Nos últimos 200 anos, o diagnóstico de
transtornos mentais tem sido muito mais uma questão de opinião profissional do
que uma definição por meios objetivos. Muitas dessas opiniões oferecem rótulos
de vários nomes como insanidade circular, psicose cicloide e excitação circular
sem evidências objetivas como testes laboratoriais e radiografias. Os
diagnósticos de “transtornos de humor” também eram feitos usando o histórico do
comportamento do paciente e seu histórico familiar (HODGES, 2015, p.32,164).
Transtorno de humor, incluindo depressão e
transtorno bipolar, tem ocupado o lugar central nos cuidados de saúde nos EUA
desde a década de 80, e no Brasil também não tem sido muito diferente, pois
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão atinge 5,8% da
população brasileira. O diagnóstico da depressão é subjetivo, ou seja, não há
testes de laboratório ou de raios-x que possam diagnosticar a depressão. O que
nós temos são critérios que devem ser satisfeitos, com uma série de sintomas
que precisam ser apresentados a fim de que se faça um diagnóstico de depressão.
Esses critérios são encontrados no Manual de Diagnóstico e Estatística de
Distúrbios Mentais conhecido pela sigla DSM (Diagnostic and Statistical Manual
of Mental Disordes).
Para que uma pessoa seja diagnosticada com
depressão, ela precisa apresentar cinco ou mais desses critérios listados abaixo,
e eles devem estar presentes por pelo menos duas semanas e devem representar
uma diferença no comportamento de uma pessoa (DSM-5, p.160).
A lista, de acordo com o DSM-5 (Transtorno
Depressivo Maior) inclui:
1. Humor deprimido na maior parte
do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex.,
sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras
pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser
humor irritável.)
2. Acentuada diminuição do
interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do
dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por
outras pessoas).
3. Perda ou ganho significativo de
peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso
corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias.
(Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.)
4. Insônia ou hipersonia quase
todos os dias.
5. Agitação ou retardo psicomotor
quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações
subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
6. Fadiga ou perda de energia quase
todos os dias.
7. Sentimentos de inutilidade ou
culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias
(não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente).
8. Capacidade diminuída para pensar
ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou
observação feita por outras pessoas).
9. Pensamentos recorrentes de morte
(não somente medo de morrer), ideação.
O problema do Transtorno Depressivo Maior
é que, na prática, esta abordagem diagnóstica não possui a acuidade de um teste
de glicose no sangue ou de um rápido exame bacteriológica. Há afirmações
subjetivas sendo feitas, tanto por pacientes, como por profissionais de saúde
(HODGES, 2015, p.27). Segundo Parker (2008, p.328, apud HODGES, 2015, p. 27) este
diagnóstico de depressão “inclui-se a falta de um modelo de diagnóstico
confiável válido”. Para se enquadrar você só precisa dizer ou relatar que tem
experimentado tristeza por um período de duas semanas, que tem se sentido muito
para baixo e outros mais. Segundo Hodges:
O
problema com estes critérios como ferramenta de diagnóstico é que eles incluem
sensações e experiências que quase todas as pessoas têm no curso normal da
vida. Coisas extremamente normais que são indicadores de uma doença, segundo
esses critérios (HODGES, 2015, p.28).
Conforme foi escrito num artigo de março
de 2010 no Jornal Americano de Psiquiatria (American Journal of Psychiatry),
Wakefilde concluiu quem uma pessoa normal que foi submetida a séries perdas
pode desenvolver um estado de depressão que poderia perdurar por mais de suas
semanas sem ter uma doença que exigisse tratamento (2010, apud HODGES, 2015,
p.28). O problema do teste é que não somente os critérios são defeituosos, mas
a maioria dos médicos não se utiliza deles ao diagnosticar a depressão (HODGES,
2015, p. 29). Os pacientes estão se arriscando a receber um diagnóstico que
poder ser impreciso, levando-o a um tratamento que não ajudará.
DOENÇA OU NÃO?
