terça-feira, 2 de setembro de 2025

“No lugar do juízo reinava a maldade” (Ec 3:16)

Nenhum sistema judiciário é perfeito. A justiça humana nunca é plenamente imparcial. Culpados escapam com penas leves, sejam assassinos, corruptos, bandidos, sequestradores, enquanto há casos de inocentes indo para cadeia.

Governos oprimem, pais oprimem, professores oprimem, bandidos oprimem. E os oprimidos seguem muitas vezes sem ninguém para enxugar suas lágrimas. Não há consolo, em parte porque não há justiça (Ec 4:1). 

“Deus julgará o justo e o perverso, pois há tempo para todo propósito e para toda obra” (Ec 3:17). Deus não é cego à injustiça e a opressão, ele não é como a estátua da Senhora Justiça com venda nos olhos entalhada em frente ao STF em Brasília. 

A paciência de Deus serve para nos dar tempo para perceber e refletir acerca de quem somos. Se não fosse a sua bondade e misericórdia ele já teria limpado toda a sujeira deste mundo, e todos nós já teríamos sido extinguidos sem chance de salvação. 

Nosso Senhor leva o pecado a sério e a cruz é a nossa esperança. Haverá tempo de justiça. Deus está atento, e toda poeira da corrupção será limpa. 

Se está a seu alcance promover justiça como pai, como líder eclesiástico, como chefe, como parte do sistema judiciário, como policial, então promova (Mq 6:8). Seja sal da terra e luz do mundo.

 

REFERENCIAL TEÓRICO

NETO, Emílio Garofalo. Isto é filtro solar: Eclesiastes e a vida debaixo do sol. Brasília: Monergismo, 2020.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Adoração ao Imperador e a Idolatria do Estado hoje

Cerca de oito anos após a composição (entre 55 e 57 d.C.) da Carta ao Romanos, os cristãos começaram a ser perseguidos pelo imperador Nero. Eles foram considerados “ateus” por adorarem somente a Cristo, ao invés de uma representação humana, ou seja, o imperador.

Os cristãos eram perseguidos, torturados e mortos pelos crimes de lesa-pátria e lesa-majestade. Eles entendiam que somente Jesus Cristo era o único Senhor. A lealdade dos cristãos pertencia e pertence exclusivamente a Deus. 

Os imperadores eram adorados no mundo romano. Exigiam ser reconhecidos como senhor. Eles eram cultuados como se fossem divinos. O imperador era uma espécie de ditador militar que comandava todas as legiões romanas, unidades militares espalhadas por todo império. 

O Estado liderado por partidos de esquerda (comunismo/socialismo) também exige essa lealdade hoje. Na China as igrejas vinculadas ao Movimento Patriótico das Três Autonomias, braço oficial do Cristianismo sancionado pelo Partido Comunista Chinês passaram a ser obrigadas a entoar hinos em louvor ao partido antes da bênção final dos cultos de domingo. 

No contexto da carta de Paulo, especificamente Rm 1:20-23, quem é que adorava homens corruptíveis, imagens de estátuas, imagens de animais símbolos das legiões? Os que serviam os poderosos em Roma e seus símbolos de autoridade. 

Nero era conhecido por seus vícios, por sua petulância, libertinagem, luxo, avareza e crueldade. Registros históricos dizem que ele mantinha relações sexuais incestuosos com sua própria mãe.  Não é exatamente esse tipo de comportamento descrito em Romanos 1:20-32? 

“Por isso, Deus os entregou à impureza sexual, aos desejos do coração deles, para desonrarem o corpo deles entre si” (Rm 1:24). “Tornaram‑se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, cobiça e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia” (Rm 1:29). “Caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal” (Rm 1:30). 

Estes poderosos estavam e ainda estão debaixo da ira santa de Deus (Rm 1:18). Aquele que para os homens, eram divinos, poderosos e alvos de cultos, adoração e temor não são nada perante o Altíssimo. 

Muitas pessoas, mesmo sabendo de toda impiedade, injustiça e degeneração da verdade praticadas por estas líderes, ainda assim aprovam estas coisas condenas por Deus, e serão julgadas por Ele (Rm 1:18,32).


