Jamais devemos idealizar nosso ambiente de
trabalho, família ou igreja sem conflitos, pelo contrário, eles são
inevitáveis, portanto devemos esperar por eles.
“Somos
pecadores caídos que vivem ao lado de pecadores caídos em um mundo caído”
(Robert D. Jones – Em Busca da Paz).
É muito comum pensarmos em desistir de algo por
causa dos conflitos, mas quando compreendemos sua inevitabilidade, somos
encorajados a perseverar sempre que um conflito nos induz a desistir de algo,
principalmente de um relacionamento. Muitas pessoas depois que se casam, diante
dos conflitos, chegam a se perguntar se deveriam mesmo ter se casado. Elas
começam a pensar que a ideia de casamento foi um erro. Porém, precisamos ter
convicção de que por mais grave seja o conflito, ele não é prova suficiente de que
nossas escolhas foram erradas, embora nossas decisões possam ter sido tomadas
com insensatez e imaturidade.
O fato é que até o primeiro casamento da humanidade,
realizado pelo próprio Deus, foi marcado pelo pecado. Portanto, somos
encorajados a lutar pela resolução dos conflitos dentro do casamento.
Também não devemos nos surpreender quando os
conflitos marcam relacionamentos entre pais e filhos. Muitos pais ficam
decepcionados com o comportamento rebelde de seus filhos.
“Os pais
certamente podem evitar muito sofrimento desnecessário na criação de seus
filhos quando, de maneira natural (ao invés de ficaram falsamente chocados a
respeito), esperam que seus filhos façam coisas erradas em casa, na escola e em
público” (Jay Adams).
“A
insensatez está ligada ao coração da criança” (Pv 22:15)
No trabalho é a mesma coisa. Deus concedeu ao
homem o senhorio sobre toda sua criação, ele deu ao homem o papel de vice-gerente
de Deus. Com a rebeldia, o trabalho, outrora ligado ao prazer e à alegria
adoradora em cumprir o propósito de Deus, agora envolveria “fadiga e dor”, e a
benção sobre a família foi ofuscada pela maldição do parto doloroso. Inimizade
foi colocada entre marido e mulher, e a guerra entre Satanás e o Filho da
semente da mulher (Michael S. Horton – O Cristão e a Cultura; Gn 3:15-19).
Sobre as dores de parto também podemos interpretar todo o processo de educação
de filhos.
Mesmo que tenhamos que esperar por eles, os conflitos devem ser evitados
a todo custo.
O conflito é uma diferença de opinião ou propósito que frustra as metas
ou os desejos de alguém. Antes do pecado ele não existia, mas quando Cristo
voltar, não teremos mais divergências de opiniões. É possível começarmos a
viver em paz aqui na terra em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos
pela fé evangélica (Fl 1:27), preservando a unidade do Espírito no vínculo da
paz, crendo que há um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por
meio de todos e está em todos (Ef 4:4-6).
Conflitos não se corrigem sozinhos. Não
podemos deixar de tratar o que pode ser tratado hoje. O tempo não é o melhor
remédio. Ninguém passa por cima de insultos e ofensas, pelo contrário,
conflitos não resolvidos, da mesma maneira que uma ferida, criam uma casca. Podem
ficar ocultos por um tempo, mas acabam voltando à tona, e alguma vezes, com
fúria, rancor ou frieza ainda maiores.
Conflitos desagradam a Deus. Eles surgem de
corações egocêntricos, envolvem palavras e ações que machucam, afastam e separam
as pessoas. Eles transgridem o ensino bíblico sobre o amor. Deus nos chama a
resolver nossos conflitos de forma ativa, diligente e imediata (Robert D.
Jones). Como já vimos acima, os conflitos não se corrigem sozinhos.
Os conflitos por mais difícil que sejam, são oportunidades
de glorificar ou agradar a Deus, portanto devemos aproveitá-los. Os conflitos
interpessoais podem ser chamados de “provações” que podem nos ajudar a parecer
mais com Jesus. As dificuldades e sofrimentos tornam-se em oportunidades para
Deus por em prática seu plano para moldar nossas vidas.
“Meus
irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações,
sabendo que a provação da vossa fé, uma fez confirmada, produz perseverança.
Ora a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e
íntegros, em nada deficientes” (Tg 1:2-4).
É nos conflitos interpessoais que muitas vezes
enxergamos claramente nosso pecado exposto, e quando nos sentimos irritados
pelos maus-tratos recebidos de outras pessoas temos a oportunidade de buscar
mais a Deus que perdoa os pecados. Deus é o nosso refúgio e fortaleza, auxílio
sempre presente da adversidade (Sl 46:1).
