O
livro de Juízes na Bíblia traz consigo um ciclo de falhas. Sempre que o povo de
Deus se afastava do Senhor estes sofriam nas mãos dos seus inimigos, assim eles
clamavam a Deus por socorro, e Deus, graciosamente levantava um juiz para os
libertar. Então quando tudo estava bem eles voltavam a flertar com deuses
pagãos, levando o povo a opressão física novamente.
Em
Juízes 13 é descrito que o povo de Israel estava vivendo em opressão nas mãos
dos filisteus por 40 anos. Esse é o maior período de opressão estrangeira
registrado no livro. É interessante observar que eles não clamaram a Deus por
socorro como das outras vezes. Não há arrependimento ou pedido de perdão por
parte do povo. Mesmo assim Deus se move em direção deles.
O
Anjo de Senhor apareceu a uma mulher estéril dizendo que ela teria um filho, e
que sua missão seria começar a libertar Israel do poder dos filisteus (Jz
13:5). Esta é a providência de Deus agindo na história. Quando ela deu à luz um
filho, deu-lhe o nome de Sansão.
Deus
havia dito que o menino seria nazireu deste o ventre materno. O voto de nazireu
envolvia algumas restrições: impedimento de consumir vinho ou bebida forte, não
passar a navalha no cabelo e não tocar em cadáveres (Nm 6:1-21). No caso de
Sansão esse voto não seria por um tempo determinado, mas durante a vida toda.
No
capítulo 14 vemos que Sansão manifesta o desejo de se casar com uma mulher
filisteia. Deus nunca proibiu o casamento entre etnias, não se trata de
racismo. Aliás, nesse mesmo período de juízes, Rute a moabita creu em Deus e
casou-se com Boaz. O que Deus havia expressamente ensinado a Israel era não
casar seus filhos com descrentes (Êx 34:12-16).
O
que agradou a Sansão com aquela mulher sobrepujou o amor que ele tinha pelo
Senhor. Não se case com alguém que não ame ao Senhor. Sansão deveria começar a
libertar seu povo da opressão dos filisteus e não fazer amizade com o inimigo
se casando com uma moça desse povo.
Em
Juízes14:5-9 diz que Sansão não somente mata um leão como também o “rasga em
dois” com as mãos limpas. Sansão não era naturalmente forte, mas
sobrenaturalmente forte, pois ele lutava no poder do Espírito de Deus.
Depois
de alguns dias ele volta para ver o leão morto e nota algo estranho, um enxame
de abelhas se alojou na carcaça do animal, e havia mel ali. Ele então pega o
mel e sai dali comendo, violando seu voto, pois não podia tocar em cadáveres.
A
história deixa algo bem claro sobre a vida de Sansão: Deus levantou um homem
imperfeito cheio de falhas para livrar Israel. Era um homem que seguia seus
impulsos e que fazia o que era reto aos próprios olhos. Se os seus olhos
apreciavam algo, ele ia e pegava.
Depois
de se divertir fazendo charadas com os trinta convidados na festa do seu
casamento, sua noiva foi pressionada pelos filisteus sob a ameaça de incendiar
sua família a convencer Sansão a contar o segredo, pois caso não descobrissem o
significado da charada cada um teria que dar uma veste festiva para Sansão.
Vimos
até aqui que o povo de Deus está vivendo tempos aparentes de paz, mas isso não
é verdade, pois é um tempo de opressão, domínio e sujeição forçada a um povo
que odeia o Senhor. Deus irá colocar inimizade entre seu povo e os filisteus para
libertar seu povo levando-os para uma verdadeira paz, mas para isso será
necessário fazer uma guerra.
“Se
queres paz, prepara-te para guerra”. Deus fez surgir uma inimizade por meio do
juiz falho Sansão. Então ele vai até Asquelom, uma das cidades fortes dos
filisteus e mata trinta homens, pega as roupas deles para pagar sua dívida,
larga sua noiva e volta para sua terra.
Vez
e outra Deus levanta perseguição sobre a igreja para que possamos acordar.
Muitas vezes o nome no Senhor é zombado pelo mundo, e Deus usa até mesmo o
nosso pecado para nos fazer odiar o pecado. Sansão estava em grande amizade com
os filisteus. Mas agora a amizade está acabando.