REFERENCIAL TEÓRICO

FERREIRA, Franklin. Contra a Idolatria do Estado: O papel do cristão na Política. São Paulo: Vida Nova, 2016.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Supremacia do Estado disfarçada de Democracia

Em Romanos 13:1 é dito que Deus institui todas as autoridades e que devemos sujeição a elas. Porém, como saber se uma autoridade é legítima, à luz de Romanos 13:1-7? 

Já que Deus estabelece a autoridade, entende-se que essa autoridade tem um poder derivado e limitado.

As autoridades foram instituídas por causa da maldade, como um remédio para o pecado. Sem pecado não teria havido magistrado, tribunal de justiça e nem ordem do Estado. Quem usa muletas quando as pernas estão sadias?

Em Romanos 13:4 Paulo diz que a autoridade é estabelecida como uma espécie de servidor (diáconos) para recompensar aquele que faz o bem e para punir o mal.

Portanto, a autoridade legítima é aquela que recompensa atos bons e pune a maldade, e para isso pagamos impostos (Rm 13:6). Caso contrário, ela perde sua legitimidade. A igreja não somente pode, como deve advertir e exortar o Estado corrupto.

Temos um imenso desafio em nosso país, onde o mal tem sido relativizado e premiado pelo atual governo que persegue até pastor, enquanto milhares de brasileiros morrem por ano por arma de fogo, e ainda somos extorquidos por uma carga brutal de impostos sem retorno.

O papel do Estado não é igualar as pessoas, o que já se provou uma impossibilidade histórica. Seu papel é proteger e recompensar os bons e punir os maus, como ministro de Deus (Rm 13:6).

Onde as autoridades tenham se degenerado em despotismo e abuso de poder a liberdade deve ser defendida e as autoridades refreadas por meios legais. Há limites para o Estado.

A luta pela liberdade é permissível e um dever de cada indivíduo. Um governo que oprimi a liberdade de consciência e censura a liberdade de expressão de seu povo está quebrando a si mesmo e a sua força nacional.

Devemos agradecer a Deus pela instituição do Estado e orar pelas autoridades como meio de preservação legal da maldade, mas, ao mesmo tempo, é preciso sempre vigiar contra o perigo que está escondido no poder do Estado para nossa liberdade pessoal.

 

REFERENCIAL TEÓRICO

FERREIRA, Franklin. Contra a Idolatria do Estado: O papel do cristão na Política. São Paulo: Vida Nova, 2016.

KUYPER; Abraham. Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

“Se queres paz, prepara-te para guerra”

  

A Bíblia nos ensina sobre a nobreza da posição dos magistrados em Romanos 13. Nele é dito que o governo civil é ordenado por Deus (Rm 13:1), e opor-se a ele significa opor-se a Deus (v.2); ele é ministro de Deus para punir o criminoso e valorizar o cumpridor da lei (v.3-4); e a ele devemos obediência, pagando tributos para que haja segurança pública.

Mas em casos de governos que abusam de poder, as autoridades políticas podem e devem se opor a certos tipos de governos corruptos para restaurar a ordem política. A Bíblia autoriza à desobediência civil em casos de conflitos entre as leis de Deus a as leis dos homens (Êx 1:15-21; Js 2; 1Sm 22:17; Dn 3, 6; At 4:18-20; 5:27-29. 40-42). Por isso protestos públicos e pacíficos não são contrários a moral cristã. 

No passado, no livro do profeta Habacuque, é registrado que os líderes de Israel não obedeciam a lei de Deus (Hc 1:4). A pior coisa que uma pessoa justa poderia fazer naquele momento seria apelar para o tribunal do seu país devido à corrupção dos oficiais.

Então Deus diz para o profeta olhar para o cenário internacional (Hc 1:5), pois o juízo de Deus viria sobre eles de fora, pela Babilônia. O opressor receberia da mão de Deus a justa retribuição (Dt 32:35,41).

A guerra por soberania ideológica sempre disfarçada de “democracia”, é uma tentativa de ser Deus, para se obter o controle sobre as pessoas e situações. A esquerda (comunismo, socialismo) não aceita a pluralidade partidária, a alternância de poder ou dissenso. Toda voz discordante do esquerdismo é regulada, barrada, proibida e ridicularizada.

Pergunte para um missionário cristão como é realizado um culto em um país comunista, se é em liberdade ou escondido das autoridades. Pergunte para um venezuelano como é viver em um país socialista, onde um frango inteiro pode custar mais que um salário mínimo.

