Nesta obra o autor Leland Ryken nos leva aos
séculos XVI e XVII, logo após a Reforma Protestante, com o propósito de estudar
a vida dos puritanos ingleses e americanos, onde em três partes, o autor tem
como objetivo corrigir a má compreensão que as pessoas têm sobre o que
realmente os puritanos defendiam. Segundo, consolidar o pensamento dos
puritanos sobre as principais áreas da vida como: família, igreja, trabalho,
casamento, educação, política, economia e sociedade. Terceiro, constatando a
crise moral terrível dos dias atuais, o autor deseja trazer ao conhecimento dos
protestantes evangélicos a sabedoria cristã dos puritanos com esperança de
remediar essa situação.
O autor preocupou-se em unir fontes
escritas dos puritanos, fazendo muitas citações no livro para que o leitor
possa compreender suas intenções e tirar suas próprias conclusões. O autor referiu-se
ao puritanismo como um “movimento” como uma religião puritana, como um espírito
que os unia uns aos outros.
O autor entende que os puritanos eram
exemplos de maturidade, e por isso necessitamos aprender com estes gigantes,
através de seus sofrimentos, lutas e experiências dolorosas que os refinaram
como homens pacíficos, obedientes e esperançosos. Para eles não havia disjunção
entre o sagrado e o secular, pois toda a criação até onde conheciam, era
sagrada, e todas as atividades deveriam ser santificadas, ou seja, feitas para
glória de Deus.
Para os puritanos a Sagrada Escritura era
suprema. Eles meditavam toda a amplitude da verdade bíblica, sua meditação se
modelava pelo sermão Puritano. Eles buscavam sondar, desafiar e auto examinar
seu coração através das Escrituras, para então confessarem e abandonarem seus
pecados, vivendo uma vida renovada em gratidão a Cristo pela sua misericórdia
perdoadora.
Para os puritanos ingleses o objetivo
máximo da pregação era a vida santa. O propósito da pregação, era julgado não
pelo que acontecia na igreja, mas pelo efeito do sermão fora dela. Pregadores
puritanos preparavam seus sermões cuidadosamente. Seus sermões eram
expositivos, com ensinamentos de uma passagem específica da Bíblia, e uma das
características mais atraentes da pregação puritana era sua ênfase na aplicação
prática da doutrina à vida. O objetivo da aplicação era conduzir o indivíduo
cristão a uma mudança de comportamento onde fosse necessária pelo despertamento
da consciência. A aplicação era a vida da pregação. As formas de aplicação eram
divididas em sete categorias de ouvintes:
1.
Incrédulos
que são tanto ignorantes quanto ineptos...
2.
Alguns
são educáveis, embora ignorantes...
3.
Alguns
têm conhecimento, mas ainda não estão humildes...
4.
Alguns
estão humildes...
5.
Alguns
creem...
6.
Alguns
decaíram...
7.
Há
um povo misturado...
Eles eram unânimes em dizer que a tarefa
principal de um pastor era pregar. Eram homens verdadeiramente convertidos,
conhecedores de idiomas, cultos, zelosos, santos, e aptos para o ministério.
Eles respeitavam mais a vida de um pregador santo do que sua erudição. Um
pregador tinha que ser capaz de falar com autoridade moral. Um pastor é acima
de tudo alguém que alimenta e cuida de um rebanho. A universidade de Harvard
nos Estados Unidos foi fundada por pastores puritanos que se preocupavam com o
ministério inculto às igrejas. O poder atingidor da pregação residia não na
manipulação da audiência pelo pregador, mas na ação do Espírito Santo. As
famílias faziam anotações do sermão para depois falarem sobre ele reunidos em
suas casas. Mesmo sendo homens doutos, eles preparavam sermões simples pois
visavam atingir toda a sociedade. O propósito do sermão não era excelência
estética, mas edificação espiritual. O conteúdo de um sermão era mais
importante do que sua forma. A finalidade de um sermão era servir como um meio
de graça.
Eram homens de oração seguida de ação, não
viviam em ociosidade e preguiça, e jamais deixavam suas responsabilidades para
outros fazerem. Sempre pediam a Deus em suas orações que os capacitasse antes
de cada batalha, de cada sermão, e também para serem direcionados por Deus em
seus negócios, investimentos maiores, casamento e etc.
A ética puritana do casamento não
consistia em casar-se com aquela pessoa por quem fosse perdidamente apaixonado
no momento, mas a quem pudesse amar continuamente como seu melhor amigo, por
toda a vida. A ética puritana de criação de filhos era treinar as crianças no
caminho em que deveriam seguir. Eles educavam seus filhos para a vida adulta
sóbria, santa e socialmente útil. Para eles os filhos deveriam ser ensinados a
trabalhar, ter responsabilidades, para que viessem a tornar membros produtivos
da sociedade em suas vidas adultas. Para os puritanos ingleses, a obediência no
âmbito da igreja e do Estado dependia da disciplina no lar. A disciplina
deveria ser amorosa e adaptada ao temperamento da criança. Eles entendiam pelas
Escrituras que os filhos já nascem em pecado e necessitam de redirecionamento,
por isso se deixados à vontade, eles irão inclinar-se naturalmente a seguir
suas próprias vontades más. A tríplice fundamentação puritana da criação de
filhos era a importância do treinamento precoce, a influência tanto do exemplo
como do preceito e um equilíbrio entre a restrição e o apoio positivo.
1.
A importância do
treinamento precoce:
é muito mais fácil educá-los nas boas coisas agora, do que na sua juventude e
nos anos mais maduros.
2.
A influência tanto
do exemplo como do preceito: “preceito sem padrões farão pouco bem;
deve-se levá-los a Cristo tanto pelo exemplo como pelo conselho” (Eleazar
Mather). Não pensem que seus filhos se importarão com as boas regras que lhes
derem, se vocês mesmos agirem contrariamente àquelas regras.