Depois
de saber que sua noiva havia sido entregue a outro homem, Sansão captura
trezentas raposas e as amarra a algo em que pode atear fogo. Era época de
colheita de trigo e ele solta as raposas nas lavouras para queimar tudo. Um
desastre financeiro incalculável. Como resultado, os filisteus queimam seu
sogro e aquela que fora sua mulher (Jz 15:1-8).
A
reação de Sansão é ainda pior, pois ele fere seus inimigos com grande
carnificina. O ponto importante aqui é saber que Deus está colocando esta
inimizade. Em Gênesis 3:15 Deus havia dito que a humanidade seria envolta em
inimizade entre a semente da serpente e o descendente da mulher. Essa inimizade
vai durar enquanto o mundo existir.
Por
isso é um perigo quando os filhos de Deus se sentem muito confortáveis em meio
aos inimigos do Senhor. Israel estava submisso e se sentia feliz com isso.
Mesmo que as atitudes dos homens sejam más como as de Sansão, Deus extrai
coisas boas para fazer avançar seu plano de redenção na história.
Judá
deveria ser a tribo que lideraria o povo de Israel a vitória (Jz 1:1,2), mas
essa tribo só queria ser “dominada em paz”. Havia aceitado sua posição de conquistada.
Para sua vergonha ela ainda reúne três mil homens para entregar Sansão amarrado
aos filisteus ao invés de lutar com ele.
“Quebre
os grilhões da cela, mas não se assuste se o prisioneiro não sair. Talvez a
cela seja absurdamente confortável” (Jonas Madureira). Infelizmente a igreja é
muito parecida com estes judeus aqui. É muito mais fácil cedermos ao mundo para
não perdermos o conforto. É mais fácil ceder em nossas crenças para sermos
amados pelo mundo e podermos viver uma suposta paz. Estar debaixo do domínio do
mundo pagão não é paz, mas, sim prisão.
Mesmo
Sansão sendo um homem cheio de falhas, ele é o caminho que Deus está provendo
para livrar seu povo. Infelizmente, muitos cristãos passam a evitar situações
conflituosas para terem a aprovação da cultura onde vivem. São como Judá:
domados, dominados, gente na coleira e usando focinheira. Gente que tenta
amarrar e entregar qualquer um do povo de Deus que faça barulho e incomode os
poderosos.
O
povo de Deus teve que pagar um preço para entrar na terra prometida. No Antigo
Testamento foram muitas as vezes que eles tiveram que pegar em armas contra o
mal. Assim como Judá, muitos cristãos atualmente estão acomodados e calados diante
das forças do mal, estão desonrando o sangue daqueles que lutaram pela terra.
Mas
o Senhor se levanta para destruir o mal, e desta vez quando Sansão é entregue
pelo seu próprio povo o Espírito do Senhor de tal maneira de aposso dele que as
cordas que o amarram se desfizeram em suas mãos. Com uma queixada de jumento
ainda fresca ele mata mil homens (Jz 15:14-20).
Do
ponto de vista espiritual, sabemos que Sansão não anda lá muito bem, porém, ele
mesmo reconhece que foi um instrumento de Deus nesta passagem. Mesmo com o
coração frio e longe, ainda temos um Deus que segue agindo. O Senhor abre uma
fenda de onde sai água e Sansão renova suas forças.
Podemos
clamar por socorro e por seu amor. Nossas orações não são atendidas com base em
nossos méritos, mas sim nos méritos de Jesus Cristo. Somos um povo que nunca
mereceu os cuidados de Deus, mas ele ainda segue presente e fiel.
São
muitos os que odeiam o Senhor e seu povo. Deus ri das tentativas de seus
inimigos de destruir seu povo (Sl 2:1-4). Não feche seus olhos para o mal. Que
não sejamos como Judá, pois o sangue dos nossos irmãos que sangraram no
coliseu, nas catacumbas, nas prisões, nas selvas, nas ilhas, nas cidades exige
que não nos conformemos. O sangue do nosso Rei garante que a luta nunca será
vã. De que lado dessa história você está lutando?
REFERENCIAL
TEÓRICO
GAROFALO,
Neto Emílio. Sansão e o amor invencível:
a vitória de Deus por meio de heróis quebrados. São José dos Campo: Fiel, 2022.