Em Juízes 13 é descrito que o povo de Israel estava vivendo em opressão nas mãos dos filisteus por 40 anos. O povo de Deus estava vivendo tempos aparentes de paz, mas isso não era verdade, pois era um tempo de opressão, domínio e sujeição forçada a um povo que odeia o Senhor.

Então Deus levantou Sansão. Mesmo ele sendo um homem imperfeito e cheio de falhas, ele era o caminho que Deus estava provendo para livrar seu povo. Deus colocou inimizade entre seu povo e os filisteus para libertá-los, levando-os para uma verdadeira paz, mas para isso seria necessário fazer uma guerra. “Se queres paz, prepara-te para guerra”.

É mais fácil ceder em nossas crenças para sermos amados pelo mundo e podermos viver uma suposta paz, mas estar debaixo do domínio do mundo pagão não é paz, e sim prisão.

Infelizmente, muitos cristãos passam a evitar situações conflituosas para terem a aprovação da cultura onde vivem. O sangue dos nossos irmãos que sangraram no coliseu, nas catacumbas, nas prisões, nas selvas, nas ilhas, nas cidades exige que não nos conformemos.

O sangue do nosso Rei garante que a luta nunca será vã. “Glória, Glória Aleluia. Sua verdade está marchando” (The Battle Hymn Of The Republic).

terça-feira, 29 de julho de 2025

O conhecimento deve ser contrabalançado pelo amor - (1Co 8:1)

O conhecimento pode ser uma arma para destruir ou uma ferramenta para edificar. Há igrejas que possuem muito conhecimento doutrinário, mas pouco conhecimento de Deus.

É possível crescer em conhecimento bíblico e não crescer no relacionamento pessoal com Deus e com as pessoas. A prova disso é o amor. 

O amor e o conhecimento devem andar juntos (Ef 4:15). “A verdade sem amor é brutalidade, mas o amor sem verdade é hipocrisia”. 

Os coríntios tinham conhecimento, mas não usavam em amor (1Co 8:1). Em vez de edificar os irmãos, eles se tornavam cada vez mais orgulhosos. 

O texto de 1Co 13 é uma repreensão clara de Paulo aos coríntios que estavam falhando em se conduzir em amor, pois eram soberbos e arrogantes em sua maneira de agir. 

O amor bíblico é um termo mais ativo (dever) do que passivo (“aconteceu, não decidi me apaixonar”). É mais um verbo do que um simples sentimento que aceita tudo, conforme definido pela cultura atual. 

É descrito como paciente e bondoso. Nunca se orgulha nem sente inveja. Não é arrogante nem rude; não busca o interesse próprio, nem se ira facilmente. É pronto a perdoar, busca o bem e o que é verdadeiro. Protege, confia, espera e persevera sempre. Nunca falha. 

Não é à toa que vemos tantas igrejas divididas desnecessariamente por causa do legalismo doutrinário: uma atitude arrogante para com aqueles que não cortam o “t” e nem pingam o “i” de maneira tão precisa como ele julga que deveriam fazer em questões teológicas. 

Lembre-se, os coríntios eram culpados de viverem com intrigas, invejas, orgulho, prostituição (2Co 12:20,21) mesmo tendo conhecimento doutrinário.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Por que gostamos tanto de histórias? E por que elas são importantes?

Deus nos criou como seres narrativos. Somos a imagem e semelhança do Deus que está escrevendo a história do mundo (Gn 1:27-28). Somos representantes de Deus no cuidado da criação e temos responsabilidades morais diante dele.

Somos seres criativos que criam e consomem histórias, e isso é bom! Quem não gosta de uma boa história de ficção, das histórias contadas em músicas, filmes, livros etc.?   

Entretanto, nossa imagem foi quebrada pelo pecado (Gn 3). O homem caído ao criar e consumir histórias, o fará em submissão ou em oposição a Deus em alguma medida. Os contos de fada irão refletir ou o amor por Deus ou a rebelião contra ele. 

Há histórias que nos definem enquanto indivíduos. Há histórias formativas sobre quem somos e para onde vamos. Histórias são formadas por cosmovisão. As histórias nos ajudam a enxergar a realidade de acordo com a nossa identidade compartilhada. 

As histórias bíblicas retratam a humanidade com ela é, sem ufanismo. Os personagens bíblicos são retratados como gente normal e pecadora que serve de espelho para nossa vida, para entendermos melhor nossa história. 

