Há
poucos dias eu escrevi sobre o papel da mulher como auxiliadora de seu marido, (clique aqui para ler o artigo) e hoje quero falar sobre a liderança amorosa que o marido
deve exercer em seu lar. Em Efésios 5:25-33 vemos que a moeda tem dois lados. A
mulher deve se submeter ao marido como a igreja se submete a Cristo e o marido
deve ser o exemplo de liderança e autoridade no lar assim como Cristo exerce e tem
sobre a igreja.
LIDERANDO
EM GRAÇA E SUBMETENDO EM FÉ – Efésios 5:21-32
“...sujeitando-vos
uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5:21).
Devemos
submissão uns aos outros, no contexto amplo da igreja e no casamento. Isso
significa que o marido deve submeter sua liderança à esposa e esta, por sua
vez, deve receber sua liderança com submissão. A submissão da mulher não deve
ser entendida com uma de escravidão ao marido, pois, como Paulo diz em Gálatas
5:1 e Pedro diz e 1 Pedro 2:16, nós fomos chamados por Cristo para a liberdade
e não para um novo jugo de escravidão, caso contrário seria melhor ficar
solteiro.
Liderar
não é o mesmo que governar. O marido não governa a esposa, pois o termo
governar provém da maldição do pecado, e é um pecado: “O teu desejo será para
[contra] teu marido, e ele te governará” (Gn 3:16b). A esposa não é escrava do
desejo de seu marido, mas seu desejo está em Deus (Sl 37:4-5). O marido deve
liderar em favor da esposa. Amar é dar. Amor é coisa que recebemos somente de
Deus a fim de conceber ao próximo. O marido também é “esposa de Cristo”, submisso
a missão proposta por Deus na sua vida em geral, em particular e no casamento
(GOMES, 2014, p.34,47-48)
A mulher
é a glória do homem! (1Co 11:7). Assim como Deus se movimenta em graça em
direção ao homem e este se movimenta em fé para recepção da graça, o homem
lidera em graça e a mulher se submete em fé.
O marido
propicia à mulher o entendimento e a prática da liderança de Deus (graça), e a
mulher propicia ao marido a prática e o entendimento da submissão devida a Deus
(fé).
O
EXEMPLO DE LIDERANÇA AMOROSA DE CRISTO
Comparado
ao que Jesus Cristo exigiu do marido, vemos que o papel da mulher é bem suave.
O
que quero dizer com isso? A esposa deve seguir o exemplo da igreja em seu
relacionamento com Cristo, e esse relacionamento deveria ser perfeito, mas não
é, e está longe de ser, porém, a liderança de Jesus Cristo, ao contrário da
obediência defeituosa de sua igreja, é perfeita, e o papel que o marido deve
exemplificar e exercer é uma tarefa muito difícil, grande demais para seres humanos
pecaminosos e fracos. Somente através do Espírito de Deus operando na vida do
marido é que ele pode começar a se aproximar da liderança amorosa que o Senhor
Jesus exerce sobre sua igreja. Isto é uma ordem, não é uma opção.
Quando
nós maridos falhamos, não falhamos apenas em relação a nossa esposa, mas
falhamos também em representar o amor de Jesus pela sua igreja. Quando deixamos
de refletir Cristo em nosso casamento, prejudicamos o nome dele. Nós maridos
fomos chamados para revelar Jesus Cristo mediante a liderança que exercemos em
nosso lar. Quando fracassamos, representamos de maneira deplorável, uma imagem
distorcida de Cristo para as outras pessoas.
A
autoridade de Cristo no lar, está centralizada no marido. Não está centralizada
na mulher ou nos filhos. Deus depositou sua autoridade para a família no marido
(ADAMS, 2011,
p.131).
Assim
como Cristo é a cabeça da igreja, o marido é a cabeça do lar. Isto significa
que ele é o líder. O marido é responsável por tudo o que acontece no lar. Se
algo está acontecendo sem que ele saiba, é porque tem alguma coisa errada.
Ser líder
do lar é ser um administrador. Um administrador focaliza sua visão em tudo o
que acontece em sua casa, mas não faz tudo sozinho. Ele sabe extrair o
potencial e as habilidades de todos os membros da família. Ele deve cuidar para
que todos os membros da família recebam o melhor tratamento.
