Domingo passado, por volta das 18:00hs, um homem
veio até o portão de minha casa e me chamou para pedir-me algo. Ele foi
educado, cumprimentou-me bem e foi logo ao assunto. Ele disse que não tinha
dinheiro para comprar um maço de cigarros e se eu poderia arrumar para ele esse
dinheiro, pois no dia seguinte ele me pagaria. Eu disse a ele que não poderia ajuda-lo
devido a finalidade em que o dinheiro seria usado. Ele alegou ter sido honesto
comigo, pois ele poderia ter mentido, e falado que o dinheiro seria para
comprar pão ou comida. Disse que já frequentou igreja e que tem orado para Deus
tirar esse vício dele. Também disse que Deus tem tempo e propósito para todas
as coisas (penso que ele estava referindo-se a Eclesiastes 3:1-8), pois quando
chegar o tempo de Deus, ou seja, quando for sua vontade, ele iria parar de
fumar, mas hoje não era esse dia, pois ele precisava muito suprir esse vício.
Eu disse a ele que dizer a verdade já é um bom
começo, mas ainda não é o suficiente, pois estava faltando algo, seu esforço. Se
você tem orado para Deus tirar esse vício, então você bateu na porta certa, pois
hoje é o dia em que você pode tomar a decisão de parar com esse vício. Você poderá
até ter recaídas, mas enquanto estiver esperando o “tempo de Deus” você nunca
irá parar. Disse a ele que o vício do cigarro é o mesmo que dizer para Deus que
Ele não é suficiente para mim, que eu não confio em Ti, pois quando você está
passando por problemas na família ou no trabalho você recorre ao cigarro para
tentar “aliviar” sua ansiedade, e Deus conhece aqueles que se refugiam e
confiam nele nas horas difíceis. Sei que pude conversar bastante com ele e
ministrar o evangelho de Cristo em sua vida e oferecendo ajuda, caso ele quisesse.
Eu disse que ele poderia vir em minha casa para estudarmos a Bíblia, ir aos
cultos na igreja, orar e tentar ajuda-lo de alguma forma. Ele disse que iria
descer a rua e arrumar o dinheiro com outra pessoa.
A questão desse problema é a falsa esperança que se
baseia em uma visão não bíblica da oração e uma compreensão inadequada da
Bíblia.
Primeiro, o
que ele fez em relação ao problema? Ao conversar com ele descobri que orar é
tudo o que ele crê que Deus exige que ele faça e mais nada. Essa é a tática do
centroavante. Imagine essa situação espiritual com relação a um jogo de
futebol. Passamos a bola para Deus (por meio da oração) e esperamos que Ele
passe como um centroavante por todos os defensores e faça a o gol sem qualquer
ajuda nossa. Esse tipo de visão só produz falsa esperança, porque Deus jamais
prometeu que alcançaríamos o alvo da piedade divina sem um esforço pessoal
tenaz (I Tm 4:7b). Precisamos de força divina para vencer (Jo 15:5). Outro
exemplo seria o caso daqueles que enfrentam problemas com pecados sexuais, e
que depois se revoltam com Deus, porque Ele não removeu seus problemas em
resposta às suas orações. Muitas pessoas não se envolvem nos trabalhos da
igreja alegando que Deus está no controle, mas na verdade elas não querem se
envolver devido estarem ocupadas de mais com seus afazeres, e depois para “compensar”
pagam a “mensalidade” (dízimo) ou contribuem com obras missionárias (Lc
10:38-42).
Segundo, ao conversar com ele descobri também que
ele possui uma visão inadequada da mudança bíblica, ou seja, ele estava
esperando que Deus (em resposta a sua oração), em um estalar de dedos, tirasse seu
vício de forma sobrenatural, retirando totalmente seu desejo de fazer o que é
errado. Sua visão equivocada de Eclesiastes 3:1-8 o fez lançar a
responsabilidade sobre Deus de sua mudança a ponto de não se esforçar, de não
se envolver no processo de santificação. Ele não compreendeu o que a Bíblia tem
a dizer acerca da função da autodisciplina na santificação, e que isso é
preciso ser aprendido antes que a verdadeira mudança possa ocorrer. Faltou equilíbrio
entre a fé e o esforço.
CONCLUSÃO:
Em Mateus 6:11, Jesus disse que deveríamos orar: “O
pão nosso de cada dia dá-nos hoje”, mas em 2 Tessalonicenses 3:10 Paulo diz: “Se
alguém não quer trabalhar, também não coma”. Esses dois mandamentos não são
contraditórios, pois enquanto devemos orar a Deus para que Ele nos supra com
aquilo que necessitamos para o viver, não devemos esperar que isso caia do céu.
Até a esperança que colocamos na oração pode se
tornar falsa, se esperarmos que ela, por si só, tudo resolva. Precisamos trabalhar
e nos envolver no processo de santificação com a força que Deus dá (John F.
Macarthut Jr. – Introdução ao Aconselhamento Bíblico).
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