Muitas
pessoas, como adultos e principalmente adolescentes acabam cedendo à pressão do
grupo da comunidade onde estão inseridos e tomam decisões insensatas por causa
do medo de rejeição (cancelamento), imaginando o que os outros estão pensando
sobre sua roupa ou comentários que fizeram durante uma reunião com amigos. Esse
comportamento mostra que estão mais preocupadas em “não parecer como idiotas”
(temor de homem) do que não viver pecaminosamente (temor do Senhor).
Muitas
vezes, deixamos de temer a Deus porque temos vergonha de sermos expostos, temos
medo da rejeição, medo de sermos ridicularizados, medo de que nos machuquem
etc. O medo da rejeição tem feito muitas pessoas crer em Jesus de maneira
secreta, pois temem viver para Deus e confessar Jesus como Senhor de suas
vidas.
“Contudo,
muitos dentre as próprias autoridades creram nele, mas, por causa dos fariseus,
não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga; porque amaram mais a
glória dos homens do que a glória de Deus” (Jo 12:43). Muitos líderes da época
de Jesus criam nele secretamente, pois temiam confessar sua fé por causa das
possíveis reações dos fariseus da sinagoga. Eles sentiam que precisavam do
louvor das pessoas. Eles temiam a rejeição mais do que temiam ao Senhor.
Em
Gálatas 2, nos
versos de 1 a 10 vemos o problema que Paulo estava tendo entre os cristãos judeus e os cristãos gentios, o grupo dos circuncisos e o grupo
dos incircuncisos em Jerusalém. Falsos irmãos que estavam infiltrados entre
os gentios acreditavam que os gentios tinham de aceitar a circuncisão para
serem salvos. Este grupo estava tentando privar os convertidos de sua liberdade
em Cristo (2:4).
Nos
versículos de 11 a 21 encontramos o conflito de Paulo com Pedro em Antioquia.
Pedro veio a suprimir a verdadeira mensagem do evangelho ao manter-se separado
dos cristãos gentios. Até Barnabé veio a ser influenciado por sua atitude
condenável (v.13). É bem provável que este conflito tenha ocorrido durante o
intervalo do Concílio de Jerusalém (At 15:1-29) e o início da segunda viagem
missionária (At 15:40ss). Paulo condenou a atitude de Pedro por ter se afastado
dos gentios, exatamente por causa da marca externa da circuncisão. Ele chamou
esse ato de hipocrisia (dissimular: v.13).
A
grande preocupação de Paulo era com a verdade do evangelho (Gl 2:5,14) e não
com a paz da igreja, pois a paz a qualquer custo, ou seja, que não tem por base
a verdade, não é verdadeira paz. Muitas vezes crentes fortes, assim como
Pedro, são atingidos poderosamente por essa estratégia de Satanás de se
desviarem da verdade do evangelho para seguirem opiniões humanas a ponto de
surgirem “ciúmes e contendas” (1Co 3:3) com aqueles que deveriam estar
“inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1Co
1:10). “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” (Sl 133:1).
Pedro
era um homem impulsivo, no mesmo instante que era capaz de demonstrar fé e
coragem extraordinárias, ele sucumbia logo em seguida. As áreas que mais somos
propensos a perder o autocontrole são aquelas onde somos mais fortes. O
apóstolo Pedro era conhecido por sua ousadia e coragem. Ele disse que
defenderia Jesus Cristo frente a qualquer posição. Quando os soldados vieram
prender Jesus, ele sacou da espada e cortou a orelha do servo do sumo sacerdote
(Jo 18:10). No entanto, naquela mesma noite, Pedro negou Jesus três vezes (Jo
18:17-27). Uma confiança excessiva em nossos pontos fortes pode sabotar nosso
autocontrole nas próprias áreas em que somos fortes. Outro exemplo seria quando
ele foi ao encontro de Jesus sobre as águas, mas quando viu a força das ondas,
ele logo se assustou e começou a afundar com medo (Mt 14:30).
Pedro
foi uma das principais testemunhas em favor da liberdade em Cristo quando
esteve na casa do centurião Cornélio (At 10). Ele disse: “Reconheço, por
verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer
nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável” (At 10:34-35). Ele
havia aprendido que não deveria mais considerar os gentios como pessoas imundas
e os judeus como homens santos (At 10:28), e concluiu em sua defesa que: “Logo,
também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (At
11:18). Mas, por que então Pedro se comportou dessa maneira com os gentios em
Antioquia? Uma coisa é defender uma doutrina em uma reunião na igreja, outra
bem diferente é sermos capazes de colocá-la em prática na vida diária.
A
liberdade de Pedro foi ameaçada por causa do seu medo, ou seja, pelo temor de homem e não pelo temor de Deus.
“Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no SENHOR está seguro” (Pv
29:25). Pedro não havia se mostrado receoso em obedecer ao Espírito Santo
quando este o enviou a casa de Cornélio (At 10-11), ele também não foi contra a
decisão do Concílio de Jerusalém (At 15), mas quando chegaram os judeus
cristãos que consideravam a circuncisão como parte do evangelho, este homem
forte perdeu sua coragem na mesa hora deixando de comer com os gentios (v.12),
deixando de tratá-los conforme o mandamento do Senhor. Ele temeu o grupo da circuncisão. Preferiu a glória
dos homens a glória de Deus (Jo 5:44).
