Vivemos
em uma cultura na qual igreja se sente cada vez mais à vontade em reconhecer
que é pecadora, existe até certa frequência no ensino sobre o pecado, mas
quando as pessoas da igreja, inclusive líderes, são confrontadas com a sua
pecaminosidade, reagem de modo bastante defensiva. Existe uma grande
dificuldade em admitir pecados específicos, porém, a ideia de admitirmos que
somos pecadores de forma ampla, está se tornando comum. Quando confrontamos alguém que está mentindo
ou roubando, a pessoa dificilmente admitirá que é mentirosa ou um ladrão,
porém, ela admite prontamente uma ideia ampla de que é pecadora, justificando
que “todo mundo faz”, “eu sou humano”, “somos todos pecadores” (BABLER, 2017,
p.170-171).
Infelizmente,
igrejas evangélicas, inclusive de tradição histórica reformada, estão
invalidando a Palavra de Deus por causa de tradições de homens (Mt 15:6),
exatamente o que a reforma protestante combateu na igreja medieval no século
16. Estão absolvendo aqueles que praticam adultério, fornicação, roubo, e
condenando outros pelo que comem, bebem ou vestem. Estão dispostos a perdoar
com facilidade aqueles que denigrem o nome do Senhor e desobedecem a sua
Palavra, porém, perseguem aqueles que “denigrem” seu nome e suas ordens. A disciplina
bíblica visa o arrependimento, o perdão e a reconciliação com Deus e com o
irmão, quando a liderança o faz visando punição,
vingança e humilhação, ela já deixou de ser bíblica.
Calvino
diz que “sejam quais forem os títulos – de concílios, de pastores, de bispos e
da igreja (títulos que podem ser muito bem arrogados ou pretendidos sem mérito
nem direito), não nos devem impedir que, tendo nós recebido as necessárias
advertências (AT: Jr 6:13; 14:14; Ez 22:25-28; Mq 3:5-7; Sf 3:4; NT: Mt 24:24;
At 20:29,30; 2 Ts 2:1-12; 1 Tm 4:1-5; 2 Tm 3:1-9; 4:3,9-18; 2 Pe 2:1; 1 Jo 4:1),
examinamos o espírito de todos os homens usando como padrão a Palavra de Deus,
para vermos se eles são de Deus (CALVINO, 2006, vol.4, p.129).
A
infidelidade ou negligência de um pastor é fatal a igreja. Pois assim como a
salvação de seu rebanho é a coroa do pastor, assim também todos os que perecem
serão requeridos das mãos dos pastores displicentes (CALVINO, 2006, 125). Nossos
líderes estão servindo mais a estrutura (governo da igreja, estatuto e etc.) do
que a Deus (STETZER, 2015, p.122).
É
bom lembrar que, o Rei Ezequias foi louvado (2 Rs 18:3,4) pelo testemunho do
Espírito Santo, por haver destruído a serpente de bronze que tinha sido erguida
por Moisés por ordem de Deus. Por quê? Porque, em vez de ser preservada para
lembranças da manifestação da graça de Deus, o que não seria mau, passou a
servir à idolatria do povo. Da mesma forma, se começarmos a invalidar a Palavra
de Deus, por causa de tradições de homens, servindo mais a estrutura do que o
próprio Deus, o Senhor pode entrar em cena a qualquer momento e destruir aquilo
que Ele mesmo ordenou que fosse edificado! O governo e a estrutura eclesiástica
devem se submeter a autoridade das Escrituras, e não vice-versa.
A
igreja é santificada e purificada por meio da lavagem de água pela Palavra de
Deus (Ef 5:25-27). Cristo testificou que não falava de si mesmo (Jo 7:16-18),
visto que a sua doutrina foi tomada da Lei e dos Profetas, de igual modo, aquele
que em nome do Espírito nos apresentar alguma coisa que não faça parte do conteúdo
do evangelho, deve ser rejeitado, pois como Cristo é o cumprimento da Lei e dos
Profetas, assim também o Espírito é o cumprimento do evangelho (Jo 14:26;
16:13).
REFERENCIAL
TEÓRICO
BABLER,
John; ELLEN, Nicolas. Fundamentos
teológicos do aconselhamento bíblico e suas aplicações práticas. São Paulo:
Nutra, 2017.
CALVINO,
João. As Institutas da Religião Cristã.
IV Vol. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
STETZER,
ED. Plantando Igrejas Missionais: Como plantar igrejas bíblicas,
saudáveis e relevantes a cultura. São Paulo: Edições Vida Nova, 2015.