Há duas
áreas que o marido deve cumprir com sua função administrativa do lar:
- · Cuidar do bem-estar físico, alimentação, roupa, moradia e etc.
- · Deve ser zeloso com o culto familiar, o estudo das Escrituras em família, oração doméstica, frequência da família à igreja, o testemunho da família em sua comunidade, a relação direta que a família deve ter com Deus para cumprir o serviço ao qual ele os chamou (ADAMS, 2011, p.136-137).
O segundo
ponto (o mais importante) é o que os maridos mais falham. É nesse ponto que
lamentavelmente eles têm fracassado, e o pior, tem passado essa
responsabilidade para as mulheres. Os filhos têm aprendido que a igreja é para
mulheres e que os homens não precisam de igreja. Para piorar os pintores da era
medieval e contemporânea sempre retrataram Cristo como um indivíduo fraco e
quase feminino. Esse cristo dos artistas não é o Cristo que suportou a morte de
cruz e que expulsou do templo os cambistas que estavam profanando a adoração a
Deus. Ele cresceu trabalhando em uma carpintaria, era um homem forte, másculo.
Essa
liderança não consiste só em autoridade, mas também em uma liderança amorosa,
influenciada pelo amor de Jesus, para que o marido se torne capaz de amar sua
esposa como Cristo amou a igreja, ou seja, a ponto de morrer por ela.
AMOR NÃO
É UM SENTIMENTO, MAS UMA DECISÃO DE ENTREGA
O amor
não é primeiramente um sentimento, e sim uma entrega de alguém a outra pessoa.
Primeiramente
é preciso compreender o que a palavra “sentimento” significa em nossa sociedade
e o que a Bíblia diz a respeito dos sentimentos. A expressão “eu sinto” tem se
tornado uma autoridade máxima para muitas pessoas quando apelam exclusivamente
para seus sentimentos na tomada de decisão. Uma pessoa pode alegar que não sente
mais amor pelo seu marido, e concluir que deve se divorciar. Outra pessoa pode
dizer que não sente vontade de ler a Bíblia, e por isso pensar que não precisa mais
ler. Muitas pessoas estão seguindo seus sentimentos para fazerem escolhas, conhecerem
a verdade, provar coisas, querer coisas, e realizar-se nelas.
“Ser
dirigido por sentimentos é o problema motivacional das pessoas” (Jay Adams),
pois os pecadores são dirigidos por mentiras e cobiças. Frases iniciadas com a
expressão “eu sinto”, são vagas ou autoenganadoras (David Powlison).
As sensações
percebidas podem ou não, ser declaradas como reais. As pessoas podem
experimentar eventos externos, internos e interpessoais. Uma pessoa pode sentir
dor ao cortar seu dedo, pode sentir-se tensa e com dores abdominais por ter um
problema emocional, pode sentir-se como se tivesse sido apunhalada ao ouvir
palavras duras etc. O problema é que quando uma pessoa diz que se sente ferida
por ter sido maltratada por alguém (cônjuge), sua interpretação sobre sua dor
pode não ser real devido à complexidade da expressão “eu sinto”. Sua dor é
justificada por que alguém (cônjuge) a maltratou ou por que alguém não realizou
sua expectativas?
O
sentimento também é demonstrado através das emoções: raiva, ansiedade, medo,
culpa, depressão, excitação, gratidão, alegria. As emoções são como um detector
de fumaça, ou seja, não são o problema primordial, mas alertas relativos ao
problema primordial. As emoções são presentes de Deus para atuarem como
indicadores externos daquilo que está acontecendo no coração da pessoa, que
está intrinsicamente ligado ao problema que ela está enfrentando.
Os
sentimentos mostram mais sobre quem está falando, e menos sobre o que realmente
é verdade. Os sentimentos mais escondem os verdadeiros pensamentos, crenças,
opiniões e atitudes do que revelam. Em vez de perguntar o que a pessoa está
sentindo é preciso fazer perguntas como: O que aconteceu realmente? O que você
pensa e crê sobre isso? Como você julga o comportamento daquela pessoa nessa
situação? Isso é verdadeiro e justo, ou falso e pecaminoso?