Há um número de doenças, reais e sérias,
que vem acompanhadas de transtornos de humor, dentre elas o hipotireoidismo e o
hipertireoidismo, o câncer de pâncreas, o baixo nível de potássio ou
hipocalemia são alguns deles. Como também existem problemas sérios na vida que
afetam nosso estado de humor, mas que nada tem a ver com doença. Quando decidimos
que nossa dor, sofrimento, tristeza, ou preocupação, são causados por disfunção
médica, nossas opções se limitarão aos remédios.
A Bíblia fala sobre três tipos de tristezas, sendo
que duas são espirituais em sua natureza, e uma física. Vejamos:
- · Tristeza piedosa que conduz à vida
- · Tristeza mundana que conduz a morte
- · Tristeza que não é espiritual, mas física (Exemplo: Hipotireoidismo)
Primeiro, a tristeza piedosa que conduz a vida deve
ser encorajada, pois ela é focada em Cristo (2 Co 7:10). No sermão do Monte,
Jesus disse: “Felizes os pobres de espírito, pois o reino dos céus lhes
pertence” (Mt 5:3). Jesus está falando sobre pessoas pobres de espírito, ou
seja, quer chamemos isso de melancolia, angústia ou depressão, há uma categoria
de pessoas tristes que não são julgadas por Jesus, mas sim honradas e a quem
Ele prometeu uma recompensa (LAMBERT, 2017, p. 53). Esse tipo de tristeza que
Jesus está mencionando aqui é a angústia para com o pecado, mas a dor aqui é
digna de louvor. Segundo, a tristeza mundana que conduz a morte é a dor focada
na própria pessoa e nas coisas do mundo, e não em Deus (2 Co 7:10). A dor
mundana é ruim, e precisa ser repreendida. Terceiro, a tristeza que não é
espiritual, mas física deve ter um cuidado físico. Por exemplo: se uma pessoa
possui um problema chamado hipotireoidismo, a tireoide não produz hormônio
suficiente. Isso gerará sentimentos de tristeza, mas isso não é culpa da pessoa
que enfrenta o problema. Ela possui uma debilidade física para a qual precisa
de uma ajuda médica (LAMBERT, 2017, p. 53-54). Nesse caso a Bíblia nos chama a
ajudar o fraco (1 Ts 5:14).
Patologia é definida como o estudo da
natureza essencial das doenças. Nenhuma doença existe no corpo humano sem
alguma espécie de mudança no nível celular, o que resulta numa função anormal
(HODGES, 2015, p.38). O dicionário define doença como “condição patológica de
uma parte, órgão, ou sistema de um organismo resultante de várias causas, tais
como infecção, defeito, ou estresse ambiental, e caracterizado por um grupo identificável
de sinais ou sintomas” (American Heritage Dictionaary). Patológico aqui
significa que quando parte do corpo é examinado por algum meio objetivo,
pode-se observar uma alteração no tecido. Doença
é mais bem definida por meios objetivos. Uma dor de cabeça pode indicar um
tumor no cérebro e uma tomografia computadorizada pode mostrar isso, porém veja
o que o DSM-5 diz:
Embora exista ampla literatura descrevendo
correlatos neuroanatômicos, neuroendócrinos e neurofisiológicos do transtorno
depressivo maior, nenhum teste
laboratorial produziu resultados de sensibilidade e especificidade suficientes
para serem usados como ferramenta diagnóstica para esse transtorno (DSM-5,
p.165).
Em outras palavras, nenhum exame físico é
específico para o diagnóstico de depressão. Mesmo que exista doenças que ainda
não possam ser definidas por patologia, a maioria pode. Muitos exames não são
suficientemente sofisticados para diagnosticar as causas de uma doença. Via de
regra, empregamos os termos “síndrome” e “transtorno”, quando estamos tratando
de um problema físico, mas não podemos identificar as células que causam o
problema.
A psicologia secular ou a própria medicina não tem
poder para ajudar as pessoas com problemas mentais quando a natureza delas é espiritual.
