“Legalismo é elevar regras humanas acima das instruções e princípios dados por Deus em sua Palavra; é julgar o próximo de pecar (acusando-o no coração ou verbalmente) quando tais regras não são seguidas” (Lou Priolo).
Não
é errado enfatizar obediência a Palavra de Deus (ver Jo 14:15; 15:10-11; 1Jo
2:3-6). Também não é errado estabelecer
regras feitas por homens para serem cumpridas em determinas instituições, ao
contrário, muitas vezes regras humanas são necessárias para que organizações ou
instituições tais como a família, a igreja e o estado funcionem de maneira
eficaz. Errado é colocar tais regras acima ou no mesmo nível dos mandamentos de
Deus.
Quando
julgamos alguém por não seguir nossas regras, estamos julgando a Deus de ter
sido negligente em não colocar na Bíblia o que achamos que deveria estar lá.
Jesus disse que aqueles que ensinam preceitos de homens como sendo doutrina,
são hipócritas pois participam de vã adoração (Mt 15:7-9; Mc 7:6-7).
Veja abaixo algumas características comuns de uma pessoa com raciocínio legalista:
- Costuma julgar pessoas que possuem opiniões diferentes dele como estando erradas, sendo imaturas e não espirituais.
- Cria polêmicas em relação a diferenças doutrinárias com outros cristãos.
- Tem dificuldades em manter comunhão com cristãos que discordam de sua posição doutrinária.
- Costuma avaliar o próximo mais para o lado do erro e do juízo, e quase nunca para o lado da misericórdia.
- Crê que todo comportamento é certo ou errado, preto ou branco; não deixa espaço para áreas cinzentas.
- Pensa em Deus mais como um Juiz do que como um Pai Celestial amoroso (ver estudo sobre Escrupulosidade: clique aqui).
- Julga outros como não sendo bons pais por permitirem que seus filhos façam coisas que ele não permitiria, mesmo que não sejam pecados prescritos na Bíblia.
-
Julga outros
cristãos pelo seu estilo de vida, por exemplo: mulheres não devem usar calças.
Namorar é errado, cortejar é bíblico. Ouvir música “do mundo” é errado. Fazer
tatuagem é errado. Tomar bebidas alcoólicas é errado etc.
Muitos
cristãos professam corretamente que a salvação é pela graça, exclusivamente por
meio da fé em Cristo, mas seu modo de viver trai essa declaração, pois sua fé
em Cristo é acrescida de obras humanas. Mesmo tendo uma boa teologia bíblica,
ter estudado credos e confissões de fé e concordar com todos eles, sua teologia
prática muitas vezes é oposta ao que ele crê e ensina para as pessoas, pois
ele adota padrões legalistas que governam o vestir, o comer, o beber e assim
por diante. O pior disso tudo é que ele julga o próximo por não seguir seu
estilo de vida legalista.
O
legalista normalmente eleva o padrão para o próximo, já o perfeccionista eleva
para si mesmo. Ao julgar o próximo ele se coloca como um Legislador, ou seja,
ele está se colocando no lugar de Deus (Tg 4:11-12). Quando ele julga o
próximo, ele julga a lei, ou seja, ao julgar seu irmão por não ter feito algo
errado (algo que a Bíblia não condena) ele está automaticamente julgando a
Bíblia por não ter as restrições que ele impõe aos outros.
O
legalismo se concentra em regras externas ao invés de pensamentos, atitudes ou
motivações interiores (Mt 23). O legalista é um fariseu cheio de justiça
própria que julga o próximo impiedosamente, fazendo críticas constantes. Uma
das coisas mais tristes do legalismo é que ele oferece uma aparência de
maturidade espiritual quando, na verdade, faz o cristão regredir em sua
experiência com Deus (ver Gl 4). Suas motivações podem até ser boas, porém seus
métodos são errados.
O
legalista carrega um fardo muito pesado por tentar obedecer a Deus como forma
de obter mais favor ou aceitação de Deus. Ele não consegue desfrutar de uma consciência
de justiça sabendo que seus pecados do passado, presente e futuro foram
cobertos pelo sangue de Cristo.
Segundo
Lou Priolo, podemos categorizar o legalismo em dois subtipos:
- Legalismo doutrinário: demonstra uma atitude arrogante para com aqueles que não cortam o “t” e nem pingam o “i” de maneira tão precisa como ele julga que deveriam fazer em questões teológicas.
- Legalismo aplicado: cobra dele mesmo
e dos outros um comportamento não exigido pelas Escrituras.