Uma
pessoa que é orientada pelos sentimentos é alguém que só faz o que sente
vontade de fazer, e não faz o que não sente vontade de fazer, mas uma pessoa
orientada pela obediência é alguém que faz o que é exigido biblicamente, quer
sinta vontade ou não.
Marido,
se não há amor em seu lar, a culpa é sua. Se há pouco ou nenhum amor em seu
lar, a culpa é sua. Um homem jamais pode dizer: “Eu não amo mais minha esposa”.
Lembre-se, Jesus não teve escolha em amar sua igreja. A igreja nunca foi
amorosa e digna de ser amada, pelo contrário, Jesus morreu por uma igreja
pecadora, rebelde, inimiga de Deus. Ele decidiu amar, sem haver qualquer coisa
que lhe enchesse os olhos.
Se o amor
esfriou em nosso lar, é nosso dever como maridos tomar providências para
reiniciar esse amor.
LIDERANÇA
AMOROSA OU EGOÍSTA?
Muitas
pessoas confundem amor com atração. A
Bíblia fala que o amor não é medido pelo o que eu recebo, mas o quanto estou
disposto a dar (Gn 22; Jo 8:56). O amor é sacrificial na visão bíblica (Ef
5:25-29).
O
egocentrismo do pecado pode produzir uma atração por outra pessoa, mas essa
atração não deve ser confundida com amor, porque não consegue fazer o que só o
amor pode fazer quando as razões dessa atração desaparecem (TRIPP, 2011, p.
40).
A
atração é o oposto do amor exatamente em sua essência. A atração é egoísta em
sua essência, enquanto o amor é medido por aquilo que estou disposto a dar. A
atração é aquilo que sonhamos para nós mesmos, e somos atraídos por pessoas que
satisfazem nossos desejos, pois estamos preocupados mais com o que diz respeito
a nós mesmos. Olhamos para o cônjuge
como um meio de conseguir o que queremos. Somos atraídos por pessoas que satisfazem
nosso ego. Isso se chama atração egoísta, ou seja, na superfície pode parecer
maravilhoso, mas um casal pode estar atraído um pelo outro por motivos
egoístas, e quando os problemas aparecem o sonho egoísta morre, e aí entra a
oportunidade de um verdadeiro amor começar a crescer.
Vivemos
a serviço de dois reinos:
- · Reino do ego: quando vivemos a serviço dos propósitos pequenos e egoístas
- · Reino de Deus: quando vivemos a serviço dos enormes propósitos que regem tudo, da origem ao destino (TRIPP, 2011, p.39).
No
reino do ego, procuramos a companhia de pessoas que sirvam aos propósitos do
nosso reino, e não avaliamos essas pessoas partindo da perspectiva das leis do
reino de Deus, mas da perspectiva das leis do nosso próprio reino.
O
marido egoísta é aquele que usa a esposa e os filhos para servirem seus desejos.
Ele se ama tanto que não se importa se sua esposa e seus filhos violem as leis
do reino de Deus, mas fica irado quando violam as leis do reino do seu ego.
O
amor não é um sentimento que vem e some no dia seguinte. O amor deve crescer.
Tem de ser regado, tratado e cuidado. Deve ser cultivado. Não há espaço para
preguiça, tem de ser limpo das ervas daninhas. O amor tem seus problemas, mas o
verdadeiro amor pode crescer e tornar-se grande e forte quando cultivado como
Deus ordena (ADAMS; 2011,
p.150).
Marido,
de quem é o reino que está moldando seu casamento? O que realmente o deixa
feliz? Será possível que aquilo que você quer de verdade é que a outra pessoa o
ame da mesma maneira que você se ama? (TRIPP; 2011, p.44).
“Pois o amor
de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por
todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem
já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e
ressuscitou”
“Que venha o
teu reino, que seja feita a tua vontade [aqui e agora neste casamento] assim como
é feita nos céus” (Mt 6:10)
REFERENCIAL TEÓRICO
ADAMS,
Jay. A Vida Cristã no lar. 2. ed. São
José do Campos: Fiel, 2011.
TRIPP,
Paul D. O que você esperava? Expectativas fictícias do casamento. São
Paulo, Cultura Cristã, 2011.
GOMES,
Wadislau. Um Marido olhando a sua Esposa. Brasília: Monergismo, 2014.