Ira, cobiça, ansiedade e egoísmo são todos problemas que a psiquiatria trata
com medicamentos, porém Deus chama essas coisas de pecado (Ef 4:26; Êx 20:17;
Fl 4:6; Mt 6:25; Gl 5:19-21). A rebeldia de uma criança ou adolescente é
chamada de Transtorno de oposição desafiante, porém Deus chama isso de pecado
(Êx 20:12; Ef 6:1-3). Questões espirituais devem ser tratados como categorias
morais que a Bíblia endossa e condena. Questões físicas e orgânicas devem ser
tratadas como categorias amorais para as quais a Bíblia não pronuncia um
veredito ético (Exemplo: mal de Alzheimer).
Por isso a importância de uma antropologia bíblica
para se tratar a depressão, angústia e dor. A psicologia não acredita que somos
seres espirituais e responsáveis, ou seja, seres humanos com um corpo e alma
que prestarão contas para um Deus soberano.
Assim como as teorias da psicologia secular são
teorias que não tem comprovação científica, a depressão também é uma teoria sem
comprovação científica. Numa pesquisa que examinou quarenta e sete estudos de
antidepressivos, pesquisa conduzida por laboratórios médicos, foi descoberto
que oitenta e dois por cento dos benefícios da medicação, eram de placebo. Em
mais da metade dos estudos publicados os antidepressivos não produziam efeito
melhor do que o placebo no tratamento da depressão (BEGLEY, 2010 apud HODGES,
2015, p 49). O que isso significa? Se um comprimido de açúcar pode “curar” a
doença tão bem quanto a droga real em oitenta e dois por cento dos casos, o
resultado é um grande desafio ao argumento de que a depressão seja uma doença.
Uma conclusão segura a que se pode chegar é que quando você toma um medicamento
e melhora, não necessariamente significa dizer que você tenha uma doença.
Haveria então algum lugar além da medicina, onde pudéssemos buscar esperança
para pessoas com transtorno de humor? Claro que sim, e este é o objetivo deste
artigo.
CONFUNDINDO TRISTEZA COM
DEPRESSÃO
Em nossos dias, médicos, psicólogos, e a sociedade
em geral, tem confundido tristeza com depressão. Quando fazemos isso perdemos
nossa habilidade de responder à tristeza de modo a transformá-la numa emoção
produtiva que resulte em mudança útil.
Segundo Seligman (1992, apud HODGES, 2015, p.152):
Uma das
causas da depressão é a tendência de magnificar os efeitos dos obstáculos. Na
medida em que você vê uma falha como algo que perdura e que você magnifica ao
ponto daquilo permear toda sua vida, você está inclinando a permitir que um
problema momentâneo se torne um motivo de falta de esperança. Mas você tem uma
perspectiva maior, como a fé em Deus e na vida eterna, e você perde, por
exemplo, seu emprego, aquilo não passa de um transtorno momentâneo.
O maior problema da rotulação é que desistimos de
procurar uma resposta para o nosso sofrimento. Uma vez rotulados, temos a
resposta. O rótulo determina como reagiremos ao nosso problema.
A tristeza não precisa necessariamente ser vista
como um transtorno, pois um problema físico, uma perda de um ente querido, de
um emprego, ou o fim de um namoro causam tristeza. A “tristeza normal” é o que
acontece à maioria de nós. A tristeza também pode ser vista como um presente de
Deus, enviada às nossas vidas para fazer coisas que não poderiam ser feitas de
outra maneira. Neemias se entristeceu visivelmente quando o rei notou sua
expressão facial. Seu rosto triste, e seu coração ainda mais triste, eram um
resultado direto de uma perda pessoal. Seu lar, Jerusalém, estava em ruínas (Ne
2:2-5). A extensão de sua tristeza era proporcional ao tamanho do problema.
