Pedir
desculpas é bíblico? Não! Pedir desculpas não resolve completamente a ofensa,
pois duas pessoas podem sair de uma conversa sem saber se a questão foi
resolvida. Já o perdido de perdão envolve um determinado compromisso de que
aquela ofensa não será mais lembrada, nunca mais voltará à tona.
O
que significa perdoar?
Nós
somos ordenados a perdoar (Ef 4:32). Deus diz: “Eu, eu mesmo, sou o que apago
as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro” e
“perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Is
43:25; Jr 31:34).
Então,
será que Deus sofre de amnésia?
Claro
que não! Deus é onisciente (conhece tudo), Ele sabia dos meus pecados até mesmo
antes de cometê-los. Quando a Bíblia fala de Deus “esquecer” nossos pecados,
refere-se ao fato de que quando uma pessoa é realmente perdoada por Deus, Ele
não os guarda para usar contra o pecador perdoado. Ele não os coloca em nossa
conta. Em vez disso, Deus coloca na conta do Senhor Jesus Cristo, que morreu na
cruz para pagar o preço da penalidade dos pecadores culpados como você e eu.
Sua morte foi substitutiva, ou seja, Ele morreu para levar o castigo pelo nosso
pecado para que nós, sendo pessoas salvas possamos ser creditados com a sua
justiça. Quando cremos verdadeiramente no evangelho, Deus promete não utilizar
nossos pecados contra nós, em vez disso Ele atribui a perfeita justiça de Seu
filho em nossa conta (PRIOLO, 2011, p.86-87).
Da
mesma maneira que Deus nos perdoou em Cristo, nós devemos prometer (assumir
compromisso) que não ficaremos relembrando os pecados daquela pessoa que nos
ofendeu, pois ela se arrependeu e pediu nosso perdão.
Quando
perdoamos alguém, nós fazemos os seguintes compromissos (SANDE; RAABE, 2011,
p.125):
- Eu não pensarei mais sobre a ofensa
- Eu não mencionarei mais a ofensa e não a usarei contra você
- Eu não falarei a outras pessoas sobre a ofensa
- Eu não permitirei que a ofensa fique entre você e eu ou que prejudique o nosso relacionamento
Como deve ser o pedido de perdão?
Evite se, mas ou talvez quando confessar seus pecados
a Deus ou quando for pedir perdão para alguém. A verdadeira confissão não
permite dúvida nem indefinição. Dizer: “Sinto
muito se o magoei” é o mesmo que
dizer que não sei qual foi meu erro com a outra pessoa, e é bem provável que
volte a fazer. Dizer: “Sinto muito por
ter feito isso, mas se você tivesse
agido de outra forma...” é o mesmo que eu dissesse que a responsabilidade
do conflito não foi minha, mas do outro. O pecado foi culpa dele e não minha. A
inserção de um “mas” nega
virtualmente a confissão. Os pedidos de desculpas com “mas” transferem a culpa e declaram que nossos erros não são
plenamente nossa culpa. Devemos ser específicos por admitir nossos erros. Uma
confissão específica revela não apenas consideração, sinceridade e pesar, mas
também estabelece um plano específico para mudança (JONES, 2014, p.142).
Mas,
e se alguém me ofender e não pedir perdão?
Existe
uma dinâmica do evangelho de Mateus 5 e 18 que o mundo “desconhece”, mas Cristo
nos ordenou para praticarmos. Quando nós ofendemos alguém, nós devemos agir (Mt
5:23-26); quando alguém nos ofende, nós também temos que agir (Mt 18:15,16). Em
ambos os casos, Jesus nos chama a dar o primeiro passo em busca da paz com os
outros.
Mesmo
que dermos o primeiro passo, não sabemos como será o resultado, ou seja, se a
outra pessoa irá ou não se arrepender. Nesse caso, devemos perdoar aos
ofensores que não se arrependem? Deus ordenou que eu perdoe àquela pessoa que
pecou contra mim, ainda que ela não se arrependa? Robert Jones (2014, p.193-194)
nos oferece uma resposta dupla para estas perguntas: sim e não! Ele trabalha o
perdão em dois níveis:
- Nível 1: Perdão aparente em nossas atitudes, em nossa disposição, em nosso coração (incondicional)
- Nível 2: Perdão decidido, concedido, ligado aos nossos relacionamentos (condicional)
De
acordo com o nível 1, devemos ter
disposição em nosso coração para perdoar aqueles que nos ofendem e tratá-los
com essa disposição (Mc 11:25). Por outro lado, de acordo com o nível 2, a ofensa é trabalhada como
prioridade de restauração do relacionamento, ou seja, há uma reconciliação
marcada pelo arrependimento do ofensor e pelo perdão concedido pela parte
ofendida (Lc 17:3,4). Quando Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o
que fazem” (Lc 23:34ª), Ele evidenciou uma atitude de perdão no
coração para com os seus ofensores, de acordo com o nível 1. Porém, Jesus não
declarou que eles estavam perdoados. Essa foi uma oração que revelou o coração
misericordiosos de Jesus. A oração de Jesus não foi respondida completamente, pois
sabemos que várias pessoas se arrependeram e creram, porém, muitas continuaram endurecidas.
Em Atos 2:38, vemos o apóstolo Pedro oferecendo perdão condicional de Deus aos
seus ouvintes judeus: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome
de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados”. Este é o nível 2.
Resumindo,
aprendemos com Jesus sobre seu ensinamento em Marcos 11:25 e sua oração em
Lucas 23:34 uma atitude de perdão para com os seus adversários, um perdão nível
1. Entretanto, a repreensão de Pedro em Atos 2:38, dirigida aqueles que haviam
matado Jesus e seguida do arrependimento deles e do perdão de Deus, segue o
padrão de Lucas 17:3-4, um perdão nível 2.
Portanto,
se uma pessoa me ofender e não pedir perdão, eu irei dar o primeiro passo para
reconciliação, mas se ela não se arrepender, não haverá restauração do relacionamento,
com isso, eu terei de ter disposição em meu coração de perdoá-la e interceder
por ela, conforme nível 1, mas, não poderei assumir o compromisso do perdão
nível 2, de que a ofensa não será mais lembrada, pois não houve reconciliação
marcada pelo arrependimento do ofensor. Isso não significa que ficarei toda
hora lembrando a pessoa de sua ofensa, de maneira alguma (seguir princípios de
Mt 18:15-17), a questão aqui, é deixar claro que não poderei assumir um
compromisso com alguém que não se arrependeu, da mesma maneira que Deus perdoa o
pecador com a condição do arrependimento.
REFERENCIAL
TEÓRICO
PRIOLO,
Lou. Maridos Perseguindo a Excelência:
Princípios bíblicos para maridos que almejam o ideal de Deus. São Paulo:
NUTRA, 2011.
JONES,
Robert. D. Em busca da paz: Princípios
Bíblicos para lidar com conflitos e restaurar relacionamentos quebrados.
São Paulo, NUTRA, 2014.
SANDE,
Ken; RAABE, Tom. Os Conflitos no Lar e as
Escolhas do Pacificador: Um guia para lidar com as crises na família. São
Paulo, NUTRA, 2011.
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