quinta-feira, 8 de março de 2018

Ter ou não ter filhos: analisando questões como aborto, contracepção, infertilidade e adoção - (Parte 3)


Concluímos no artigo anterior que o uso da contracepção é moralmente permissível em termos gerais, porém, isso não quer dizer que todas as formas de controle de natalidade são moralmente aceitáveis, e é sobre isso que iremos falar neste artigo. O movimento contemporâneo de Controle de Natalidade foi iniciado por uma mulher chamada Margaret Sanger, que defendia o direito ao aborto com base na eugenia, a procura de “bons genes”, baseada em noções racistas e evolutivas do “Darwinismo social”, predominante nos dias dela (MOORE, 2013, p.113).
Quais formas de controle de natalidade são moralmente aceitáveis? A reposta resumida é: apenas aquelas que são de natureza contraceptiva, ou seja, que impedem somente a contracepção. As formas que são aceitáveis incluem métodos naturais como a abstinência (a única opção biblicamente legítima para aqueles que não são casados) e o método rítmico ou tabelinha (e suas variações como a identificação dos ciclos de temperatura corporal ou cálculo dos períodos de ovulação e fertilidade). Outros métodos que procuram a contracepção são os “métodos de barreira” como o diafragma, o capuz cervical, camisinhas e espermicidas na forma de espumas, cremes, esponjas ou cápsulas vaginais (KOSTENBERGER; JONES, 2011, p.132).
Quais as formas inaceitáveis de controle de natalidade? Esses métodos são aqueles que induzem ao aborto. O dispositivo intrauterino ou “DIU” é um método inaceitável, pois sua função principal é criar um ambiente instável para o óvulo fertilizado não se fixar na parede do útero ao reduzir o revestimento endometrial e o tornar incapaz de sustentar a vida da criança. A droga RU-486, a “pílula abortiva” ou “pílula do dia seguinte” também é moralmente inaceitável, uma vez que sua principal função é evitar a fixação do novo feto na parede uterina. A droga atua de modo a impedir de forma direta e estabelecimento e continuidade da gestação ao bloquear a secreção natural de progesterona, um hormônio essencial que prepara o útero para receber o óvulo fertilizado e a ajuda a manter a gravidez uma vez que ela ocorre (KOSTENBERGER; JONES, 2011, p.132-133).
Quais são os métodos que exigem menção especial e cuidado adicional? A esterilização é um meio de contracepção que utiliza um procedimento cirúrgico para por fim à fertilidade da pessoa. No caso dos homens, a vasectomia bloqueia o duto deferente (duto ejaculatório), e desse modo, evita que o sêmen deixe o corpo durante a ejaculação. No caso das mulheres, a laqueadura é o procedimento que bloqueia as trompas de Falópio para evitar que o sêmen entre em contato com os óvulos e ocorra a fertilização. Esses métodos exigem um cuidado adicional pelo fato de estarmos removendo uma parte do copo (Lv 21:20; Dt 23:1), e podemos perguntar se temos, em algum momento, esse direito por uma simples questão de conveniência, e se esse modo é um modo apropriado de tratar o “templo do Espírito Santo” (1 Co 6:19). O Antigo Testamento e o Novo Testamento indicam que o corpo deve ser tratado com cuidado, honra e respeito. Estes métodos acima precisam se analisados pelo cristão, pois é essencial que o casal sonde honestamente o coração e as motivações durante o processo de tomar essa decisão e certificar-se de que as considerações pragmáticas e desejos pessoais não sobrepujam os princípios bíblicos ou moldem de forma indevida aquilo que lhes parece ser a direção do Espírito Santo. Outros métodos que exiges cuidado adicional são os contraceptivos químico hormonais: contraceptivos combinados e contraceptivos exclusivamente de progesterona. São os anticoncepcionais oral e injetável. O maior problema moral desses métodos são quando o primeiro e o segundo mecanismo de ação falham (evitar a ovulação e, por meio do acúmulo de muco, evitar a fertilização) e ocorre a fertilização do óvulo. Nesse momento, os métodos deixam de ser de natureza contraceptiva e se tornam abortivos.
Uma fé genuína protege a vida. Todos os cristãos são chamados a proteger as crianças. As autoridades também têm esse dever (Rm13:1-5), razão pela qual deveríamos trabalhar para declarar ilegal o aborto. A proteção de crianças não é caridade, trata-se de uma batalha espiritual (Lv 20:1-8), e quem “fechar os olhos para não ver” quando um bebê estiver prestes a ser sacrificado tendo a oportunidade de salvá-lo, também será culpado (Lv 20:4-5).

