade reclama a repreensão de nossa parte e suprimimos a verdade com o nosso silêncio indevido em uma causa justa é certo que sofreremos as consequências da nossa iniquidade (Pv 31:8,9; Lv 5:1, Lv 19:17; 1 Rs 1:6; At 5:3). Não falamos porque procuramos evitar momentos desconfortáveis, e achamos que o nosso silêncio é expressão de amor a outra pessoa, quando na verdade deixamos de falar porque nos falta amor.

A verdade é que deixamos de confrontar não porque amamos demais as outras pessoas, mas porque amamos demais a nós mesmos. A confrontação é nossa responsabilidade moral em cada relacionamento. “Em casa pequeno momento de falar a verdade, o progresso do pecado é atrasado e o crescimento espiritual é encorajado” (Paul Tripp). Em Levítico 19:17 diz “por causa dele, não levarás sobre ti pecado”, isso mostra nossa responsabilidade moral. O verdadeiro amor não fecha os olhos para as coisas erradas, mas concede ao próximo a mesma graça que recebemos, pois caso contrário somos participantes moral no pecado.

Paul Tripp chama esse ato de fechar os olhos para o erro de imoralidade do silêncio egoísta (TRIPP, 2009, p.275), pois quando nos recusamos a falar a verdade estamos nos rebelando contra o Senhor. Deus nos chama para falar com aqueles que Ele quer resgatar. A confrontação deveria ser um estilo de vida, mas o que estamos vendo são igrejas enviando as pessoas com problemas para os profissionais da saúde mental. Falta maturidade de comunicação no lar, e como consequência a igreja sofre com isso. Não confrontamos porque em nossos lares têm existido mais ódio do que amor. O ódio ativo se revela em: injustiça, fofoca e vingança. O ódio passivo se revela em: ódio farisaico, preconceito e rancor.

A confrontação jamais deve ser vista como algo pessoal, pois o encontro mais importante na confrontação não é o nosso encontro com a pessoa confrontada, mas com Cristo. A repreensão não deve forçar a pessoa a encarar nosso julgamento, mas dar a oportunidade de acertar-se com Deus. A confrontação não deve ministrar legalidade, e sim a graça de Cristo. Não deve ser motivada pela punição, mas pela esperança de que o Senhor libertará a pessoa que se encontra em prisão do seu pecado para conhecer a liberdade de andar em comunhão com Ele.

Nossa responsabilidade é segurar o espelho da Palavra de Deus na frente da pessoa para que ela possa enxergar a si mesma com exatidão, e jamais tentar ajudar alguém a enxergar-se a si mesma com nossas opiniões. Por isso é importante sondar nosso coração primeiro, para depois ajudar o próximo, segundo o diagnóstico do Senhor e da sua Palavra. Não podemos simplesmente oferecer soluções rápidas e superficiais, pois quando fazemos isso não estamos sendo guiados pelo amor de Deus e pela pessoa, mas por amor a nós mesmos.

É a bondade de Deus que nos leva ao arrependimento (Rm 2:4) e não o peso da Lei. É o amor de Cristo que nos compele a não mais vivermos para nós mesmos, mas para Ele (1 Co 5:14). Se Deus leva o pecado a sério, nós também devemos levar a sério o pecado. Ele sacrificou seu Filho por causa dos nossos pecados, então como podemos ser menos sérios a respeito dos nossos pecados do coração e do comportamento? A obra de Cristo e a presença do Espírito Santo nos deixam com a obrigação de levarmos o pecado a sério e o enxergarmos como Deus os enxerga: como uma questão de vida ou morte. Os verdadeiros filhos são guiados pelo Espírito e não pela natureza pecaminosa, eles são chamados a seguir Cristo em obediência.

“A Confrontação bíblica verdadeira confronta as pessoas com muito mais que seus pecados e fracassos. Ela confronta as pessoas com Cristo” (TRIPP, 2009, p.293). O alvo da confrontação não é forçar a mudança de comportamento, mas encorajar a nova natureza com o evangelho.


REFERENCIAL TEÓRICO:

TRIPP, Paul David. Instrumentos nas Mãos do Redentor: Pessoas que Precisam Ser Transformadas Ajudando Pessoas que Precisam de Transformação. São Paulo: NUTRA, 2009, p. 269-293.

A importância da infância baseada no brincar

No começo da década de 2010 houve um declínio da saúde mental em muitos países, indicado por um aumento acentuado nos índices de ansiedade ,...