sexta-feira, 11 de julho de 2025

Por que gostamos tanto de histórias? E por que elas são importantes?

Deus nos criou como seres narrativos. Somos a imagem e semelhança do Deus que está escrevendo a história do mundo (Gn 1:27-28). Somos representantes de Deus no cuidado da criação e temos responsabilidades morais diante dele.

Somos seres criativos que criam e consomem histórias, e isso é bom! Quem não gosta de uma boa história de ficção, das histórias contadas em músicas, filmes, livros etc.?   

Entretanto, nossa imagem foi quebrada pelo pecado (Gn 3). O homem caído ao criar e consumir histórias, o fará em submissão ou em oposição a Deus em alguma medida. Os contos de fada irão refletir ou o amor por Deus ou a rebelião contra ele. 

Há histórias que nos definem enquanto indivíduos. Há histórias formativas sobre quem somos e para onde vamos. Histórias são formadas por cosmovisão. As histórias nos ajudam a enxergar a realidade de acordo com a nossa identidade compartilhada. 

As histórias bíblicas retratam a humanidade com ela é, sem ufanismo. Os personagens bíblicos são retratados como gente normal e pecadora que serve de espelho para nossa vida, para entendermos melhor nossa história. 

O homem caído vive em fuga da realidade, o que leva a tentar falsificar explicações para ela. Paulo fala que o homem natural (Rm 1:18-32) sabe algo sobre o Deus verdadeiro por meio das coisas criadas, mas foge disso. 

O homem natural busca falsas histórias para tentar explicar o mundo, em vez de recorrer ao Deus verdadeiro. Ele adora a criatura no lugar do Criador. Ele abandona a verdade de Deus por mentiras. 

O homem se agarra a algo que explique quem ele é. Por isso muitos se agarram a falsas histórias que lhe tocam o coração, substituindo o Criador pela criatura. 

As Escrituras se concentram na história da redenção. A Bíblia convida cada um a olhar no espelho, a fim de enxergar tanto a realidade da própria feiura moral quanto a esperança da redenção em Cristo. 

Somos parte de uma história que Deus está narrando e precisamos que as palavras do narrador nos ajudem a fazer sentido quanto ao que somos e vivemos. Somos personagens do que Deus está fazendo. Nós não só podemos como devemos utilizar do poder das histórias (ficções, filmes, músicas, livros) para transformar corações. 

 

REFERENCIAL TEÓRICO 

GAROFALO, Emílio. Pregações e histórias: o poder das histórias bíblicas. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2025.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Fatores estruturais e psicológicos que estão impactando negativamente os meninos

Em países desenvolvidos, o trabalho fabril está sendo realizado cada vez mais por robôs e sendo transferido para países menos desenvolvidos. Essas mudanças estruturais e econômicas desvalorizaram a força física, o que afeta diretamente os homens.

O que a economia exige agora é um conjunto completamente diferente de habilidades: capacidade de parar e de se concentrar, comunicação aberta, saber ouvir e operar em um ambiente mais fluido. Nesse quesito as mulheres se saem extremamente bem. 

Outros dois fatores psicológicos que também impactaram mais os meninos foram: 

  1. A superproteção dos pais, iniciada nos anos 1980 e 1990 quando o brincar livre com brincadeiras arriscadas começou a ser encurtado, muito supervisionado e levado para dentro de casa.
  2. A adoção dos jogos on-line no fim dos anos 2000 e a chegada do smartphone no início dos anos 2010 afastaram os meninos da interação presencial.

 Essas mudanças de estrutura têm tornado os meninos mais frágeis, temerosos e avessos ao risco. Os índices de depressão, ansiedade, automutilação e suicídio entre meninos americanos começaram a aumentar no início dos anos 2000, o que não deve ser muito diferente em nosso país. 

Os americanos costumam utilizar um termo chamado: síndrome de Peter Pan para descrever uma pessoa que não atende às expectativas, não encontra emprego e que acaba voltando para a casa dos pais. 

Estes são conhecidos como “nem-nem”, ou seja, nem trabalham nem estudam. Trata-se de jovens economicamente inativos. 

Como vimos no artigo anterior, passamos por uma transição de uma “infância baseada no brincar” (até anos 1980) para uma “infância baseada no celular” (início dos anos 2010). Com isso houve uma ascensão do medo e da superproteção dos pais.  

Crianças precisam brincar com brincadeiras físicas arriscadas. Essa infância envolve mais hematomas e ossos quebrados. Mas, em um mundo com muita supervisão adulta e poucos riscos o impacto negativo é maior sobre os meninos. 

Os meninos sempre apresentavam índices maiores de transtornos externalizantes que são problemas comportamentais de alto risco, como dirigir embriagado etc. Mas, por volta dos anos 2010, os meninos começaram apresentar o mesmo padrão de transtornos internalizantes como depressão e ansiedade tradicionalmente associados às mulheres. 

