Alguns
meses atrás senti um incômodo em meu dedo, e quando olhei para minha aliança percebi
que ela estava quebrada. Fiquei imaginando o que poderia ter causado sua
ruptura, e lembrei que poucas semanas antes, eu havia aumentado bastante o peso
dos meus exercícios físicos na academia, então pensei que havia descoberto a
causa do problema, ou seja, com certeza o excesso de peso havia feito minha
aliança quebrar.
Porém,
há um detalhe que eu não contei, é o grande xis da questão. Estou com esta aliança
há 8 anos e meio, ou seja, desde que me casei, mas ela veio com um pequeno
defeito quando eu a adquiri, havia nela uma pequena trincadura, era tão
minúscula que nem dava para ver, e o ourives disse que eu poderia levar para
ele consertar de graça na época. Mas como era tão insignificante a trincadura,
e com a correria da vida, eu ignorei essa trincadura, mas a cada ano ela foi
aumentando bem devargazinho.
Por
que eu postei isso?
Raramente
alguém é derrotado da noite para o dia, na verdade, quando alguém cai em pecado
é porque já estava entrando nele bem devagarzinho. O caráter de um casamento
não se deve a três ou quatro momentos significantes como dizia Paul Tripp. Não,
o caráter do casamento é estabelecido por meio de dez mil momentos
insignificantes. O caráter definido nos momentos insignificantes é aquele que
estará a sua disposição naqueles grandes momentos da vida. A confiança,
portanto, não é construída em dois ou três momentos grandes de promessa (apesar
desses momentos serem também determinantes), mas o momento após momento e dia
após dia. Confiar significa ter tanta certeza de
que se pode depender da integridade, da força, do caráter e da fidelidade da
outra pessoa que está disposto a se entregar aos cuidados dela.
Descobrir
a causa de um problema pode até ser importante, pode até trazer um alívio
momentâneo, mas não é sinônimo de mudança ou libertação na vida de uma
pessoa. A tendência de cair em tentações
não surge de causas externas, mas de dentro de nós. A nossa queda não é causada
pelas mãos dos nossos inimigos e sim pelo nosso próprio peso (Dt 32:35; Sl
73:17,18; Tg 1:14,15). Israel enquanto marchava em direção a terra prometida,
venceu todos os seus inimigos. Com exceção das situações em que o povo se
encontrava com pecados ocultos ou quando eram feridos com pragas, doenças e por
serpentes devido a murmuração contra Deus durante a peregrinação, Deus
abençoava e guardava este povo como a menina dos seus olhos.
A
Bíblia ensina que o casamento é uma aliança, e a talvez você tenha assumido um
compromisso (aliança) com alguém trazendo pequenos vícios e pecados ocultos que
você tem ignorado há anos por achar que são insignificantes, e como Deus tem
abençoado seu casamento com um bom emprego, um bom carro, com uma boa igreja
para sua família, você esteja pensando que Ele está aprovando seu estilo de
vida. Cuidado, Deus é misericordioso e longânimo com seus filhos, por isso
sucesso não é necessariamente sinônimo de aprovação.
O
peso que causou a ruptura em minha aliança pode significar várias coisas em um
casamento. O peso na verdade demonstra onde está o nosso coração, onde estamos
colocando todo nosso investimento, e caso este investimento esteja sendo feito
em valores não rentáveis e inseguros, é certo que haverá ruptura. A chegada de
um filho é uma coisa boa, que pode se tornar em um peso, caso haja falta de harmonia
conjugal (Gn 2:24). O trabalho e o ministério na igreja podem se tornar
pesados, caso as motivações estejam erradas ou haja corrupção e imoralidade
presentes ali. A questão não é o peso em si, mas como estou reagindo em cada
situação. Nosso maior problema não é de natureza experimental, biológica, ou de
relacionamento, nosso maior problema é moral. O pecado não somente me faz
reagir pecaminosamente ao sofrimento, ele me faz reagir de maneira pecaminosa
às bençãos outorgadas por Deus. O pecado produz rebeldia, insensatez e nos
torna incapazes de fazer o que Deus ordenou que fizéssemos.
As
grandes batalhas não são travadas com o meu cônjuge, não, as grandes batalhas
são aquelas que travo com o meu coração. O DNA do pecado é o egoísmo. O egoísmo
diz: “eu sou o centro do mundo. É certo viver para mim mesmo e só fazer o que
me traz felicidade”.
Casamentos
saudáveis são saudáveis porque as pessoas que estão nestes casamentos
aprenderam a dizer não aos instintos egoístas que se escondem em seus corações
e nos corações de todos nós. Isso leva a manipulação. De maneira “inconsciente”
tentarei fazer que o meu cônjuge se torne cúmplice daquilo que eu quero. A
natureza da manipulação é que ela é motivada pelo amor próprio, e não pelo amor
pelo outro.
A
mudança é possível através do evangelho de Jesus, e não em um sistema de
redenção fundamentado em teorias da psicologia secular. Precisamos de resgate,
cura e perdão. A melhor notícia neste dia não é que no reino de Deus não haverá
isenção de dificuldades, sofrimentos e perdas, mas é que o Redentor veio nos resgatar
de nós mesmos. Ele é a esperança. Ele é a nossa redenção.
Cristo
veio restaurar as pessoas a fim de viverem de acordo com o propósito para o
qual foram criadas: viver em adoração e submissão obediente a Ele em todas as
áreas da vida. Seu reino não é um império terreno e político, pois a batalha principal
é combatida e vencida nos corações humanos.
OBS: As alianças acima
foram restauradas de graça pelo ourives depois de muitos anos! Da mesma forma,
existe um grande ourives que pode restaurar a trincadura ou até mesmo a ruptura
de seu casamento, porém, o pecado também pode trazer consequências
irreversíveis.
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