Nosso ponto de partida deve ser sempre o de
agradar a Deus. Mas, a mensagem que tem sido pregada através de filmes como os
da Marvel, são que os conflitos de caráter interpessoal e substantivo são
legítimos não porque os heróis lutam por uma paz salvadora com o Deus da paz,
mas porque lutam para defender suas ideologias, aquilo que pensam ser o correto,
ou seja, o ponto de partida deles não é de um coração que busca agradar a Deus,
mas a si mesmo, um coração egocêntrico.
“Façam
todo o possível para viver em paz com todos” (Rm 12:18 – NVI)
Não estão dispostos a ensinar sobre o perdão,
mas vingar-se de tudo e de todos, inclusive de seus próprios colegas e amigos
de trabalho. O fato é que quando pedimos perdão a outra pessoa que ofendemos,
estamos aproveitando uma situação de conflito para nos parecer mais com Cristo.
“Se
alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que
não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amara a Deus, aquém não vê” (1 Jo
4:20)
Um desejo mesmo sendo bom e agradável aos olhos do Senhor pode se tornar um pequeno ídolo para mim,
quando começo a pensar que não é apenas algo que eu quero, mas algo que julgo
que tenho que ter! Desejos excessivos e desordenados acabam nos controlando.
Não são apenas coisas más, como drogas ilícitas ou dinheiro roubado que causam
conflitos, mas também coisas boas quando se tornam pequenos ídolos, e controlam
nosso coração. Desejos legítimos que se transformam em exigências dentro de um
casamento por exemplo, terminam em brigas e contendas (Tg 4:1-3).
O autor e conselheiro bíblico Ken Sande mostra como essa dinâmica no coração acontece, ele chama de “A Progressão de um ídolo”:
Eu desejo – Eu exijo – Eu julgo – Eu puno
Embora meu desejo inicial possa ser legítimo, ele se torna pecaminoso quando passa a ser uma exigência. Se um desejo tem consumido intensamente meus pensamentos, tem me levado a pecar para conseguir satisfazê-lo ou tem me levado a pecar quando não consigo satisfazê-lo, ele já deixou de ser algo bom para minha vida, pois tornou-se em um desejo pecaminoso.
Existe uma dinâmica do evangelho de Mateus 5 e 18 que o mundo “desconhece”, mas Cristo nos ordenou para praticarmos. Quando nós ofendemos alguém, nós devemos agir (Mt 5:23-26); quando alguém nos ofende, nós também temos que agir (Mt 18:15,16). Em ambos os casos, Jesus nos chama a dar o primeiro passo em busca da paz com os outros.
Reconhecer nossos erros e lista-los antes de
conversar sobre um conflito com alguém pode ajudar muito a resolvê-lo mais
facilmente. Jesus atribui um peso maior aos seus pecados do que aos pecados da
outra pessoa, visto que ele chama seus pecados de viga ou trave, e os pecados
do outro de cisco.
"Por que
você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga
que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me
tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro
a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do
seu irmão” (Mateus 7:3-5)
Mesmo que os pecados do outro sejam na verdade bem
mais graves, nossos pecados são vigas e do outro são ciscos. Devemos dar maior
peso às nossas ofensas, considerando-as como maiores (vigas) e as dos outros
como menores (ciscos).
Para terminar, evite se,
mas ou talvez quando confessar seus pecados a Deus ou quando for pedir
perdão para alguém.
A verdadeira confissão não permite
dúvida nem indefinição. Dizer: “Sinto
muito se o magoei” é o mesmo que
dizer que não sei qual foi meu erro com a outra pessoa, e é bem provável que
volte a fazer. Dizer: “Sinto muito por
ter feito isso, mas se você tivesse
agido de outra forma...” é o mesmo que eu dissesse que a responsabilidade
do conflito não foi minha, mas do outro. O pecado foi culpa dele e não minha. A
inserção de um “mas” nega
virtualmente a confissão. Os pedidos de desculpas com “mas” transferem a culpa e declaram que nossos erros não são
plenamente nossa culpa.
Devemos ser específicos por admitir nossos
erros. Uma confissão específica revela não apensa consideração, sinceridade e
pesar, mas também estabelece um plano específico para mudança (Robert D.
Jones).
O resultado pertence a Deus. Podemos não
conseguir alcançar a paz, não temos garantia que a outra pessoa irá seguir o
plano para resolução de conflitos com Deus. Depois de tentar tudo e nada der
certo para restaurar aquele relacionamento quebrado, sinta-se convicto de que
você é um servo aprovado por Deus e teve sua fé aperfeiçoada. O mais importante
é sabermos que vivemos para agradar a Deus e não aos homens, e poder ouvir
dele: “Muito bem, servo bom e fiel”
(Mt 25:21)
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