Esta
recaída (temor de homem) de Pedro em Gl 2 nos ensinam duas coisas: 1) ele
fingiu que suas ações eram motivadas pela fidelidade, quando na verdade eram
resultantes de seu medo, pois o termo “dissimular” (v.13) nesta passagem
significa hipocrisia. Para piorar, 2) sua hipocrisia resultante de seu
medo (temor de homem), também levou outros a se desviarem com ele, como foi com
Barnabé (v.13).
Quando
Paulo percebeu que eles não estavam se portando corretamente com a verdade do
evangelho ele repreendeu Pedro na presença de todos (v.14) dizendo que
ninguém é justificado por obras da lei e sim mediante a fé em Cristo Jesus.
Paulo explicou que voltar a estas práticas do judaísmo era o mesmo que reduzir
a escravidão, desvalorizar a liberdade em Cristo. Ao separar-se dos
gentios Pedro negou importantes doutrinas da fé cristã, como: 1) a unidade da igreja, 2) a justificação pela fé e 3) a liberdade
em Cristo.
CONCLUSÃO
De
que maneira respondemos a verdade do evangelho? Neste texto vimos que Paulo
mostrou-se corajoso e a defendeu (ver Gl 1:10), mas Pedro quando foi desafiado
a viver de acordo com a verdade do evangelho amedrontou-se e fracassou.
Felizmente em 1Pe 3:13-15, vemos Pedro ensinando a igreja a não temer as
pessoas, mas temer a Deus. Ele aprendeu que o temor do homem podia ser uma
cilada (Pv 29:25).
O
cerne da questão não foi: discriminação,
racismo ou preconceito, embora tudo isso seja condenável aos olhos do Senhor,
mas foi a repreensão de Paulo com Pedro diante de todos sobre justificação pela
fé em Cristo Jesus e não através das obras da Lei. Se Paulo tratasse do
problema concentrando-se apenas na mudança de comportamento externo se
utilizando das palavras racismo, discriminação ou preconceito, a mensagem do
evangelho teria sido suprimida e não conheceríamos umas das mais belas
passagens bíblicas sobre a justificação pela fé em Cristo, mas veríamos o
relato de homens glorificando o comportamento pecaminoso das pessoas ao invés
de visarem a glória de Deus. Bons princípios esvaziados do Senhor, ou seja, “descristificados”,
só podem servir ao ego.
Quando
o ponto de confrontação é o que está acontecendo no coração, o pecado é
desmascarado. Não podemos nos esquecer que as palavras e ações procedem do
coração. O coração é o centro da vida (Pv 4:23), porém, se uma pessoa estiver
tratando de forma cruel seu próximo com atitudes racistas e preconceituosas,
tanto a liderança da igreja quanto a liderança do Estado não devem esperar
mudança no coração, pois o comportamento errado precisa ser corrigido através
da disciplina eclesiástica (Mt 18:15-17; 1Co 6:1-8) e pela punição das
autoridades do estado (Rm 13:1-7), mas é preciso lembrar ao opressor que o
motivo de sua crueldade reflete seu coração, e esse ministério pertence a
igreja e não ao Estado.
Como
cristãos pregamos um evangelho que transforma corações, não devemos nos
envolver em movimentos ativistas que visam somente mudanças externas as
estruturas sociais, pois estes movimentos levam o homem à valorização da diversidade
e da diferença (MST; Movimento LGBT; Movimento Indígena; Movimento
Feminista; Movimento Negro) e à rejeição da fé cristã por colocar sua confiança
em ídolos sociais.
O
evangelho não veio para mudar estruturas, mas transformar pessoas de forma sobrenatural,
para que elas venham influenciar estruturas sociais através de uma perspectiva
mais profunda, isto é, mudança de cosmovisão, pois mesmo que estruturas sociais
sejam modificadas para o bem das pessoas, o coração humano procurará outros
meios de oprimir as pessoas.
APLICAÇÕES
PRÁTICAS
- Sua liberdade
em Cristo está sendo ameaçada por causa de algum tipo de medo em seu
coração, ou seja, pelo temor de homem e não pelo temor de Deus?
- Você é uma
pessoa impulsiva, que no mesmo instante em que é capaz de demonstrar fé e
coragem extraordinárias, fraqueja logo em seguida?
- De que
maneira você responde a verdade do evangelho? Com dissimulação
(hipocrisia) fingindo ser corajoso para as outras pessoas e como
consequência tem levado outros a se desviarem com você?
- Como você
avalia seu tratamento cotidiano com as pessoas que têm mais dinheiro,
poder e educação em relação àquelas que são mais pobres e ignorantes? Você
costuma respeitar e reverenciar mais certos tipos de pessoas do que
outras?
- Faça um
“diário do valente” e anote cuidadosamente o que você estava pensando,
fazendo ou querendo em cada evento que você demonstrou ser corajoso para
as pessoas em uma determinada situação, como publicar um texto
ofensivo/crítico na internet, mas que logo depois você fraquejou. Analise
se as suas reações impulsivas são antecedidas por algum tipo frequente de
pensamentos e ações como mentira, cobiça, ressentimento, preocupação
descontrolada, medo de rejeição etc.
- Analise também
se há algum tipo de comportamento obsessivo (bizarro) e repetitivo que
você tem desenvolvido (como medo de se contaminar com um aperto de mão)
com o objetivo de reduzir sua ansiedade produzida pelo sentimento de culpa
do passado, pressões do presente e fatores físicos que podem estar
controlando seu coração (ídolos). Caso a resposta seja afirmativa, você
pode estar tentando ganhar o favor de Deus por meio dos seus próprios
méritos (perfeccionismo legalista), recorrendo a si mesmo e rejeitando a
graça de Jesus Cristo.