Vimos no artigo anterior que no começo da década de 2010 houve um declínio da saúde mental em muitos países, indicado por um aumento acentuado nos índices de ansiedade, depressão e automutilação em pré-adolescentes e adolescentes, com maior impacto nas meninas.
Passamos por uma transição de uma “infância baseada no brincar” (até anos 1980) para uma “infância baseada no celular” (a partir dos anos 2010). Com isso houve uma ascensão do medo e da superproteção dos pais.
Com a transição dos celulares básicos para smartphones no início de 2010 intensificou e diversificou as atividades digitais de modo a acentuar quatro prejuízos fundamentais da nova infância baseada no celular: privação social, privação do sono, atenção fragmentada e vício.
Mas, por que as redes sociais têm um impacto negativo maior nas meninas que nos meninos? O psicólogo social Jonathan Haidt apresenta quatro razões para maior vulnerabilidade das meninas:
- Comparação social visual e perfeccionismo
- A agressão das meninas é mais relacional
- Meninas dividem mais suas emoções e dificuldades
- Meninas estão mais sujeitas a predadores e assédio
1. COMPARAÇÃO SOCIAL VISUAL E PERFECCIONISMO
Adolescentes são especialmente vulneráveis à insegurança. Quase todos se importam com a aparência. Para as meninas o risco é mais alto, porque, mais do que nos meninos, sua posição social costuma estar ligada a beleza.
Quando
entram nas redes sociais, elas ficam sujeitas a julgamentos severos e
constantes de sua aparência e seu corpo. Elas são confrontadas por padrões de
beleza inatingíveis. Há filtros de aplicativos, conforme figura abaixo, que
aprimoram a beleza virtual, basta apertar um botão e se transforma em uma
beldade cada vez menos realista das redes sociais.
O perfeccionismo socialmente prescrito é aquele que faz a pessoa sentir que precisa atender às elevadíssimas expectativas estabelecidas por outra pessoa ou pela sociedade. E isso em uma relação próxima com a ansiedade, pois pessoas perfeccionistas sempre temem a vergonha do fracasso público.
2. A AGRESSÃO DAS MENINAS É MAIS RELACIONAL
Tradicionalmente os meninos negociam seu status social superior ou inferior em parte, com base em quem será mais capaz de dominar uma briga. Com as meninas, a maneira real de machucá-las é atingir seus relacionamentos, como espalhar boatos, fazendo as amigas se voltarem contra elas diminuindo seu valor etc.
Se uma menina sente que está perdendo seu valor, a ansiedade dispara. Se a queda do seu sociômetro for significativa, ela pode entrar em depressão e pensar em suicídio. Para adolescentes deprimidas a morte social é o inferno na terra e a morte física, o fim da dor.
3. MENINAS DIVIDEM MAIS SUAS EMOÇÕES E DIFICULDADES
Quando os homens se encontram, em geral é para fazer alguma coisa, e não para conversar sobre como se sentem. As mulheres são mais emocionalmente expressivas que os homens.
As emoções positivas (alegria) e negativas (tristeza) podem se alternar em uma comunidade ao longo do tempo. Estudos apontam que emoções negativas tendem a se espalhar com intensidade maior pelas redes de relações do que as positivas.
A depressão e a ansiedade são mais contagiantes que uma boa saúde mental (felicidade) e como as meninas têm maior probabilidade de falar sobre seus sentimentos com suas amigas que os meninos, elas acabam sendo mais atingidas em uma epidemia “sociogênica” (gerada por forças sociais).
4. MENINAS ESTÃO MAIS SUJEITAS A PREDADORES E ASSÉDIO
Predadores sexuais são uma ameaça muito maior na internet para as meninas que para os meninos. Em muitas regiões do mundo, homens mais velhos se utilizam de aplicativos de relacionamentos para encontrar suas prezas.
Geralmente as meninas querem ter o maior número de amigos, seguidores e curtidas. Muitas delas publicam fotos de si mesmas de biquini que seus seguidores podem ver. O que facilita a vida de predadores mais velhos.
Em algumas escolas os meninos tentam persuadir as meninas a enviar nudes para eles. Quando as meninas enviam nudes, os efeitos podem ser devastadores, e muitas vezes é assim que começa o cyberbulling.
Fotos de seu corpo nu se tornam moeda de troca para meninos em busca de prestígio social, e é o constrangimento delas que paga o pato.
CONCLUSÃO
Este artigo não tem a pretensão de propor algum tipo de regulação das redes sociais. Mas, de orientar e deixar um alerta para pais dedicados sobre o que está acontecendo no coração de seus filhos no ambiente virtual.
As plataformas sociais estão apenas trazendo para fora aquilo que está no coração (Pv 4:23; Pv 22:15;) e oferecendo um contexto em que o coração ativo e obstinado se revela e se expressa (Tg 1:2,14; Pv 29:25). Não devemos ser negligentes com esse assunto, pois o problema é real, e as redes sociais não deveriam substituir relacionamentos reais.
REFERENCIAL TEÓRICO
HAIDT, Jonathan. A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.
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