O homem caído vive em fuga da realidade, o que leva a tentar falsificar explicações para ela. Paulo fala que o homem natural (Rm 1:18-32) sabe algo sobre o Deus verdadeiro por meio das coisas criadas, mas foge disso. 

O homem natural busca falsas histórias para tentar explicar o mundo, em vez de recorrer ao Deus verdadeiro. Ele adora a criatura no lugar do Criador. Ele abandona a verdade de Deus por mentiras. 

O homem se agarra a algo que explique quem ele é. Por isso muitos se agarram a falsas histórias que lhe tocam o coração, substituindo o Criador pela criatura. 

As Escrituras se concentram na história da redenção. A Bíblia convida cada um a olhar no espelho, a fim de enxergar tanto a realidade da própria feiura moral quanto a esperança da redenção em Cristo. 

Somos parte de uma história que Deus está narrando e precisamos que as palavras do narrador nos ajudem a fazer sentido quanto ao que somos e vivemos. Somos personagens do que Deus está fazendo. Nós não só podemos como devemos utilizar do poder das histórias (ficções, filmes, músicas, livros) para transformar corações. 

 

REFERENCIAL TEÓRICO 

GAROFALO, Emílio. Pregações e histórias: o poder das histórias bíblicas. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2025.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Fatores estruturais e psicológicos que estão impactando negativamente os meninos

Em países desenvolvidos, o trabalho fabril está sendo realizado cada vez mais por robôs e sendo transferido para países menos desenvolvidos. Essas mudanças estruturais e econômicas desvalorizaram a força física, o que afeta diretamente os homens.

O que a economia exige agora é um conjunto completamente diferente de habilidades: capacidade de parar e de se concentrar, comunicação aberta, saber ouvir e operar em um ambiente mais fluido. Nesse quesito as mulheres se saem extremamente bem. 

Outros dois fatores psicológicos que também impactaram mais os meninos foram: 

  1. A superproteção dos pais, iniciada nos anos 1980 e 1990 quando o brincar livre com brincadeiras arriscadas começou a ser encurtado, muito supervisionado e levado para dentro de casa.
  2. A adoção dos jogos on-line no fim dos anos 2000 e a chegada do smartphone no início dos anos 2010 afastaram os meninos da interação presencial.

 Essas mudanças de estrutura têm tornado os meninos mais frágeis, temerosos e avessos ao risco. Os índices de depressão, ansiedade, automutilação e suicídio entre meninos americanos começaram a aumentar no início dos anos 2000, o que não deve ser muito diferente em nosso país. 

Os americanos costumam utilizar um termo chamado: síndrome de Peter Pan para descrever uma pessoa que não atende às expectativas, não encontra emprego e que acaba voltando para a casa dos pais. 

Estes são conhecidos como “nem-nem”, ou seja, nem trabalham nem estudam. Trata-se de jovens economicamente inativos. 

Como vimos no artigo anterior, passamos por uma transição de uma “infância baseada no brincar” (até anos 1980) para uma “infância baseada no celular” (início dos anos 2010). Com isso houve uma ascensão do medo e da superproteção dos pais.  

Crianças precisam brincar com brincadeiras físicas arriscadas. Essa infância envolve mais hematomas e ossos quebrados. Mas, em um mundo com muita supervisão adulta e poucos riscos o impacto negativo é maior sobre os meninos. 

Os meninos sempre apresentavam índices maiores de transtornos externalizantes que são problemas comportamentais de alto risco, como dirigir embriagado etc. Mas, por volta dos anos 2010, os meninos começaram apresentar o mesmo padrão de transtornos internalizantes como depressão e ansiedade tradicionalmente associados às mulheres. 

Uma das características marcantes da geração Z é que ela consome menos álcool, envolve-se em menos acidentes de carro, leva menos multas por excesso de velocidade. Há menos ocorrência de brigas física ou gravidez indesejada. 

Mesmo que tudo isso seja positivo, essas mudanças não ocorreram porque a geração Z é mais sábia que as outras, mas porque está correndo menos riscos em geral por ser impactada pelo mundo virtual e a superproteção dos pais do mundo real. 

O mundo virtual faz com que estes jovens tenham cada vez menos oportunidades de exercer sua agência, de aprofundar amizades por meio do brincar com risco e de buscar aventuras sem supervisão em um mundo real cada vez mais superprotetor. 