Uma das características marcantes da geração Z é que ela consome menos álcool, envolve-se em menos acidentes de carro, leva menos multas por excesso de velocidade. Há menos ocorrência de brigas física ou gravidez indesejada. 

Mesmo que tudo isso seja positivo, essas mudanças não ocorreram porque a geração Z é mais sábia que as outras, mas porque está correndo menos riscos em geral por ser impactada pelo mundo virtual e a superproteção dos pais do mundo real. 

O mundo virtual faz com que estes jovens tenham cada vez menos oportunidades de exercer sua agência, de aprofundar amizades por meio do brincar com risco e de buscar aventuras sem supervisão em um mundo real cada vez mais superprotetor. 

As duas principais áreas onde os meninos encontraram satisfação de agência e comunhão sem os riscos do mundo real para o mundo virtual foram: pornografia e jogos on-line. 

A internet é perfeita para a distribuição de imagens pornográficas. O consumo de pornografia pesada pode levar os meninos a escolherem a satisfação sexual mais fácil em vez de se arriscar no mundo real. 

Homens viciados em pornografia podem considerar mulheres reais menos atraentes, incluindo seus cônjuges. Estes têm maiores chances de evitar relações sexuais com as próprias parceiras. 

Este estilo de vida virtual faz com que os homens tenham medo de se arriscar e se aproximar de uma mulher no mundo real ou chamá-la para sair. Este seria o tipo de risco saudável que os jovens deveriam correr. 

Com relação aos jogos on-line, muitos jovens colocam o jogo em primeiro lugar, afastam-se da família e dos amigos e usam o jogo como uma fuga psicológica. Um em cada treze meninos sofre um prejuízo substancial no mundo real (escola, trabalho, relacionamentos) em decorrência de seu envolvimento assíduo com jogos on-line. 

Outro prejuízo associado aos jogos on-line é a imposição de um alto custo de oportunidade por causa da quantidade de tempo envolvida. Esses jogadores assíduos perdem muito tempo no que se refere ao sono, atividade física e interações sociais presenciais com amigos e familiares. 

O sociólogo francês Émile Durkeheim, em 1897 escreveu um livro sobre as causas sociais do suicídio. Com base nos dados disponibilizados da época, ele notou que quanto maior a ligação de uma pessoa com uma comunidade com autoridade moral para restringir seus desejos, menores suas chances de se matar. 

O concento de anomia social significa a ausência de normas e regras estável e amplamente compartilhadas. Quando a ordem social se enfraquece, as pessoas não se sentem livres, mas perdidas e ociosas. A vida muitas vezes parece sem sentido. 

A geração Z é a geração menos capaz que qualquer outra de fincar raízes em comunidades do mundo real. Possuem acesso ilimitado a tudo e em múltiplas redes de contatos com conhecidos e desconhecidos, alguns usando codinomes ou avatares, alguns desaparecem dentro de um ano ou mesmo em um dia etc. 

Essa geração não possui um conjunto claro de normas que os restrinjam e guiem no caminho para a vida adulta. E é muito mais difícil construir uma vida com propósito vivendo isolado e perdido em meio as inúmeras redes de contados descorporificados.


CONCLUSÃO 

O isolamento social é uma falha em nossa coragem de agir e amar (comunhão). Quando preferimos o isolamento a comunhão com as pessoas nossa tendência é a satisfação dos desejos desenfreados (pornografia). Cuidado, a pornografia ensina que o sexo não se trata de amor mútuo, de cuidado e de comprometimento, pois vive além das regras da ética e da moral. 

Os jogos e a diversão funcionam como pequenas pausas na vida habitual onde a tensão é quebrada e o clima se alivia. Jogos e brincadeiras são saudáveis, desde que utilizadas de forma equilibrada e tempo limitado, com estruturas e regras visando a comunhão. 

 

REFERENCIAL TEÓRICO 

HAIDT, Jonathan. A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Por que as redes sociais têm um impacto negativo maior nas meninas que nos meninos?

Vimos no artigo anterior que no começo da década de 2010 houve um declínio da saúde mental em muitos países, indicado por um aumento acentuado nos índices de ansiedadedepressão e automutilação em pré-adolescentes e adolescentes, com maior impacto nas meninas. 

Passamos por uma transição de uma “infância baseada no brincar” (até anos 1980) para uma “infância baseada no celular” (a partir dos anos 2010). Com isso houve uma ascensão do medo e da superproteção dos pais.  

Com a transição dos celulares básicos para smartphones no início de 2010 intensificou e diversificou as atividades digitais de modo a acentuar quatro prejuízos fundamentais da nova infância baseada no celular: privação social, privação do sono, atenção fragmentada e vício. 

