O que significa o termo “defraudar a nós mesmos do devido uso e conforto da posição em que Deus
nos colocou”, referente a pergunta 142 do Catecismo Maior de Westminster,
onde fala sobre os pecados proibidos no oitavo mandamento, “Não furtarás”?
Defraudar alguém significa abusar dessa
pessoa, aproveitando-se de sua fraqueza, ingenuidade ou posição de
inferioridade. Não é difícil imaginar situações desse tipo na esfera religiosa,
governamental e familiar. Mas, o que seria então defraudar a nós mesmos? De que
maneira podemos furtar ou negligenciar nossos deveres para com Deus e com o próximo
com aquilo que o próprio Deus nos abençoou através dos nossos pedidos de
oração?
Quero dar alguns exemplos que podem nos ajudar
a compreender melhor quando estamos defraudando a nós mesmos.
Meu filho sempre pede para deixa-lo assistir
um desenho animado no meu smartphone. Sempre digo a ele que só poderá assistir
um desenho, e logo após terminar ele deverá me entregar o smartphone. Ele diz
que sim. Porém, quando peço para ele devolver ele já está no terceirou ou
quarto desenho, além de não quere devolver ainda fica irado. Muitas vezes tenho
que discipliná-lo exatamente naquilo em que eu tive prazer de satisfazer seu
desejo. O mesmo fazemos com Deus, muitas vezes ele tem prazer em nos abençoar
dando para nós aquilo que pedimos, mas o desagradamos em não usufruir da
maneira correta. Isto é defraudar a
nós mesmos do devido uso e conforto da posição em que Deus nos colocou.
Um exemplo clássico é o de uma pessoa solteira
que tem o desejo de se casar e pede isso para Deus em oração. Deus em sua
bondade, graça e misericórdia abençoa esta pessoa para que ela possa encontrar
alguém com quem poderá compartilhar suas alegrias, tristezas e desejos de servir
a Deus a dois. Porém, quando este casal de namorado decide-se casar, eles
precisam tomar decisões como o de escolher onde morar e como lidar com as
despesas. Muitos pais estão defraudando seus filhos, com conselhos antibíblicos
do tipo: “Por que vocês não vêm morar com
a gente, assim não precisam pagar aluguel”, ou “Aluguel é um dinheiro perdido, vocês não terão retorno desse dinheiro
jogado fora”.
O que a Bíblia diz sobre morar com os pais: O
filho deve deixar pai e mãe e unir-se a sua mulher. Isso significa desligar-se
de dependência financeira e espaço geográfico. Se isso não acontecer haverá uma
dependência emocional e psicológica do casal na convivência com os pais, o que
não é saudável, pois não é bíblico. Também poderá acarretar sérios problemas no
futuro podendo chegar até um divórcio (Gn 2:24, Mc 10:7,8).
Suponhamos que este casal acabe aceitando
viver conforme os conselhos de seus pais. Qual seria a dificuldade que este
casal encontraria para servir a Deus voluntariamente em algum ministério na
igreja? Veremos alguns exemplos mais adiante. Estes pressupostos são
gravíssimos, pois este casal compreendeu que, o mais importante é o retorno financeiro
(material), quando deveriam preocupar-se mais com o “retorno espiritual”, ou
seja, construir passo a passo as bases espirituais do seu casamento de acordo
com os pressupostos bíblicos, mesmo que isso envolva pagar aluguel, pois o que
está em jogo não é o retorno financeiro, e sim a disposição em servir a Deus
com obediência desde o início.
Alguns vão pensar em adiar o casamento para
construírem suas casas, e acabarão violando o sétimo mandamento (Catecismo Maior
de Westminster – 139; 1 Tm 5:14,15; 1 Co 7:36: sobre a demora indevida do
casamento).
Outro problema, seria o trabalho demasiado. Se o objeto de vida deste casal agora está mais concentrado nos bens materiais, é certo que não
terão disponibilidade e disposição de atuarem de forma voluntária em algum
ministério na igreja. Pode até ser que este casal chegue a atuar no ensino
bíblico na igreja, porém eles poderão estar furtando o direito de outras
pessoas de receberem uma exposição bíblica verdadeira, pois quando chegarem
nas passagens bíblicas de Gn 2:24 e Mc 10:7,8 eles poderão dizer coisas do
tipo: “Os tempos hoje são outros”, “Isso é coisa daquela época, não se aplica em nossos dias”. O
próprio trabalho que Deus concede a uma vida se torna um meio pelo qual a pessoa
deixa de se envolver nas atividades da igreja. Isto é defraudar a nós mesmos do
devido uso e conforto da posição em que Deus nos colocou.
Muitas vezes Deus nos abençoa com a redução da
carga horária de nosso trabalho para termos mais tempo com nossa família e
ministérios na igreja, e usamos desse tempo para praticarmos iniquidades. Isto
é defraudar a nós mesmos do devido uso e conforto da posição em que Deus nos
colocou.
Outras vezes Deus nos abençoa com a chegada de
novos membros para nos ajudar nos trabalhos evangelísticos da igreja, mas
menosprezamos estas pessoas por nos acharmos únicos e capazes de cumprir esta
missão. Isto é defraudar a nós mesmos do devido uso e conforto da posição em
que Deus nos colocou.
Veja bem quais são as bênçãos que você tem
recebido de Deus no trabalho, na família, na igreja e nos estudos e veja a
forma como tem usufruído delas. Se não estiver usufruindo corretamente, você estará furtando
os direitos de alguém e defraudando a si mesmo.
Algumas referências
Bíblicas:
“Havia um
homem totalmente solitário; não tinha filho nem irmão. Trabalhava sem parar!
Contudo, os seus olhos não se satisfaziam com a sua riqueza. Ele sequer
perguntava: "Para quem estou trabalhando tanto, e por que razão deixo de
me divertir? " Isso também é absurdo. É um trabalho muito ingrato!” (Eclesiastes
4:8)
“Pois vocês
conhecem os mandamentos que lhes demos pela autoridade do Senhor Jesus. A
vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade
sexual. Cada um saiba controlar o próprio corpo de maneira santa e honrosa, não
com a paixão de desejo desenfreado, como os pagãos que desconhecem a Deus. Neste
assunto, ninguém prejudique a seu irmão nem dele se aproveite. O Senhor
castigará todas essas práticas, como já lhes dissemos e asseguramos. Porque
Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Portanto, aquele que
rejeita estas coisas não está rejeitando o homem, mas a Deus, que lhes dá o seu
Espírito Santo” (1
Tessalonicenses 4:2-8)
“Respondeu o
Senhor: "Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia
apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será
tirada" (Lucas
10:41,42)
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