As duas principais áreas onde os meninos encontraram satisfação de agência e comunhão sem os riscos do mundo real para o mundo virtual foram: pornografia e jogos on-line. 

A internet é perfeita para a distribuição de imagens pornográficas. O consumo de pornografia pesada pode levar os meninos a escolherem a satisfação sexual mais fácil em vez de se arriscar no mundo real. 

Homens viciados em pornografia podem considerar mulheres reais menos atraentes, incluindo seus cônjuges. Estes têm maiores chances de evitar relações sexuais com as próprias parceiras. 

Este estilo de vida virtual faz com que os homens tenham medo de se arriscar e se aproximar de uma mulher no mundo real ou chamá-la para sair. Este seria o tipo de risco saudável que os jovens deveriam correr. 

Com relação aos jogos on-line, muitos jovens colocam o jogo em primeiro lugar, afastam-se da família e dos amigos e usam o jogo como uma fuga psicológica. Um em cada treze meninos sofre um prejuízo substancial no mundo real (escola, trabalho, relacionamentos) em decorrência de seu envolvimento assíduo com jogos on-line. 

Outro prejuízo associado aos jogos on-line é a imposição de um alto custo de oportunidade por causa da quantidade de tempo envolvida. Esses jogadores assíduos perdem muito tempo no que se refere ao sono, atividade física e interações sociais presenciais com amigos e familiares. 

O sociólogo francês Émile Durkeheim, em 1897 escreveu um livro sobre as causas sociais do suicídio. Com base nos dados disponibilizados da época, ele notou que quanto maior a ligação de uma pessoa com uma comunidade com autoridade moral para restringir seus desejos, menores suas chances de se matar. 

O concento de anomia social significa a ausência de normas e regras estável e amplamente compartilhadas. Quando a ordem social se enfraquece, as pessoas não se sentem livres, mas perdidas e ociosas. A vida muitas vezes parece sem sentido. 

A geração Z é a geração menos capaz que qualquer outra de fincar raízes em comunidades do mundo real. Possuem acesso ilimitado a tudo e em múltiplas redes de contatos com conhecidos e desconhecidos, alguns usando codinomes ou avatares, alguns desaparecem dentro de um ano ou mesmo em um dia etc. 

Essa geração não possui um conjunto claro de normas que os restrinjam e guiem no caminho para a vida adulta. E é muito mais difícil construir uma vida com propósito vivendo isolado e perdido em meio as inúmeras redes de contados descorporificados.


CONCLUSÃO 

O isolamento social é uma falha em nossa coragem de agir e amar (comunhão). Quando preferimos o isolamento a comunhão com as pessoas nossa tendência é a satisfação dos desejos desenfreados (pornografia). Cuidado, a pornografia ensina que o sexo não se trata de amor mútuo, de cuidado e de comprometimento, pois vive além das regras da ética e da moral. 

Os jogos e a diversão funcionam como pequenas pausas na vida habitual onde a tensão é quebrada e o clima se alivia. Jogos e brincadeiras são saudáveis, desde que utilizadas de forma equilibrada e tempo limitado, com estruturas e regras visando a comunhão. 

 

REFERENCIAL TEÓRICO 

HAIDT, Jonathan. A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Por que as redes sociais têm um impacto negativo maior nas meninas que nos meninos?

Vimos no artigo anterior que no começo da década de 2010 houve um declínio da saúde mental em muitos países, indicado por um aumento acentuado nos índices de ansiedadedepressão e automutilação em pré-adolescentes e adolescentes, com maior impacto nas meninas. 

Passamos por uma transição de uma “infância baseada no brincar” (até anos 1980) para uma “infância baseada no celular” (a partir dos anos 2010). Com isso houve uma ascensão do medo e da superproteção dos pais.  

Com a transição dos celulares básicos para smartphones no início de 2010 intensificou e diversificou as atividades digitais de modo a acentuar quatro prejuízos fundamentais da nova infância baseada no celular: privação social, privação do sono, atenção fragmentada e vício. 

Mas, por que as redes sociais têm um impacto negativo maior nas meninas que nos meninos? O psicólogo social Jonathan Haidt apresenta quatro razões para maior vulnerabilidade das meninas: 

  1. Comparação social visual e perfeccionismo
  2. A agressão das meninas é mais relacional
  3. Meninas dividem mais suas emoções e dificuldades
  4. Meninas estão mais sujeitas a predadores e assédio 

1. COMPARAÇÃO SOCIAL VISUAL E PERFECCIONISMO 

Adolescentes são especialmente vulneráveis à insegurança. Quase todos se importam com a aparência. Para as meninas o risco é mais alto, porque, mais do que nos meninos, sua posição social costuma estar ligada a beleza. 