Mas, por que as redes sociais têm um impacto negativo maior nas meninas que nos meninos? O psicólogo social Jonathan Haidt apresenta quatro razões para maior vulnerabilidade das meninas: 

  1. Comparação social visual e perfeccionismo
  2. A agressão das meninas é mais relacional
  3. Meninas dividem mais suas emoções e dificuldades
  4. Meninas estão mais sujeitas a predadores e assédio 

1. COMPARAÇÃO SOCIAL VISUAL E PERFECCIONISMO 

Adolescentes são especialmente vulneráveis à insegurança. Quase todos se importam com a aparência. Para as meninas o risco é mais alto, porque, mais do que nos meninos, sua posição social costuma estar ligada a beleza. 

Quando entram nas redes sociais, elas ficam sujeitas a julgamentos severos e constantes de sua aparência e seu corpo. Elas são confrontadas por padrões de beleza inatingíveis. Há filtros de aplicativos, conforme figura abaixo, que aprimoram a beleza virtual, basta apertar um botão e se transforma em uma beldade cada vez menos realista das redes sociais.

 

Foto editada de grupo de pessoas posando para foto

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Fonte: @josephinelivin no Instagram

O perfeccionismo socialmente prescrito é aquele que faz a pessoa sentir que precisa atender às elevadíssimas expectativas estabelecidas por outra pessoa ou pela sociedade. E isso em uma relação próxima com a ansiedade, pois pessoas perfeccionistas sempre temem a vergonha do fracasso público. 

2. A AGRESSÃO DAS MENINAS É MAIS RELACIONAL 

Tradicionalmente os meninos negociam seu status social superior ou inferior em parte, com base em quem será mais capaz de dominar uma briga. Com as meninas, a maneira real de machucá-las é atingir seus relacionamentos, como espalhar boatos, fazendo as amigas se voltarem contra elas diminuindo seu valor etc. 

Se uma menina sente que está perdendo seu valor, a ansiedade dispara. Se a queda do seu sociômetro for significativa, ela pode entrar em depressão e pensar em suicídio. Para adolescentes deprimidas a morte social é o inferno na terra e a morte física, o fim da dor. 

3. MENINAS DIVIDEM MAIS SUAS EMOÇÕES E DIFICULDADES 

Quando os homens se encontram, em geral é para fazer alguma coisa, e não para conversar sobre como se sentem. As mulheres são mais emocionalmente expressivas que os homens. 

As emoções positivas (alegria) e negativas (tristeza) podem se alternar em uma comunidade ao longo do tempo. Estudos apontam que emoções negativas tendem a se espalhar com intensidade maior pelas redes de relações do que as positivas. 

A depressão e a ansiedade são mais contagiantes que uma boa saúde mental (felicidade) e como as meninas têm maior probabilidade de falar sobre seus sentimentos com suas amigas que os meninos, elas acabam sendo mais atingidas em uma epidemia “sociogênica” (gerada por forças sociais). 

4. MENINAS ESTÃO MAIS SUJEITAS A PREDADORES E ASSÉDIO 

Predadores sexuais são uma ameaça muito maior na internet para as meninas que para os meninos. Em muitas regiões do mundo, homens mais velhos se utilizam de aplicativos de relacionamentos para encontrar suas prezas. 

Geralmente as meninas querem ter o maior número de amigos, seguidores e curtidas. Muitas delas publicam fotos de si mesmas de biquini que seus seguidores podem ver. O que facilita a vida de predadores mais velhos. 

Em algumas escolas os meninos tentam persuadir as meninas a enviar nudes para eles. Quando as meninas enviam nudes, os efeitos podem ser devastadores, e muitas vezes é assim que começa o cyberbulling. 

Fotos de seu corpo nu se tornam moeda de troca para meninos em busca de prestígio social, e é o constrangimento delas que paga o pato. 

 

CONCLUSÃO 

Este artigo não tem a pretensão de propor algum tipo de regulação das redes sociais. Mas, de orientar e deixar um alerta para pais dedicados sobre o que está acontecendo no coração de seus filhos no ambiente virtual. 

As plataformas sociais estão apenas trazendo para fora aquilo que está no coração (Pv 4:23; Pv 22:15;) e oferecendo um contexto em que o coração ativo e obstinado se revela e se expressa (Tg 1:2,14; Pv 29:25). Não devemos ser negligentes com esse assunto, pois o problema é real, e as redes sociais não deveriam substituir relacionamentos reais. 

 

REFERENCIAL TEÓRICO  

HAIDT, Jonathan. A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.

Por que gostamos tanto de histórias? E por que elas são importantes?

Deus nos criou como seres narrativos. Somos a imagem e semelhança do Deus que está escrevendo a história do mundo (Gn 1:27-28). Somos repres...