Muitas pesquisas apontam a
educação infantil como estratégia de combate à pobreza e de promoção da
equidade. Foi
publicado na edição de julho/2013 na revista EXAME[1]
um artigo sobre “o investimento em
educação na primeira infância é a chave para ter uma população mais qualificada”
quanto antes melhor. James Heckman[2],
da Universidade de Chicago, estudou as consequências de um programa especial de
educação para crianças pobres da década de 60 no estado de Michigan. Após 40
anos os resultados foram bons. A maior parte de crianças que participaram do
programa, concluíram o ensino médio e obtiveram salários melhores do que as
crianças que não participaram do programa.
Em nosso país, infelizmente, o status
social ainda é determinante sobre o futuro dos nossos filhos. Por ter uma
educação melhor, os filhos dos mais ricos ficam com os melhores empregos. Os
filhos dos pobres acabam, na melhor das hipóteses, brigando pelos empregos que
sobram. A desigualdade é tão injusta que existe um desperdício enorme de
talentos de parte da população, pessoas que poderiam estar produzindo muito
mais. O problema concentra-se na falta de “oportunidades”. No Brasil o filho de
um médico, advogado, engenheiro tem 12 vezes mais chances de ser médico,
advogado, engenheiro e administrador do que o filho da empregada doméstica[3].
O foco deve estar na primeira
infância. Como vimos anteriormente, James Heckman mostra que a melhor arma
contra a desigualdade social é investir em crianças já nos três primeiros anos
de idade, período crucial para melhorar as habilidades cognitivas e
socioemocionais. Crianças que frequentaram o equivalente a creches (0 a 3 anos
de idade) e pré-escolas (4 a 6 anos de idade) apresentaram na idade adulta renda
mais alta e probabilidades mais baixas de prisão, de gravidez precoce e de
depender de programas de transferência de renda do governo no futuro. Para ele,
a educação na primeira infância constitui provavelmente o melhor investimento
social existente e quanto mais baixa for a idade do investimento educacional
recebido mais alto é o retorno recebido pelo indivíduo e pela sociedade[4].
Para Dobson (1999) existe um período
crítico durante os três primeiros anos de vida de uma criança que é quando o
potencial para crescimento intelectual precisa ser aproveitado. Há sistemas de
enzimas no cérebro que precisam ser ativados durante este período[5].
Infelizmente estudos realizados
no âmbito da psicologia provenientes principalmente de países como Estados
Unidos e Inglaterra consideravam a separação ou privação da criança do convívio
diário e constante com a mãe como responsável por danos severos no
desenvolvimento infantil[6].
Estes são alguns fatores que contribuem negativamente na oferta ao atendimento
educacional às crianças pequenas, pois a sociedade passa a enxergar as
instituições de educação infantil como paliativas: um mal necessário, quando
deveria ser um direito social.
Muitas pessoas atribuem o problema
da desigualdade ao sistema econômico capitalista. A meu ver, o problema não está no
capitalismo, e sim em quem está por trás dele, o homem. O capitalismo é sim, a
mais eficiente invenção humana para se gerar riquezas, porém, ela tem se desenvolvido de forma incompleta,
tem se desprovido da metade humana (Mackey)[7].
Umas das questões-chave do processo econômico é a justiça distributiva conforme
afirma Rossetti: a plena igualdade é, por uns, vista como objetivo distributivo
inquestionável. Embora os ideais da perfeita igualdade ou da construção de uma
sociedade sem classes econômicas encontrem atraentes apelos éticos, ela pode
desestimular o esforço individual e acarretar o rebaixamento dos níveis de
produção. Isso, a longo prazo, poderia convergir para generalizado estado de
empobrecimento[8]. Portando
a justiça distributiva implica equidade na distribuição do produto social, ou
seja, das oportunidades de acesso à educação para se manter um padrão mínimo de
qualidade de aprendizagem. Equidade e igualdade não podem ser compreendidas
como sinônimas. A equidade se fundamenta na ideia de igualdade de oportunidades,
na necessidade de haver condições iguais de acesso às oportunidades de
realização socioeconômica para todos os membros de uma comunidade política para
se alcançar a justiça social (COSTA; KERSTENETZKY, 2005).
A educação na primeira infância deve
ser reivindicada por nós cidadãos como um direito social e não como um programa
compensatório que estabelece regras como renda familiar, raça e etc.
Quando o Senhor falou ao seu servo
Moises no monte Sinai ele estabeleceu certas regras de como devemos nos portar
diante dele e diante do nosso próximo. O sexto mandamento diz: “Não matarás”
(Êx 20:13). O senso comum dos homens é entender que devemos nos abster de todo
desejo de matar ou de causar dano ao nosso semelhante. Porém, é preciso mais do
que isso, devemos ajudar a manter a vida do nosso próximo por todos os meios
que nos forem possíveis[9].