Quando entram nas redes sociais, elas ficam sujeitas a julgamentos severos e constantes de sua aparência e seu corpo. Elas são confrontadas por padrões de beleza inatingíveis. Há filtros de aplicativos, conforme figura abaixo, que aprimoram a beleza virtual, basta apertar um botão e se transforma em uma beldade cada vez menos realista das redes sociais.

 

Foto editada de grupo de pessoas posando para foto

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Fonte: @josephinelivin no Instagram

O perfeccionismo socialmente prescrito é aquele que faz a pessoa sentir que precisa atender às elevadíssimas expectativas estabelecidas por outra pessoa ou pela sociedade. E isso em uma relação próxima com a ansiedade, pois pessoas perfeccionistas sempre temem a vergonha do fracasso público. 

2. A AGRESSÃO DAS MENINAS É MAIS RELACIONAL 

Tradicionalmente os meninos negociam seu status social superior ou inferior em parte, com base em quem será mais capaz de dominar uma briga. Com as meninas, a maneira real de machucá-las é atingir seus relacionamentos, como espalhar boatos, fazendo as amigas se voltarem contra elas diminuindo seu valor etc. 

Se uma menina sente que está perdendo seu valor, a ansiedade dispara. Se a queda do seu sociômetro for significativa, ela pode entrar em depressão e pensar em suicídio. Para adolescentes deprimidas a morte social é o inferno na terra e a morte física, o fim da dor. 

3. MENINAS DIVIDEM MAIS SUAS EMOÇÕES E DIFICULDADES 

Quando os homens se encontram, em geral é para fazer alguma coisa, e não para conversar sobre como se sentem. As mulheres são mais emocionalmente expressivas que os homens. 

As emoções positivas (alegria) e negativas (tristeza) podem se alternar em uma comunidade ao longo do tempo. Estudos apontam que emoções negativas tendem a se espalhar com intensidade maior pelas redes de relações do que as positivas. 

A depressão e a ansiedade são mais contagiantes que uma boa saúde mental (felicidade) e como as meninas têm maior probabilidade de falar sobre seus sentimentos com suas amigas que os meninos, elas acabam sendo mais atingidas em uma epidemia “sociogênica” (gerada por forças sociais). 

4. MENINAS ESTÃO MAIS SUJEITAS A PREDADORES E ASSÉDIO 

Predadores sexuais são uma ameaça muito maior na internet para as meninas que para os meninos. Em muitas regiões do mundo, homens mais velhos se utilizam de aplicativos de relacionamentos para encontrar suas prezas. 

Geralmente as meninas querem ter o maior número de amigos, seguidores e curtidas. Muitas delas publicam fotos de si mesmas de biquini que seus seguidores podem ver. O que facilita a vida de predadores mais velhos. 

Em algumas escolas os meninos tentam persuadir as meninas a enviar nudes para eles. Quando as meninas enviam nudes, os efeitos podem ser devastadores, e muitas vezes é assim que começa o cyberbulling. 

Fotos de seu corpo nu se tornam moeda de troca para meninos em busca de prestígio social, e é o constrangimento delas que paga o pato. 

 

CONCLUSÃO 

Este artigo não tem a pretensão de propor algum tipo de regulação das redes sociais. Mas, de orientar e deixar um alerta para pais dedicados sobre o que está acontecendo no coração de seus filhos no ambiente virtual. 

As plataformas sociais estão apenas trazendo para fora aquilo que está no coração (Pv 4:23; Pv 22:15;) e oferecendo um contexto em que o coração ativo e obstinado se revela e se expressa (Tg 1:2,14; Pv 29:25). Não devemos ser negligentes com esse assunto, pois o problema é real, e as redes sociais não deveriam substituir relacionamentos reais. 

 

REFERENCIAL TEÓRICO  

HAIDT, Jonathan. A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.

“No lugar do juízo reinava a maldade” (Ec 3:16)

Nenhum sistema judiciário é perfeito. A justiça humana nunca é plenamente imparcial. Culpados escapam com penas leves, sejam assassinos, cor...