3.
Equilíbrio entre a
restrição e o apoio positivo: a educação eficaz das crianças tem dois
lados: um negativo e outro positivo. Os pais precisam reprimir os impulsos em
direção ao egoísmo, à desonestidade e ao mesmo tempo construir qualidades
amáveis em seus filhos, nutrindo e encorajando seu espírito.
Os puritanos viam a família como uma
pequena igreja. A saúde da igreja e da sociedade depende do que acontece na
família. A finalidade da família é glorificar a Deus.
Eles viam a educação cristã como
responsabilidade dos pais. Os puritanos ingleses e americanos foram grandes
empreendedores educacionais em sua época. Muitas escolas foram abertas por
autoridades puritanas. O objetivo da educação era primeiro a nutrição e
crescimento cristão. Os puritanos tornaram central no currículo o estudo da
Bíblia e da doutrina cristã nas escolas que abriram. O objetivo da sala de aula
era medir todo o conhecimento humano pelo padrão da verdade bíblica. A
finalidade do estudo era reparar as ruínas de nossos primeiros pais,
recuperando o correto conhecimento de Deus, e a partir deste conhecimento
amá-lo, imitá-lo, e ser como ele. O objetivo da educação, segundo os puritanos,
era o foco no relacionamento da pessoa com Deus. A educação não era apenas
completar um curso, escrever trabalhos, ou adquirir um diploma, não, muito mais
do que o conhecimento adquirido, os puritanos estavam mais interessados no tipo
de pessoa em que o aluno estava prestes a se tornar. Na visão dos puritanos a
educação influencia as pessoas em suas vidas pessoais e as torna membros
produtivos da sociedade. Uma educação completa é aquela que libera a pessoa
para realizar “todos os ofícios, tanto privados como públicos”. Ofícios
públicos incluíam ser um bom membro de sua igreja e um colaborador positivo da
sociedade. Os ofícios particulares incluíam ser um bom amigo, colega, esposo,
ou pai.
No aspecto social os puritanos não
confiavam em estruturas governamentais para exercer trabalho social, eles
entendiam que esse papel deveria ser desempenhado pelo espírito de comunidade.
Os puritanos confiavam muito mais na responsabilidade individual do que nas
agências governamentais e sociais, pois “de pessoas particulares vêm as
famílias” disse Richard Greenham. Eles não depositavam sua fé no Estado, pois a
integridade de um sistema não salva ninguém. Eles também se opunham à caridade
indiscriminada, ou seja, a ajuda deveria ser dada somente àqueles em genuína
necessidade. “Se alguém não quer trabalhar, que não coma” (2 Ts 3:10). Para
eles, a caridade indiscriminada era uma ameaça social, pois impedia o pobre de
realizar suas responsabilidades e de procurar seriamente um emprego. O plano
era colocar essas pessoas para trabalhar e torná-las membros produtivos da
sociedade. Para os puritanos esta era a melhor caridade, pois beneficia toda a
comunidade, que não sofre de parasitismo e ociosidade. A base teológica desse
individualismo era o sacerdócio de todos os crentes. Todos deveriam ser
tratados iguais. Eles entendiam que ninguém deveria firmar-se em seu nascimento
ilustre, ou gloriar-se em seu parentesco pela nobreza e pelo bom sangue, mas,
que em Cristo, o mais pobre lavrador era igual ao maior príncipe. Eles
desafiaram o privilégio baseado em posição ou em nascimento e encorajaram um
espírito de igualdade. A ação social puritana era principalmente voluntária e
pessoal em vez de governamental ou institucional.
O conteúdo deste livro é de extrema
relevância para aqueles que estão interessados em aprender sobre a teologia
reformada. Muitos daqueles que afirmam ser reformados hoje, vivem de forma
contrária a tradição reformada, e por consequência, acabam tendo a mesma má
compreensão do modo como os puritanos viveram, desprezando a supremacia da
Palavra de Deus como única regra de fé e prática em todas as áreas de nossas
vidas. Este livro é altamente recomendado para pastores que desejam
aperfeiçoarem seus sermões com excelentes aplicações, para os pais que desejam
educar seus filhos numa educação cristã, para os cristãos em geral que desejam
glorificar a Deus em seus trabalhos crendo que não existe a disjunção entre o
sagrado e o secular, pois todas as atividades devem ser santificadas, ou seja,
feitas para glória de Deus.
O autor deixa claro que não teve espaço
para “construir pontes” entre a visão puritana e a nossa própria situação,
creio que seria de grande importância para nós estas análises entre o
puritanismo do século XVI e XVII e os cristãos reformados do século XX e XI,
porém, o autor afirma que este livro permanece como um guia para os cristão de
hoje, que ao lerem este livro devem permitir que os puritanos tornem-se uma
lente através da qual eles possam ver o que significa viver de modo cristão em
nossos dias. Fica evidente o distanciamento que temos deles com relação a Deus,
sua Palavra e do modo como vivemos hoje, quando olhamos para o modo de vida
destes gigantes da fé.
Destaco a humildade do autor, mesmo tendo
grande afinidade sobre o modo de viver dos puritanos, incluiu em sua obra um
capítulo inteiro com propósito positivo de nos ensinar o que evitar com os
erros deles.
Creio que o mais importante nesta obra foi
a perspectiva que o autor nos mostrou do modo de viver dos puritanos que visava
a glória de Deus em cada área da vida.
REFERENCIAL TEÓRICO:
RYKEN, Leland. Santos no Mundo: Os Puritanos como realmente
eram. 2. ed. São José dos Campos: Fiel, 2013.