REFERENCIAL TEÓRICO

KOSTENBERGER, Andreas J; JONES, David W. Deus, casamento e família: reconstruindo o fundamento bíblico. São Paulo: Vida Nova, 2011.

MORRE, Russel D. Adoção: Sua extrema prioridade para famílias e igrejas cristãs. Brasília: Monergismo, 2013.

quarta-feira, 7 de março de 2018

O Voluntário sabe qual é sua vocação em Deus


“Não há obra, por mais humilde e humilhante que seja, que não brilhe diante de Deus e que não lhe seja preciosa, contanto que a realizemos no serviço e cumprimento da nossa vocação” (João Calvino; As Institutas. Vol. IV, p.225).

“A Escritura usa esta palavra VOCAÇÃO para mostrar que uma forma de viver não pode ser boa nem aprovada, a não ser que Deus seja o seu autor. E esta palavra VOCAÇÃO também quer dizer ‘chamado’; e este ‘chamado’ implica que Deus faça sinal com o dedo e diga a cada um: quero que vivas assim ou assim” (O Pensamento Econômico e Social de João Calvino, p.492).

Deus usa muitas pessoas com diferentes dons e aptidões para realizar sua obra neste mundo. Cada pessoa é importante e cada tarefa é relevante. Quando Neemias voltou para Jerusalém para reconstruir a cidade que havia sido destruída pelos babilônios como disciplina de Deus sobre seu povo, sabia que a nação de Israel não poderia ser forte a menos que o povo se dispusesse a fazer certos sacrifícios. A cidade estava com poucas pessoas e ainda não havia sido totalmente edificada (Ne 7:4). Jerusalém precisava de pessoas para protegê-la e edificá-la. É possível que a maioria das pessoas se sentissem mais seguras vivendo em vilarejos afastados por não apresentar ameaça alguma a sociedade gentia, por isso preferiram não correr o risco de se mudar para lá. Não fazia sentido reconstruir uma cidade sem planejar viver nela, por isso Neemias convocou pessoas para irem morar em Jerusalém. De cada dez pessoas, uma deveria mudar para Jerusalém, mas algumas pessoas apresentaram-se como voluntários, e esses foram benditos pelo povo (Ne 11:1,2).

Neemias demonstrou apreciação por estas pessoas que ajudaram no trabalho. O texto diz que eram homem valentes, guerreiros corajosos (Ne 11:6,14). Estas pessoas escolheram permanecer como o povo de Deus, ainda que talvez pudessem viver com mais segurança e conforto em algum outro lugar.

Débora, a profetisa, louvou a Deus pelos voluntários que se dispuseram a lutar arriscando suas vidas (Jz 5:2,9). Seis tribos uniram-se para enviar voluntários: Naftali, Zebulom, Issacar, Benjamim, Efraim e a parte ocidental de Manassés (Maquir) (Jz 5:12-18). Estes homens não estavam brincando de soldado, pelo contrário, eram guerreiros valentes que levavam a sério os combates do Senhor. Houve quatro tribos que não se ofereceram para lutar e para fazer sua parte nessa guerra. A tribo de Rúben ficou em casa, a parte oriental de Manassés (Gileade) estava bem segura do outro lado do rio do Jordão e não foi guerrear (Jz 5:17). Dã e Aser, perto do litoral, também decidiram não responder ao chamado para lutar. Ao contrário desses irresponsáveis e covardes, as tribos de Zebulom e de Naftali receberam louvores por seus homens terem arriscado a vida a serviço do Senhor e de sua pátria (Jz 5:18).

O povo de Deus hoje não é muito diferente do povo de Israel daquele tempo. Enquanto muitos arriscam suas vidas como voluntários, cumprindo sua vocação e seu chamado, outros ficam em seu canto, como se nunca houvessem sido chamados. Alguns refletem seriamente, mas dizem não. Bendito são aqueles que se oferecem voluntariamente e seguem ao Senhor, pois o voluntário sabe qual é sua vocação em Deus.

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