O
legalismo torna a vida infeliz. Ele tira a alegria e a liberdade. Vemos em
Gálatas 4:15 o apóstolo Paulo perguntando: “O que aconteceu com aquela alegria
que vocês experimentaram quando ouviram o evangelho e creram em Cristo?” Os
judaizantes haviam aparecido e roubado o coração dos convertidos com seu legalismo.
“O
legalista tende a ser cego para o seu próprio legalismo” (Ed Welch). Jesus
chama o fariseu de cego e hipócrita várias vezes (Mt 23:16-26). Ele concentra sua
atenção às pequenas coisas a ponto de negligenciar as coisas importantes. O legalista
se encontra cego para sua própria arrogância. Como perdeu a visão da sua
própria pecaminosidade, ele coa mosquito, mas acaba engolindo camelos (Mt
23:24). Ele se sente como um cristão especial acima dos outros.
O
legalista tem dificuldade em se mostrar gracioso para com o próximo. Ele é
alguém intolerante. O legalista defende com unhas e dentes um ponto obscuro da
teologia e depois julgará, censurará, desrespeitará e maldirá aqueles que possuem
um pensamento diferente dele. Ele costuma diminuir as pessoas que não se encontram
em seu “nível teológico”.
O legalista é capaz de causar divisões desnecessárias entre cristãos. O legalismo é contagioso, ou seja, ele contamina o próximo com sua hipocrisia. Paulo condenou a atitude de Pedro por ter se afastado dos gentios, exatamente por causa da marca externa da circuncisão. Ele chamou esse ato de hipocrisia (dissimular em Gl 2:13). Pedro fingiu que suas ações eram motivadas pela fidelidade, quando na verdade eram resultantes de seu medo, pois o termo “dissimular” nesta passagem significa hipocrisia. Para piorar sua hipocrisia resultante de seu medo (temor de homem), também levou outros a se desviarem com ele, como foi com Barnabé.
“A censura é a origem da impiedade e da separação pecaminosa na vida do censor; quando se convence de que seus irmãos são piores do que ele, então reprova seus irmãos, abandona a comunhão e os evita porque são más companhias para ele” (Richard Baxter).
O
medo de fracassar é algo que alimenta o legalismo. O legalista se preocupa
demais com sua reputação diante dos homens. Por causa da sua obsessão
perfeccionista ele teme fracassar em áreas nas quais não é pecado fracassar. Ele
“teme o pecado onde não há nenhum” (ele possui uma consciência escrupulosa:clique aqui para saber mais). Frequentemente ele tem preocupações e medos
excessivos em cometer um pecado, distinguir o certo do errado, como tomar
decisões e ter certeza da salvação. A ansiedade que resulta dessas preocupações
pode levar a confissão excessiva de pecados.
O
legalista é conhecido como um “estraga prazer” por causa do seu espírito
impaciente, irritável, exigente e crítico. Ele não considera que a
“misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2:13). Ele teimosamente se apega à sua
visão, recusando-se a reconhecer que existem outros cristãos que enxergam as
coisas de maneira diferente e como resultado faz com que as pessoas se
distanciem dele.
O
legalista tem um desejo excessivo de agradar os outros. Ele está disposto a
fracassar em seu ministério na família, para poder dedicar mais tempo e esforço
em seu trabalho ou ministério na igreja. Ele não se importa em fracassar como
cristão, cônjuge, pai, membro da igreja ou amigo desde que possa obter os melhores
resultados em seu trabalho ou ministério eclesiástico.
Muitos pais estão provocando seus filhos a ira
ao discipliná-los de forma legalista, ou seja, elevando regras feitas pelos
homens ao mesmo nível dos mandamentos de Deus estabelecidos nas Escrituras. Os
pais devem apresentar de forma clara o que é Lei de Deus e o que é Lei da Casa
para seus filhos.
A Lei de Deus são leis orientadas pela Bíblia, que todos os homens estão obrigados a fazer porque Deus ordenou. Alguns exemplos seriam: ame ao Senhor teu Deus de todo coração e ame o teu próximo como a ti mesmo; não minta, não roube, não cobice e etc. Por outro lado, a Lei da Casa são regras derivadas da Bíblia, e devemos obedecê-las enquanto estivermos sob as autoridades estabelecidas por Deus em nossas vidas, neste caso os pais são autoridade na vida dos filhos, e alguns exemplos seriam: ir para cama às 20:30hs, arrumar a cama todas as manhãs, assistir somente uma hora de TV por dia, não namorar até completar determinada idade etc.