O sofrimento faz parte da vida do crente (2 Tm
3:12; 2 Co 4:16-18; 1 Pe 14:12,13; Jo 16:22). Existem três causas para o
sofrimento:
- · O pecado pessoal
- · O pecado dos outros
- · O mundo corrompido pelo pecado
Primeiro, Deus deixa claro que nós somos
responsáveis pelos nossos atos, e não podemos transferir a outros a responsabilidade
do sofrimento que provém do nosso pecado pessoal (Tg 1:13-15). Segundo, nem
todo tipo de sofrimento é originado por um pecado pessoal, às vezes, sofremos
por causa do pecado dos outros (1 Pe 2:19-24). Terceiro, as vezes sofremos por
causa de desastres naturais, pois este mundo está marcado pelas cicatrizes do
pecado (Rm 8:20-22).
No livro de 1 Samuel 1 vemos outro exemplo de
tristeza como resultado de um sério problema. Ana viveu anos num lar onde seu
marido tinha outra esposa. A outra mulher era fértil, tinha filhos, e Ana não
podia ter filhos. Com o passar dos anos, a tristeza de Ana crescia (1 Sm
1:9-11). Por anos ela ainda suportou as provocações de sua rival. Na maioria
das clínicas de nossos dias, Ana seria tratada como uma pessoa doente. O
diagnóstico de Ana seria: Depressão.
Ana, Neemias, José e tanto outros personagens do
Antigo Testamento dão vida às palavras de Paulo em Romanos 8:28-29: “Sabemos
que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que
são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu,
também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que
ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.
Eles sofreram perdas. Cresceram com as perdas e os
sofrimentos. Deus foi glorificado, e muitas bençãos vieram como consequência.
EM BUSCA DA ESPERANÇA
Nos dias terrenos de Jesus certa mulher sofria com
um problema de saúde que a tecnologia médica disponível não poderia curar. Em
vez de ter um simples ciclo menstrual mensal, ela tinha uma hemorragia que já
se arrastava por doze anos (Lc 8:43-44). Ela havia gastado todo seu dinheiro
com médicos durante longos anos e seu estado estava cada vez pior. Ela
encontrou auxílio que somente Jesus poderia dar. Ela tocou a orla da veste de
Jesus e seu sangramento foi estancado. A doença que invalidara sua vida por doze
longos anos, fora curada num instante pelo Deus que a criara.
Há esperança para os que não têm encontrado ajuda,
por mais diligentemente que tenham procurado. Da mesma maneira que Jesus se
preocupou com uma pobre mulher que tinha um problema médico não tratado, ele
também se importa conosco quando sofremos. Assim como Deus tinha um plano para
Israel quando esta nação sofria o exílio Babilônico, Jesus se importa com você.
“Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos
de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Je 29:11). Devemos enfrentar
a tristeza e nossas perdas na vida à luz das Escrituras. Não podemos consignar
as pessoas às cisternas rotas dos diagnósticos e curas questionáveis, quando
está em nosso poder oferecermos a elas a água viva de Deus.
Busque ajuda com conselheiros bíblicos. O
aconselhamento bíblico consiste em ministrar as Escrituras àqueles que
enfrentam problemas ou que desejam a sabedoria e a orientação de Deus. O
aconselhamento bíblico está baseado na convicção de que as Escrituras são
suficientes para a tarefa de aconselhar e superiores a qualquer outro material
que o mundo tenha para oferecer (2 Tm 3:16,17; Hb 4:12; 2 Pe 1:3,4; Sl 119; Tg
4:4). O aconselhamento bíblico é um ministério da igreja local no qual os
crentes em Cristo, habilitados, capacitados e guiados pelo Espírito Santo (Jo
14:26), ministram a outros a Palavra viva e ativa de Deus buscando evangelizar
os perdidos e ensinar os salvos (BABLER; ELLEN, 2017, p. 89).
REFERENCIAL TEÓRICO
HODGES,
Charles D. Depressão e Transtorno Bipolar:
Ajuda e esperança para o enfrentamento eficaz. Eusébio: Peregrino, 2015.
LAMBERT,
Health. O evangelho e as doenças da mente.
Eusébio: Peregrino, 2017.
BABLER,
John; ELLEN, Nicolas. Fundamentos
teológicos do aconselhamento bíblico e suas aplicações práticas. São Paulo:
Nutra, 2017.
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