Devemos fazer o possível para conservar a vida do nosso próximo evitando e
impedindo tudo que possa vir a lhe prejudicar. A palavra do Senhor nos ensina
que mesmo que não venhamos a matar alguém, mas em nosso coração reina o ódio e
a ira pelo nosso próximo nos tornamos assassinos (1 Jo 3:15). A Reforma
Protestante ocorrida no século XVI não foi somente um movimente espiritual e
eclesiástico, mas teve também aspectos e dimensões políticas e sociais. Na
visão do reformador João Calvino a responsabilidade social da igreja é resumida
em três aspectos fundamentais: ministério didático, político e social. A igreja
em sua missão política deveria orientar o Estado através de sermões e
orientação individual quanto ao ensino bíblico sobre a administração dos bens
outorgados por Deus ao Estado e ao indivíduo (Lv 25). A igreja deveria, quando
necessário, advertir as autoridades quando tolerassem injustiças contra os
pobres, quando os ricos viessem a explorar os pobres, pois caso contrário, ela
se tornaria cúmplice da injustiça social, cessando de cumprir sua missão
política. Sob sua influência, nasceu a primeira escola primária obrigatória da
Europa.
Jesus nos ensinou que os preceitos
mais importantes da Lei são: a justiça, a misericórdia e a fé! (Mt 23:23). A
obra redentora de Cristo não se limita apenas a nova vida dada ao indivíduo,
mas abrange a restauração de todo universo, o que inclui a ordem social e
econômica. Esta obra só será completa quando Cristo voltar.
Existe um grupo de pessoas que Deus
sempre se preocupou e ainda tem se preocupado, este grupo vem sendo facilmente explorado
pelos governantes, líderes religiosos, empresários e etc. A viúva, o órfão, o
estrangeiro, e o pobre tinham e ainda tem um amor especial de Deus por eles. O
Senhor disse através do profeta Zacarias: “Executai
juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia, cada um a seu irmão; não
oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada
um, em seu coração, o mal contra o seu próximo” (Zc 7:9,10).
Conclusão: Este
artigo tem a finalidade de mostrar para você, leitor, que existe um grupo de
pessoas que está sendo esquecida, e que o Senhor quer que executemos um juízo
verdadeiro, mostrando bondade e misericórdia aos nossos irmãos, fazendo o que for possível para
conservar a vida do nosso próximo evitando e impedindo tudo que possa vir a lhe
prejudicar. Deus
não está preocupado com o resultado dos nossos esforços, pois o resultado não é
mais o importante (Mt 7:21-23; Lc 13:26,27). Nossa disposição deve ser a de
servir fielmente a Deus onde quer que ele nos coloque. Os limites da participação
cristã na cultura devem ser de acordo com os padrões estabelecidos por Deus em
sua palavra, principalmente com a situação de um cristão que ocupa um cargo
público. Se o capitalismo tem sido injusto com a humanidade e a desigualdade
social vem avançando, é porque nosso coração não tem servido fielmente a Deus
por não conhecer sua vontade e seus preceitos. Ser cristão não tem nada a ver
com o que está sendo ensinado hoje. Precisamos nos preparar, e por isso nossa
missão é proporcionar através da educação cristã, oportunidades pelas quais a
comunidade adquira o conhecimento de Deus para o fortalecimento da família,
igreja e sociedade, desde a primeira infância.
[1]
EXAME. São Paulo: Editora Abril, n. 13, p. 52, jul. 2013.
[2]
James Heckman, Nobel de Economia (2000).
[3]
EXAME. São Paulo: Editora Abril, n. 11, p. 39, jul. 2014.
[4]
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Pesquisa Educação da Primeira Infância. Disponível em:
http://cps.fgv.br/edu_infancia.
Acesso em: 14 de jul. 2014.
[5]
DOBSON, James. Ouse disciplinar. São
Paulo: Vida, p.157, 1999.
[6]
CAMPOS, S. As indicações dos organismos
internacionais para as políticas nacionais de educação infantil: do direito à
focalização. Educação e Pesquisa, São
Paulo, vol.39, no.01, mar. 2013
[7] John
Mackey: fundador e presidente da rede de supermercados americana Whole Foods.
Criador do movimento Capitalismo Consciente.
[8]
ROSSETTI, José Paschoal. Introdução a
Economia. São Paulo: Atlas, p.194, 2014.
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