Quando estas regras não ficam claras, os
filhos podem rejeitar o verdadeiro cristianismo. Esse tipo de legalismo pode
provocar ira nos filhos. Por exemplo, jamais diga a seu filho que: “É da
vontade de Deus que você corte o cabelo”. Esta é uma regra da casa, e não um
mandamento do Senhor. O mesmo exemplo se dá ao caso de tatuagem, corte de
cabelo, brinco, música, bebidas e comidas. Explique para seus filhos que estas
são regras da casa, sabendo que elas podem ser recorríveis, ou seja, apeláveis,
porém, as regras de Deus, nunca podem ser recorridas.
O legalismo é pecado, pois está enraizado no
orgulho. É pecado porque faz com que julguemos sem misericórdia o nosso irmão
em Cristo que não segue os padrões elevados e extrabíblicos que a nossa consciência
escrupulosa pressupõe que deveria ter sido incluída à Palavra de Deus. É pecado
porque é contrário à graça. É pecado porque provocou a ira em Jesus Cristo contra
os líderes religiosos hipócritas dos seus dias.
Chamar o que Deus denominou de bom como mal é
muito sério (Is 5:20). Aquilo que Deus criou para seu povo desfrutar com ações
de graças é um dom de Deus e não deve ser censurado (1Tm 4:1-5; 6:17; Ec 5:18-19;
Rm 14:6; 1Co 10:30-31). Quando o legalista inculca proibições humanas na
consciência de outros cristãos que estão acima e além daquilo que a Bíblia
ensina, ele coloca uma pedra de tropeço no caminho deles. Estes novos
mandamentos se tornam um fardo para os outros, exatamente o contrário do jugo
de Cristo, que é suave (Mt 23:4). Estas regras humanas não têm valor algum! Não
tem poder nenhum contra o pecado (Cl 2:20-23).
Abandone o legalismo e procure unir-se a Cristo
pela fé desfrutando de sua maravilhosa graça (Ef 2:8-9; Jo 3:3; Rm 6:23; 1Co
15:3; 1Pe 3:18). Nossa união com Cristo nos faz entender nossa adoção. Pessoas legalistas
tendem a enfatizar certos aspectos do caráter de Deus. Por exemplo, eles
acentuam sua justiça e santidade, mas não sua misericórdia e graciosidade. Sua
visão funcional de Deus é que ele é distante, severo, punitivo, impiedoso e
impaciente. (Quem não viveria com medo de um Deus assim?) Sua visão de Deus é
equivalente a um pai terreno que é duro e crítico, constantemente mostrando seu
descontentamento. “Adoção
procede não do mérito da lei, mas da graça da fé” (João Calvino). Viver
no legalismo é o mesmo que defraudar o direito de adoção. O legalista tem
dificuldade de enxergar Deus como Pai celestial amoroso e misericordioso, pois
ele se concentra muito em regras e pouco na graça e na misericórdia.
Aprenda
a discernir o que realmente é pecado e o que não é (Is 5:20; 29:13). Não force e
não julgue outros cristãos a seguirem regras extrabíblicas que funcionaram para
você (Rm 14:4). Por exemplo, se eu decido não acessar a internet quando estou
sozinho para não ser tentado acessar sites de conteúdo imoral, esta é uma regra
que talvez funcione para mim, porém, não quer dizer que todo mundo precisa
seguir o mesmo protocolo para lidar com a tentação. Cuidado para não exercer um
controle desordenado (extrabíblico) sobre aqueles que estão sob os seus cuidados,
pois isso é um abuso de autoridade.
Ao
invés de proibir seu filho de ir a um cinema, de ir a uma festa ou fazer uma
tatuagem, pergunte: “Qual é a sua motivação de fazer isso?”. O legalista
condenará todas as atividades como pecaminosas sem qualquer preocupação com a
motivação da pessoa por fazer ou participar da atividade (Jo 7:24; 1Sm 16:7).
Lembre-se, o modo como você trata as pessoas será o modo como você será tratado
(Mt 7:1-5).
Tenha
prazer em obedecer aos mandamentos do Senhor como expressão de amor, gratidão,
lealdade e devoção a Deus, caso contrário, você obedecerá para tentar melhorar
sua condição perante Deus ou para merecer seu amor, e isto é legalismo.
REFERENCIAL
TEÓRICO
PRIOLO, Lou. Legalismo: considerações e aplicações. São Paulo: Nutra Publicações, 2021.
_______. Filhos Irados: Uma abordagem Bíblica. 2. ed. São Paulo: NUTRA, 2018.